
Deito fora as imagens, 
Sem ti para que me servem as imagens? 
Preciso habituar-me a substituir-te 
pelo vento, que está em toda a parte 
e cuja direcção é igualmente passageira e verídica. 
Preciso habituar-me 
ao eco dos teus passos numa casa deserta, 
ao trémulo vigor de todos os teus gestos invisíveis, 
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve a não ser eu. 
Serei feliz sem as imagens. 
As imagens não dão felicidade a ninguém. 
Era mais difícil perder-te, e, no entanto, perdi-te. 
Era mais difícil inventar-te, e eu te inventei. 
Posso passar sem as imagens assim como posso passar sem ti. 
E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz.
Raul de Carvalho
 
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