18/03/2009

...Pai...

Escrevi-te hoje pai...
já seguiu em correio azul,
para poderes ler, amanhã,
ai
nesse quarto piso do Stº André,
onde ontem te fui ver...
e onde não quero mais voltar...:

Pai…
Hoje é dia do PAI, assinalado no calendário.
E não deve ser o único dia, em que saibas que te trago, no coração. Todos os dias, para mim, são dia do pai, são dias de querer ver, o meu pai bem.
Mas hoje é dia do pai, e mais uma vez, foste levado para longe de nós, que te amamos, por esse ódio imenso que trazes no coração, e que espalhas, por todos à tua volta.

È desse ódio que tenho ódio. È essa tua fraqueza de cobrar e culpar aos outros, o que corre mal na tua vida, que transtorna toda a gente que te quer bem. È essa incapacidade de tolerar, e de suportar a dor, que carregas contigo, que te torna tão frágil, e tão violento em simultâneo. Mas nunca deixas de ser o meu PAI, que eu adoro.

Custa muito, de cada vez que não estás bem, deixares ainda pior, a nós, que também não estamos bem, nem podemos ajudar-te de outra forma, senão tentar sobreviver ás injustiças deste mundo a teu lado. Mas tu pai, com esse inferno que vives dentro de ti, arrastas para o fundo contigo toda a gente, e afastas todos de ti.

Isso deixa-me muito triste. Principalmente no dia do PAI. Porque me lembro que o meu PAI não está bem.
Não és feliz?! Claro que não….eu sei, mas eu também não…ninguém é feliz neste mundo, principalmente nos dias que correm. Mas isso não te dá o direito de culpar os outros, e de maltratar os outros, ou de desejar tanto mal aos outros.

Já viste há quantos anos, tantos dias consecutivos, desejas a morte, aos que sempre estiveram do teu lado, só porque estás zangado… só porque estás desesperado, só porque tens que arranjar um culpado para a tua dor…? Já viste como temos todos vivido… dias e dias, oprimidos, ameaçados, constrangidos… porque dizes a alta voz, que nos queres mal…e que todos nós, os mais chegados a ti, somos acusados, da tua ira, da tua infelicidade…? Já imaginas-te o quanto isso pode doer-nos, e transtornas-nos, e afectar-nos a todos?

Não é normal PAI, uma pessoa pensar só em si, e estar-se marimbando para o que faz aos outros. Costumas dizer que; primeiro tu, depois os outros, mas ninguém quer acabar sozinho neste mundo… nem tu, nem eu.
Não tens que carregar tudo sozinho…mas também não tens que empurrar tudo para quem nunca te desejou mal, nunca te abandonou, nunca te roubou, nunca te desejou a morte, nunca te quis ver sofrer… e a quem tanto fazes sofrer…só porque sim… e sem merecer.

Toda a gente pode hoje dizer…” eu não sou feliz…a vida corre-me mal…” Mas nem toda a gente diz; a culpa da minha desgraça é do meu filho, da minha filha, da minha mulher… Isso não se faz… e isso marca… a nós que consecutivamente vamos sendo massacrados com essa tua teoria, que na prática é apenas a tua escapatória, por não conseguires ter uma vida diferente…

Mas a ti, ninguém te culpa pai…ninguém te julga… apenas queríamos que deixasses de nos culpar, de nos castigar, e entendesses, que podem haver em harmonia momentos felizes… pode haver paz, entre uma família que perdoa a guerra pelo passado, perdoa os ódios e intolerâncias alimentados por anos e anos de discussões sem nexo, que cultivaram ideias fixas na tua cabeça, que tanto mal te fazem, e não te libertas delas, nem a ti, nem a nós.

Não está fácil a vida… nem para ti, nem para ninguém.
Até concordo contigo, se me disseres, que a nossa vida, não é vida para ninguém… mas é o que temos no momento, e não é andando sempre á zaragata e a distribuir ódios uns pelos outros, que vamos conseguir ter paz, ou ultrapassar esta fase, que já vai longa demais…para todos nós.

Gostava de poder dizer-te, que ainda te vou ver feliz… que ainda vais ter orgulho em estar neste mundo…ainda vais agradecer á vida por te deixar ver os teus netos crescer…ainda vais arrepender-te de todas as vezes que disseste á tua mulher, ao teu filho, ou á tua filha, que os querias ver morrer, ou apodrecer… Isso não pode ser verdade… nós não merecemos isso…!!!

Mas não sei prever o futuro:
Não sei dizer-te se eu própria vou aguentar muito mais tempo nesta vida. Há anos, que todos os dias desisto, e todos os dias resisto. Porque, como sabes, também eu, nunca fui feliz, mas existo… e entre os dias, em que vou morrendo, e outros em que vou agradecendo estar viva, nem tudo está perdido.

Não sei dizer-te se a minha mãe, vai sobreviver muito mais tempo nesta vida. Há anos que não tem vida, e agora muito menos.

Não sei dizer-te, se a tua neta vai querer continuar a pertencer á nossa vida, ou se vai conseguir viver a sua vida, depois de tanta confusão instalada nestes seus tão conturbados primeiros anos de vida

Não sei se o teu neto, não vai um dia destes dizer-me que prefere estar com o pai, onde pode ter outra vida.

Não sei se o meu irmão, vai resistir, a tanta cacetada, que também a vida lhe tem dado…

Todos nós já errámos, e todos nós já nos perdoámos, e decidimos sempre dar mais uma oportunidade á vida… e seguir em frente, na esperança de que outro dia, a seguir seja diferente, e possamos dizer mais tarde que valeu a pena lutar, contra tão malfadada vida…
E valeu a pena levantar-mos a cabeça, contra a dor, e insistir nesta vida.

Mas não sei, se tu continuas a querer bem, a todos nós, a toda a vida que te rodeia, e que precisa de ti, para ser vida. Tu fazes parte da nossa vida, e nós queríamos ver-te bem. Controlado, e com vontade de estar, e ajudar esta vida a ser vivida.
Mas não sei, se tens coragem de viver bem entre nós.
Viver mal…tem sido toda a nossa trajectória até aqui.

Para viver-mos melhor… não podemos pensar só que não há trabalho, que não há dinheiro, que isto que aquilo…temos que pensar que, vale a pena acordar, todos os dias, para dizer bons dias, a quem nos olha nos olhos. È preciso então valer a pena quer com mais ou menos dificuldades, quer com mais ou menos desvios do que seria ideal para o que corra menos bem ou mal, querermos continuar… e tentar fazer de cada dia, um pedacinho de vida, para chegar-mos ao fim de mais um dia e dizermos, obrigado á vida.

Desejo-te de coração, um feliz dia do pai… Mais um dia, para te orgulhares ainda por muitos anos, e a nosso lado, menos transtornado, para bem de todos nós.

Beijinho e Xi – coração
Ao meu pai

Marta Luis

3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo e cheio de amor este texto mesmo com tudo aquilo que não está bem com o teu pai.

Lindas as palavras dedicadas ao teu pai e onde sinto que te vêm das tuas mais profundas entranhas.

Um pai será sempre um pai mesmo que tudo nem sempre seja facil.

Coragem a todos e que melhores dias venham pra que o vosso dia a dia seja mais facil.

José Alberto Vasco disse...

Recebe um abraço de solidariedade à tua coragem de te mostrares ao mundo com paredes de vidro... Melhores dias virão. Não desistas!

Z disse...

Fizeste-me chorar... :) mas nao é uma critica e só te culpo porque escreves bem.

Olha, eu falo directamente com o boss lá de cima, e ele disse-me que tu ainda vais ser muito feliz.

Um beijo enorme.