04/03/2009

...mais do mesmo...

Flutuo...

Continuo...

Fico...

Arrasto-me ...

A matutar ...

A lutar,


contra essa maior agora vontade do que medo, de partir...

Perpétua-se essa frase em mim...

..."Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem..."

o teu olhar,
o teu cobrar...
a minha culpa por ir e não te levar...

E não sei mais, como fazer...
como sobreviver...
como ajudar-me, como te ajudar...!

Falta-me tanto...esse "tanto"
... pra te poder dar...


E de que adianta ?!...


Nunca entendem os que mais amo,
e que insistem que precisam de mim e que me cobram a força de
continuar...continuar...

que eu não tenho essa força sozinha,
que sou eu, quem mais deles preciso,
sempre quando mais me abandonam...!!!

a mim, e aos demais...!!!

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Devinho tinto de sangue


Cálice
letra e música: Gilberto Gil, Chico Buarque
1973

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