01/03/2009

...passado...

A 1 de Março de 1996 faleceu, em Lisboa, o escritor Vergílio Ferrreira... Faz este domingo 13 anos... que nos deixou, entre outras, as obras: Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Nítido Nulo (1971) e Conta-Corrente (1980-1988)... Foi sepultado em Melo, “virado para a serra” como sempre desejou. (foi ele quem me disse um dia que : "Há tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz.") censura em oficio enviado a Vergílio Ferreira

"Há vária gente que não gosta de evocar o passado.
Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro.

Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação.

Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser.

O presente é cheio de urgências mas ele que espere.
Há tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz.
Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão.
Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem..."

(Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 5' )

1 comentário:

Anónimo disse...

"Há tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz.
Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão."