29/12/2006

..."Um Bom Ano"...

Sempre que muda o ano, é tempo de balanço, para os que se propõem olhar para trás, como que fazendo a revisão do aprendido, sublinhando as falhas, para tentar não repeti-las, pelo menos, até à próxima vez...

Sempre que muda o ano...desejamos..."um bom ano", e quando esse ano chega ao fim, na hora do balanço, ninguém teve um bom ano, mas pede sempre, pelo menos igual, para o ano seguinte, e... "já não seria mau", ainda todos dizem...

Há muitos anos, que não tenho "um bom ano", mas disso todos se queixam, e ninguém tem o remédio...

Como toda a gente, basta-me sentir feliz naquele momento em que o digo, para dizer que o ano está bem, quando acaba bem...como tudo...mas... a vida não é assim tão linear...e este ano...estou viva, amo a vida, mas a vida, se me ama, anda esquecida...!!!

Mas, mesmo assim, continuo a dizer, tal como Chaplin diria, que, já tive anos piores...
"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também já decepcionei alguém.

Já abracei para proteger, já dei risadas quando não podia e, também ri quando a minha vontade era chorar, fiz amigos eternos, amei e fui amada, mas também já fui rejeitada, fui amada e não amei.

Já gritei e pulei de tanta feliciade, já vivi de amor e fiz juras eternas, "quebrei a cara" muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotografias, já liguei só para ouvir uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)!

Mas vivi! E ainda vivo! Não passo pela vida...
Bom mesmo é viver com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, ... perder com classe e vencer com ousadia, ... porque o mundo pertence a quem se atreve e, a vida é MUITO para ser insignificante... "

Pensem nisso, como um mote para o ano novo de 2007…como quem olha em frente sem medos…

Como todas as pessoas, também este ano velho, tive coisas boas, que me souberam a pouco, e tive momentos difíceis, que me deixam marcas para sempre, e dos quais recuperar me é uma expressão longínqua…

Como todas as pessoas, desejo a paz no mundo, a erradicação da pobreza, a protecção da terra e, a tão desejada saúde, alegria, e muito amor para todos… mas, não posso, como qualquer outra pessoa, esperar que a vida venha ao meu encontro…tenho que dar tudo de mim, a essa vida... e aí sim... estarei em condições de desejar que em 2007, a vida seja atenciosa comigo, e não me maltrate…assim como o desejo, a todos os que me estão próximos, e a todos os que amo…

Um bom ano…!!!
Sábios os que Sabem viver...!

Malú

22/06/2006

...Solidão...

Há conjuntos, arranjos, cordilheiras soltas de palavras, saídas de pensamentos de outrém, que nos intimidam...a mim pelo menos...Faz-me espécie como há coisas, que ao ler, me parecem tão familiares, como que se escritas por mim... Não serão afinidades, não serão coincidências, serão realmente palavras que sairam de nós, e algures num ponto incerto alguém as escreveu, para nos dar a ler, nesta altura, nesse momento em que as lemos de nós, para nós...só pode !

Descubro cada coisa, que não me espanta, não me arrepia, não me assusta por tanto me parecer minha...apenas me consola...porque se há alguém capaz de sentir tão próximo ao que eu sinto, então, a palavra solidão, para mim, deixa de fazer sentido.

Nunca estamos sós, hoje e depois de pensar que tanta solidão já senti, tenho a certeza disso.

Este pensamento, este poema que aqui transcrevo, é um dos exemplos desta minha constatação de hoje:

"Solidão"

"...
Estou só Senhor
Estou sempre só de tudo o que me rodeia.

Só no meio da multidão
Mas sobretudo estou só do Mar
Que me dá vida e do
Sol que me dá calor
Só! só da família que me criou
Só! só do cheiro dos pinheiros e
Dos eucaliptos
Da maresia e
Da terra lavrada

Estou só Senhor
Mas sobretudo estou sempre só
Quando algo me faz o
Coração chorar e a
Alma se escurece

Só! quando de pés e mãos atado
Não consigo dar um passo
Só! só nas grandes e pequenas caminhadas
Nas grandes e pequenas decisões

E até só! nas grandes e pequenas encruzilhadas

Onde a vida e a morte se espreitam
E onde tudo oque sou
Está fente a frente
Com aquilo que eu não sou.

Onde o que eu posso ser
O que eu sou realmente
O que eu julgo ser
O que eu sou visto ser
Se encontram num só ser
Dando-me este sentir
De imensa solidão
Que até julgo sentir que
De ti Senhor tambem

ESTOU SÓ
..."

O autor poderia ter sido eu aqui e agora, mas não,

estas palavras foram escritas por
Afonso Almondino da Silva,
em Toronto a 12 Maio 1986

Marta Luis

30/04/2006

... Obrigado Mãe ...

Porque será que o dia da mãe, me dá para chorar? Será que sou uma mãe frágil?
Será que sinto a falta da minha mãe? Será que, queria ser mais, muito mais Mãe e, simplesmente tenho pena de o não conseguir?

Reflicto apenas nas mães que mais me são próximas, e só entre meia dúzia de pessoas, já haveria tanto para sentir, para dizer, para relatar, para acarinhar, transpondo este cordão para todas as mães desta galáxia e arredores, tanto, tanto, quer dizer a palavra mãe…
O dia é de palavras mansas sim. Muitos nem ligam, outros, que já nem têm paciência para prendas, nem “tempo”, porque está difícil para todos, lá dão apenas um toque, um telefonema, um abraço, um “adoro-te mãe”, e passa mais um domingo, primeiro de Maio, mais um dia da mãe.

Aproxima-se a data, e preparo-me mentalmente, para o que será que este dia significará para mim. Para os outros, nem tanto me importa. Alguns querem apenas, “vender”, o dia da mãe, e lucrar com ele. Outros, querem esquecer que ele existe, porque estão demasiado ocupados para lembrar a sua mãe, ou simplesmente, porque, essa mãe, só de lembrá-la, os faz sofrer. Talvez, já não tenham mãe. Talvez tenham uma mãe daquelas que, nunca o soube ser…nunca esteve presente…nunca mereceu um abraço de um filho, uma filha, porque simplesmente, foi mãe, sem o ser… Conheço casos destes, tão próximos que me magoam demais, principalmente neste dia.

No dia em que fui mãe, e foi muito difícil acreditem, foi o dia mais completo da minha existência. Estive quase a partir, para uma outra, mas, fiquei, para provar a mim mesma que, sim, também sou mulher, uma grande mulher, e também mereço e, vou ser a melhor mãe que conseguir.
Hoje sou, passados 14 meses, uma mãe galinha, a mais galinha que conheço, babada pelo meu rebento, sempre pronta para lhe dar, o melhor de mim, a minha atenção, o carinho todo e mais algum, todos os mimos, e ainda, como todas as mães, sempre desejosa por um xi-coração. O coração apertasse-me de cada vez que há um dia menos bom, um dentinho a romper, um trambolhão, ou mesmo um grande hematoma, como foi o caso de hoje. Dói mais à mãe que, aos filhos, a maior parte das vezes.

E o que é para mim ser mãe: é ser vida, é ser a força que faz mover o mundo, nem que seja só, dentro das nossas quatro paredes. Ser mãe é ser, dona e escrava e não ter pena... agradecer, por essa dádiva.
E ter mãe? Oh meu Deus…ter mãe, é o que mais te agradeço neste mundo.
Sim, que seria de mim, sem minha mãe… Ela, aquela que firme me ampara, aquela que é rocha e aguenta toda a força bruta da maré viva e ainda me resiste, sem sol, sem carinho, sem o apoio que merecia, e não tem…
Essa sim, é uma grande mulher, a minha mãe, que eu admiro profundamente pela persistência em remar… remar sempre, e em me arrastar… Aquela que sei que nunca vou conseguir ser igual… e, tão mal estimada que é!

Uma senhora, sim, uma senhora também mãe, fez manchete recentemente numa revista cor de rosa, com a frase “Ser mãe, é aceitar viver o resto da vida com o coração fora do peito”. Achei essa frase de L. Castelo-Branco linda… Linda e, sentida…
E por estes dias, já que nunca consegui abraçar a minha mãe, vá-se lá saber porquê(são sempre os que mais amo os que mais afasto de mim) quero agradecer-lhe, tanta generosidade, por continuar a viver, há mais de 35 anos, com o coração fora do peito, por mim, e por meu irmão, por minha sobrinha, e pelo meu filho, e por muitos mais filhos, de outras mães, que bem a poderiam, chamar de mãe, também.
Minha mãe, é uma ancora velha, mas que apesar de desfiada, mantém a corda que nos segura, a todos. Minha mãe, é aquela pessoa que, nunca quero que me falte e, a quem tenho tanto faltado... Perdoa-me mãe, não saber ser como tu.

E que dizer, dos que não têm mãe? Aqueles que a perderam, guardam-na eternamente no coração, acredito. Mas, e aqueles que a têm, e não têm!? Aqueles que tiveram o infortúnio de nascer de uma mãe, que os abandonou, que os desprezou, e que em anos e anos, nunca se preocupou com eles? A esses eu deixo o meu respeito, por conseguirem, virar-se sem mãe, sempre com vestígios de marcas maiores sim, mas podem sempre chamar mãe, àquela que realmente os criou, os amou, e continua a ser sempre a avó, ou a tia, de mãe. (sim, falo da minha querida sobrinha, aquela que daria tudo, para ter sido eu a mãe, e daria tudo para não ter deixado passar tudo o que passou, e tudo o que ainda a faz querer chamar-me a mim, de mãe, ou de mãe, à minha mãe.

Sim…é muito bonito o dia da mãe, mas a mim, faz-me chorar!… Porque nem todos o sentem da mesma forma. Porque nem todos tem, ou não tem mãe, da mesma forma.
Porque nem todas as mães são como eu, ou a minha mãe. Porque, também para as mães, este mundo está virado ao contrário, e é muito injusto na maioria dos casos.

Por me deixar ver e sentir este e todos os outros dias, em tantas diferentes vertentes, por isto tudo, e muito mais: obrigado a essa "força maior", que me deu mãe, e que me fez mãe!... Oxalá, um dia, daqui a muitos anos neste dia, eu seja merecedora de um abraço carinhoso, e de um simples:“obrigado mãe

...Não te fartes de mim...!

sim esta foto é minha e está em
www.olhares.com/maluvik
Estou farta!
Farta de esperar…parar
De ficar sempre farta…
Farta de esperar
A esperança chegar…!

Será que há alguém, …há algo
Por que valha a pena
Tanto fartamento?!

Oh …que fartice!!!
Nunca te fartes de mim…
Amo-te afartadamente…
Até nunca me fartar .


Marta Luís
10-10-1991


20/04/2006

...Ilusões...


A dor que atinge os pássaros
Que cantam, sem terem eco...
Soa alto neste céu
Que me encanta, sem se mexer...

É tão belo,
O sorriso de uma criança que passa fome...
Raro...triste...
Tanto, que ninguém pode esquecê-lo...

É tanto o amor, que finge não existir
E se fecha neste beco...
Enche o mundo, só neste quarto,
que me adormece...sem me conhecer...

É tão estúpido...esse sentimento
Que luta, para não ser descoberto...
Tão imenso, que grita...
Sabendo que ninguém pode ouvi-lo...!

Tão bom seria,
Poder abrir teu coração que se faz descrente,
E plantar, e regar...
A semente que faz brilhar esses teus olhos...
E ficar,
Para sempre, dentro de ti...

Tão cruel,
É saber que tudo,...são ilusões que me enchem a mente...
E chorar,
Com a certeza que me traz de volta...
E aceitar, sem medo...
Que eu... morri !


Marta Luis
11-01-1996

(1º Prémio de Poesia
no Festival da Canção e Poesia da Martingança)

09/04/2006

…Nascida para amar…

Nascida para amar
A ti, a ele e, a outro alguém
Vencida por tanto chorar
Sofrida por tanto rir
Querida, por tão pouco querer
Quem um dia, me fez tanto sonhar…
Depois temida, por tanto prometer
A quem do sonho, me fez acordar!

Que importa, ser feliz, ou infeliz, agora…
Fechada e trancada a porta…lá atrás…?!
Já não me conforta, a ideia de voltar
Para o presente, para este mundo…
Quando se torna indiferente, e ausente, o amor.

Aquela criança já cresceu,
E ainda não viveu…

Nascida para amar
A ti, a ele, e a outro alguém,
Essa mulher, sou eu…
Aquela, a que no dia em que nasceu, morreu…
Para nunca na vida chegar…a amar, ninguém!

Marta Luís
07-09-1994

…Lágrimas…

Lágrimas…para quê?!
Vou sorrir…vou dar a volta por cima, amor…!
Não quero recordar-te,
Pelo quanto me fizeste chorar…!
Quero apenas lembrar,
O quão feliz, fui ao teu lado…!

Lágrimas…!...Para quê?!
Apenas quero ficar com o teu jeito gozado
De tornar tão lindo o meu existir…
Quero apenas, em silêncio, ter saudade…
Desse segredo, que te fez meu, por uns tempos!

Lágrimas, …não amor…metem-me medo:
Todas as lágrimas do mundo,
Não afundariam a dor,
De te ter, …
Para te perder…!

Marta Luis

07/04/2006

...Teu silêncio manso...e gasto...

Um gosto a sal, encobre todo o sabor doce da vida.O amargo, nos teus olhos, traz a minha alma ferida. O teu jeito indiferente, de fingires que és quem nada sente faz de mim inútil. Faz de mim, apenas mais um, a mais no teu caminho.
Será, que de todas as lágrimas que choraste, nem numa só, me reclamaste? Será, que nesse teu silêncio manso e gasto, nunca me chamaste?
Eu, sou aquele que te amou, de cada vez que por mim passaste e, foste embora. Eu, sou aquele que te escolheu, quando te olhou e, amaldiçoa agora essa hora.
Mas tu… Tu, mal amada.. andas cá, mas noutro mundo. Sofres tanto, sempre só… Caminhas às voltas, pelo fundo de um abismo, sem escada e não queres voltar para o sol, para os que riem. Preferes continuar a chorar por esses que te causaram tanta dor, tão sem dó. E não deixas ninguém te amar… nem eu, que nada mais sei fazer!

Mas eu, não quero ocupar o lugar, desse alguém que, tanto amaste. Nem sequer quero, que o vás esquecer. Quero apenas dizer-te que me roubaste, toda a razão de viver.
Quero apenas que partilhes comigo esse sentimento que fizeste nascer.
Quero apenas ser teu amigo, amor, por favor!
Lembra-te… Foste tu quem me ensinou: “A dois, …não é tão difícil sofrer!!!”

Ass: por um amigo…à Marta

...Porque sou homem...

"Existo...
Sem saber como ou porquê
Sei que, tu e eu, nós existimos,
vivemos, ou tentamos sobreviver…

Cheiro uma flor
Uma frágil flor que sente sem responder,
que sofre sem reclamar…

Queria dizer que não o faço, de propósito
Que, não a tirei da fonte da vida por mal
Porque, nem sei, porque lhe arranco as pétalas
Sem dó, nem satisfação.
Apenas as destruo, porque sim
Porque sou homem,
Sou homem, e posso!

Hoje abraço e beijo
Amanhã largo e maltrato…
Sou homem
E por isso descolo, derrubo, desligo,
Sem dó nem satisfação…!

Agora desejo e amo
Depois repudio e enjoo,
Porque sou homem,
Sou homem, e posso!

E tanto faço e desfaço
Penso e repenso
Que agora,
Vejo que, já não desejo nem amo
Não faço nem desfaço
Não construo nem destruo
Não vivo nem sobrevivo

Apenas existo…!
Mas…existo sempre?!
Não.
Porque sou homem,...
Sou homem, e
não posso!"

Este foi um poema que ouvi no programa Companheiros da Noite, na RLO, há já muitos anos, mesmo muitos anos atrás, (pelo menos 15) e gravava a emissão nessa altura, e gostei muito, pelo que o partilho...
Lembro-me que fora enviado para aquele programa (onde muitos ouvintes, tal como eu, colaboravam enviando o produto da sua veia poética), por um recluso que, estava detido à data...faz sentido... mas não me lembro do nome do autor...não gravei essa parte.

… Plásticas …

Restos de sol, ferem meu último olhar.
Rastos de luz, escurecem o meu eterno viver.
Sombras, de tudo o que fui e o que vi,
Mancham de negro, o nada que serei.
Apenas partes, espalhadas, roubadas de mim,
Se separam, se desvanecem, pelos cantos onde estive.
E, mesmo nada tendo para guardar,
Recolho hoje tesouros do meu ser,
Reclamo agora, por glórias que perdi,
Em tantas páginas que saltei, desse livro,
Meio lido…meio apagado e, sem fim…
Contando em branco, as histórias,
Da alma morta, que em mim vive…
Cantando baixinho, memórias…
As que sonhei e, não tive!

E, de rastos, me vêm à alma,
Essas lembranças ocas do tempo que não passa…
E, já presa…me alerto para fugir e,
Para não seguir, onde não vou...
E, é de toda aquela que me chamaram;
A deslouvada…a louca…até a calma;
De toda aquela que é minha própria massa,
Feita de matéria única…mas, a ruir,
Que…pedaços de mim, escondem o que sou...
E só não mostram aquela...
Que todos vocês amaram…!
São apenas plásticas, as palavras…vãs e inúteis…
Essas, que todos vós, por mim, falaram…!!!

Marta Luis
Alcobaça
19-10-1995

29/03/2006

“Não somos máquinas”...

Podia dar-me para pior…!!!

…Mas não…dá-me para ficar a sofrer com as palavras, que os outros não sabem escolher…!!!
São sempre aqueles de quem mais esperamos, que mais nos decepcionam…é a lei da vida…mas é deveras cruel, de cada vez que acontece.

Podia dar-me para ignorar os que não me compreendem, para passar àquela fase em que, nada nem ninguém mais, vai me abalar… mas não; …dá-me sempre para tentar ainda explicar uma vez mais, de outra forma, para ver se é desta que me faço entender, e lá vem aquele efeito inverso da conversa:
Quanto mais simples o assunto, mais complicado é de explicar.
Quanto mais límpida a minha visão da “coisa”, mais distorcida parece aos olhos de quem “a” não quer ver…
É realmente difícil, falar comigo, quando não se quer falar comigo, ou ouvir também, já agora…Sou realmente uma pessoa um tanto peculiar, quando não querem que seja uma pessoa, apenas uma pessoa, igual ás outras.

Mais, para quem trabalha em comunicação, não será novidade assumir que, a falta dela, está sempre no receptor…ou seja, poderá o emissor esforçar-se exaustivamente por tentar passar uma mensagem que, ela, a mensagem, só chega, se o receptor estiver ligado, diga-se, receptivo a essa mesma mensagem, interessado, aberto…porque, se assim não for a ideia, foi para o boneco é que passou.
É como estar a olhar e não ver, estar a comer e não saborear, estar a acenar que sim com a cabeça e estar a não compreender nada de nada… acontece.
Acontece em inúmeros casos, mas só magoa, quando naqueles que menos prevíamos.

É suposto, daqueles com quem alguma afinidade encontráramos um dia, até esperarmos que esse entendimento perdure, mas também é verdade que, nada é assim tão linear, e é possível, tempos depois julgarmos que estamos a falar e, que nos estão a ouvir, e afinal, o boneco mais uma vez é que lá estava, como receptor da nossa atenção e dedicação.

“Não somos máquinas”, mas cada vez mais as reacções ao que nos é contrário são maquinais.
Eu, sim eu, não sou nenhuma tábua rasa… mas são raras as vezes em que alguém me convence, a mudar de ideia.
Sou tão ou mais exigente com os outros do que comigo própria e, saio magoada a maior parte das vezes, porque são escassas as pessoas que já encontrei capazes de uma atitude à minha altura.

Sou adepta da evolução, e da mudança, … aliás, concordo com a máxima de que, para melhor, muda-se sempre… mas, deixam-me de rasto as atitudes daqueles que, se acham muito à frente, e, acabam por ser mais conservadores e retrógrados do que imaginam.

Tudo isto para dizer que; ás vezes, mais vale estar calado do que a falar para o boneco, coisa que toda a gente sabe mas, que aqui a boneca teima em tentar inverter, e sofre, de cada vez que se cala…

Tenho dito.

03/03/2006

A Distância ... também traz felicidade.

A distância... será sinónimo óbvio de afastamento, de longevidade, de cura, de presa...dependendo do quê se dista do quê.

"O Tempo tudo apaga, tudo esquece, tudo cura" diz o povo...

Sim, a distância temporal assim funciona.


A distâcia geométrica também demora, dói, mas afasta sim, diluí...

Ainda há 3 dias, tentava eu compilar alguns pensamentos que tenho escritos, para aqui inserir neste blog, quando me dei a avaliar a distância de sentimentos que agora me provocam esses ditos...


Quando se sente é tão profundo, e quando passa o tempo, a vida, torna tudo tão mais distante, no verdadeiro sentido da palavra, tão mais afastado daquilo que era quando começou a ser. E nem por isso naquela altura em que aconteceu deixou se ser o mais importante, o de maior relevo daquela passagem da minha existência...e caminhados alguns tempos, essa distância que nos separa, torna cada palavra, cada lágrima, tão menos dolorosas, que parecem perder importância, na cascata de situações entretanto e posteriormente vividas....
Alguém já me fez acreditar nessa frase feita de que, realmente: "as coisas não são como começam, ...são como acabam!"; e é sem dúvida a distância, seja ela medida em que parâmetros for, que faz as coisas.


Há alguns anos atrás nada era mais importante do que eu, para mim, depois os outros, agora...nada mais é importante que o meu filho, que a saúde da minha mãe, do meu marido, que a paz de espírito do meu pai ou o bem estar da minha sobrinha.
Há quase uma década entrei para a função pública a pensar que iria conseguir remar contra a maré, e iria contribuir para mudar o estado das coisas menos bem...e hoje tenho a certeza que tudo está pior, e nada pude fazer para travar mais essa bola de neve, que até já nem me abala assim tanto. Não me acomodo, aprendo a filtrar e a distanciar-me, sendo uma forma de crescer com o sofrimento e, uso-o como volante.


A vida, aproxima-nos do que nos pode servir de muleta, enquanto a relatividade distancia-os das opções que fazemos. Sim ... penso que a distância faz todo o sentido como filosofia, como pauta, como conselheira.


Ainda então há dias era importante para mim, criar este espaço para depositar aqui os meus poemas, as minhas recaídas como sofredora nata, e hoje estou a divagar na distância que percorri desde então até ora, e nas voltas que esta vida dá, no buraco em que me escondi, para fugir de mais uma crueldade deste mundo, que é muito mais importante de reflectir do que esses sentimentos só meus.
Dia 1, duas e meia da tarde, uma mãe vai ao café com sua filha, e brinca com as amigas na conversa...ás 3 da tarde desse mesmo dia, estava morta...foi um ataque de coração. Um marido despedaçado, e 3 filhas ainda nem acreditam no que aconteceu. De noite vou ao velório, apresentar as minhas condolências à familia.
Dia 2, 3 e meia da tarde, o enterro que acompanhei com minha mãe ao lado, e com o coração apertado, destroça.me e sinto-me pequenina pondo-me no lugar daquelas filhas agora orfãs, posição que sei que não iria aguentar. E tudo isto acontece mais ou menos distante de mim agora, ou depois, e na brevidade de um instante muda sem eu querer, as prioridades do meu coração, roubando-me a liberdade de escolher, com o quê sofrer...e transforma um dia pleno de felicidade numa angustia maior.
Dia 3, são 23 e 40, e vejo-me distante...já não sei o que é importante ou não.


Sendo este um blog pessoal, assumo que é dos meus sentimentos que escrevo, e não do mundo ou da comunidade, ou para o mundo, ou para a comunidade.
Sendo que o mundo chora e ri, com males e bençãos bem mais significativas para a grande esfera... não sei chorar ou rir com o resto do mundo, quando o meu pequeno e insignificante perímetro sentimental está desnorteado.


Estou longe, transtornada, e realmente espero que a distância me devolva a alegria, depois de mais um dia, em que sobrevivo, e me regalo por saber que quando sofro sou a pessoa mais infeliz à face da terra, mas há tão próximo de mim sofrimentos tão mais válidos que o meu, que acabo por me sentir incomodamente feliz.

14/02/2006

Porquê escrever ?!

Escrevo hoje, na certeza de que longe dia, irei reencontrar-me. Sim, por isso escrevo. Não para mostrar ao mundo palavras gastas como diria o poeta, não para receber de volta frases feitas, mas sim, escrevo para criar uma ponte entre o que fui, o que sou e o que serei. Brevemente, porque todas as nossas vidas são breves demais, irei estar de volta, e quero um portal, para que a afinidade persista, com esse alguém que nessa altura direi ou não, se já não fui...

O que fica neste blog, é realmente solitário, é nada mais nada menos, do que exclusivamente para mim... Como um passe, uma senha para o reconhecimento que aguardo e loucamente procuro, de patamar em patamar, de história em história, dessas minhas tantas vidas que se atropelam, que se cruzam, que se castigam, que se destroem, que se admiram incondicionalmente entre si.
Para mim, e para os poucos que talvez admitam que conseguiram tocar um pouco da minha pessoa, numa destas breves passagens, por breves instantes, momentos que partilhámos.

E aqui, venho escrever, não mais do que silêncios e palavras.
Enfim...reticencias...em reflexões, em pensamentos.

(...invariavelmente, sempre em construção, esta casa das minhas reticências...)

13/02/2006

...Reticências...

Este é um lugar pessoal. Está na rede por ser este o meio mais fiável de não me perder, permitindo-me um ponto de encontro especial. Como nem sempre sou transparente, apenas o sinto quando escrevo... aos poucos irei escavando, e desenterrando outra face de mim, a interior que se reflete no que a vida me tem transformado, num remoinho de emoções, numa frase: uma constante revolução em forma de vida...
Mesmo que mais ninguém leia, ou que a mais ninguém nada diga, este é o meu cantinho e sendo assim cuidarei dele, para mim, e partilho, porque não sou egoista de todo, e quem sabe?... talvêz me faça bem!