29/03/2009

...Vidas...


«Não, fica. Fica.» Tornei a sentar-me, relutante. «Acho que, depois do que fizeste, tens direito a estar connosco nos melhores momentos.»
Camila pareceu ficar um pouco mais tímida, ao escutar as palavras do avô. «Tenho receio de o deixar assim, avô. Tenho medo.»
«Medo de que eu morra?», perguntou Millhouse Pascal, a voz saindo-lhe do fundo da garganta.
«Por favor. Ninguém morre de uma fractura na bacia. Não diga essas coisas. Tenho medo de que fique sozinho. O Gustavo já se foi embora, a Nina também.»
«Tens medo da minha solidão, porque temes toda a espécie de solidão. Olha para mim. Tenho mais de setenta anos. A solidão é uma benesse, e não um tormento. Vivi mais vidas do que um batalhão de homens. Para além disso, enquanto tiver o Artur, nunca estarei sozinho.»
«Tem mais do que o Artur, agora», disse Camila, olhando para mim. Millhouse Pascal também me olhou.
«Sim, por agora. Mas as pessoas jovens acabam por seguir as suas vidas. É o curso natural das coisas. Deposito, porém, grandes esperanças neste rapaz. É um rapaz especial.»
Falavam de mim como se eu não estivesse ali.
«E tu, estás pronta?» «Para partir?» «Para deixares tudo isto para trás.»
«Não fale assim. Virei visitá-lo sempre que possa.»
«Visitares, não visitares... É a mesma coisa, no fundo.
Quando deixei este país, pouco mais velho do que tu és agora, ainda desconhecia o efeito que o mundo tem em nós. Partimos de um lugar achando que um dia voltaremos; vivemos tudo de coração aberto; e, quando damos por nós, somos incapazes de regressar
«O avô já regressou há muitos anos.»
«Regressei? Será mesmo verdade?»
«Está aqui, não está?»
«A presença física não é prova de nada. O lugar onde vivemos é o lugar que habitamos em espírito. E, em espírito, nunca regressei. Estou espalhado pelas almas de todas as pessoas que conheci, de todas as coisas que, por lhes ter tocado, modifiquei. Irás aprender isso com o tempo.
Um homem não é uma entidade, são muitas e, se não nos decidimos, a tempo certo, por uma delas, acabamos feitos em retalhos.»

Excerto de "As 3 Vidas" de João Tordo

...Consigo?!...


- Pela parte que me toca, penso muito no passado. Sobretudo a partir do momento em que me pus em fuga através do Japão. E sempre que me esforço por recordar, vêm-me à lembrança uma quantidade de coisas... e olha que estou a falar de memórias vivas e poderosas. Coisas, que eu julgava desde há muito esquecidas, de repente surgem diante de mim sem razão aparente. Um processo muito interessante. Que coisa estranha e louca ao mesmo tempo, a memória. É como se tu enchesses uma gaveta inteira com uma quantidade incrível de coisas que não servem para nada. Ao passo que as coisas importantes, essas passamos a vida a esquecê-las, umas atrás das outras. Korogi continua de pé, com o telecomando na mão.
- Sabes o que te digo? - prossegue ela.
- Quer-me parecer que as recordações são o combustível que permite às pessoas continuarem vivas. Agora, se essas recordações têm ou não de facto alguma importância concreta, isso pouco ou nenhum significado tem desde que as funções vitais estejam asseguradas. É apenas combustível, mais nada. Anúncios nos jornais, livros de filosofia, revistas cheias de pornografia, um grosso maço de notas de dez mil ienes: quando deitas um fósforo e lhes pegas fogo, não passa tudo de papel. O fogo, enquanto arde, não pensa: «Oh, isto é Kant!». Ou: «Oh, um artigo na edição da tarde do jornal Yomiuri», ou ainda: «Ena, mas que belas mamas!». Para o fogo, são apenas pedaços de papel. Aqui neste caso é a mesmíssima coisa. As recordações importantes ou aquelas que não têm tanto peso quanto isso, umas e outras tornam-se, sem distinção, combustível. Korogi faz uma sinalefa de concordância para si mesma, antes de prosseguir. - Sabes, acho que se não tivesse este carburante para queimar, se não tivesse essa tal gaveta cheia de recordações dentro de mim, há muito que me teria deixado ficar caída no fundo de alguma valeta e deixado morrer. Só porque posso trazer à luz do dia as memórias que essa tal gaveta encerra - tanto as lembranças importantes como as outras - é que me aguento no balanço e consigo levar por diante o pesadelo que representa esta vida.
Alturas há em que chego a pensar que já não aguento mais, mas, depois, de uma maneira ou de outra, a verdade é que consigo.


Excerto de "After Dark - Os Passageiros da Noite"
Haruki Murakami

27/03/2009

...Morreste-me naquele dia...


Tinhas os olhos rasos de água quando te encontrei naquele dia.

Passei um bálsamo calmante sobre as tuas pálpebras, que já estavam fechadas, e com dor, de tanto choro, e disse-te que tudo iria correr pelo melhor.
Que eu estava aqui. Que eu estava do teu lado.E que a morte poderia esperar mais cem séculos para te levar para junto dela pois ainda não havia chegado a tua hora.
E o pão mal tinha começado a levedar.
Nem o fermento havia ainda sido transformado.
E o meu forno já ardia esperando pelo teu corpo.

Disse-te que contemplarias os Campos Elíseos daqui a mais cem séculos, quando as rosas do jardim murchassem e eu me picasse mortalmente num dos seus espinhos.
E que o tempo seria multiplicado por sete e alcançarias a imortalidade.
E isso acalmou-te.

Passei de novo o bálsamo nas tuas faces que se encheram de alegria.
A alegria momentânea dos moribundos.
E o forno tinha sido aberto para receber o teu destino.
E apesar de saber que dali a instantes serias levado no carro de Apolo em direcção ao sol, não me importei.

Falei-te do mais belo que havíamos vivenciado no mundo e que tudo o mais era sem importância.
E disse-te…
Disse-te que estarias sempre comigo, e que guardaria o teu coração num frasco de alabastro branco, como o mármore das igrejas, e que serias sempre habitante das profundezas do meu ser.
E isso acalmou-te.

Foi então que o espírito do tempo chorou e entrou no teu corpo e cortou as últimas amarras, que te prendiam ao navio da vida.
E morreste-me, naquele dia.
E contigo, todo o meu ser.

publicada por unknowngirl em http://www.fragmentsofyou.blogspot.com/



sugiro também "Morreste-me" de José Luis Peixoto
o primeiro livro do autor, em que toca com o que foi a morte do seu pai, vitima de cancro

26/03/2009

...Cura...


Detesto a forma como me deixas só…Repugno as desculpas que inventas para tal…Consome-me a falta que me fazes…

Odeio as palavras que não fazem sentido ou em que o deixas invertido…
Dispenso o facto de me compreenderes, me entenderes, ou a toda a minha raiva…
Preferia que a combatesses, que de mim me protegesses....

Destrói-me amar-te tanto e não te ter…
Mata-me não conseguir fazer-te feliz…

Vou descobrir como fazer para te esquecer,
Vou amar-te mais ainda para não me esquecer,
Vou curar-te desta doença do meu doer…

Liberto-te amor,
Mas não te perco, nunca...
Só vou te deixar viver…!

25/03/2009

...Pó...


O corpo nem tanto me pesa, tanto que flutua…
As mãos nem tanto me tremem, tanto que te não tocam…
A alma nem tanto se me cala, tanto que nem se te sente…
O olhar nem tanto aqui viaja, tanto que nem ali se encontra…
O grito nem tanto de lá sai, tanto que nem está cá dentro…
O coração nem tanto chora, tanto que nem bate mais…

Morri tantas vezes, e mais uma vez
E desta vez morri tanto, mais do que nunca…
Tanto que parece que é de vez
Parece tanto, que é para sempre…
E enterro tanto comigo
Tanto do que apetecia viver…

Desse teu dom de me saber fazer sonhar, sorrir, dançar…
Desse suor que te me escorre pela face…
Desse querer tanto fazer o tempo parar, para não mais te largar…
O doce aperto até doer entre os teus braços…
O infinito prazer do teu sabor que noutra vida me ressuscitou…
Só resta do pó de mim esse amor, que não mais voltou…


Marta Luís

Alcobaça, 25 de Março de 2009

...Só pra mim...


ouve em :


(Pedro Khima - Dá-me sede)

24/03/2009

...Caos...

Não há mais condições...

Neste coração, neste corpo, nesta alma, neste meu eu que amáste, só encontro o caos...

Retiro-me, antes que faça maiores estragos...

23/03/2009

...Longe de você...

Longe de você eu enlouqueço muito mais
Eu vivo na espera de poder viver a vida com você
Vejo pessoas sem saberem pra onde o mundo vai
Eu conto as horas para estar com você

Longe de você eu preciso de algo mais
Eu vivo na espera de poder viver a vida com você
Vejo pessoas sem saberem pra onde o mundo vai
Eu conto as horas para estar com você

Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?
Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?
Pra tanta coisa que faz mal eu me disponho
Quando eu te vejo eu começo a sorrir
Eu começo a sorrir

Não quero desperdiçar a chance de ter encontrado você
Hoje o que eu mais quero é fazer você feliz
Vejo as pessoas e sei que juntos nós podemos muito mais
Eu vivo na espera de poder viver a vida com você

Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?
Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?
Pra tanta coisa que faz mal eu me disponho
Quando eu te vejo eu começo a sorrir
Eu começo a sorrir

Molduras boas não salvam quadros ruins
Eu procurei a vida inteira sem saber bem pelo que
Mas se pelo menos você estivesse aqui

Eu conto as horas pra estar com você
Eu estive lá na sua presença
Só pra saber o que você diria sobre nós
O que te diz mais?
O que te diz mais?


( Charlie Brown Jr.)

...Só hoje...


Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito, nem que seja só pra te levar pra casa, depois de um dia normal...Olhar teus olhos de promessas fáceis, e te beijar a boca de um jeito que te faça rir...
Hoje eu preciso te abraçar...sentir teu cheiro de roupa limpa...pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua, qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...em estar vivo.
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar... me dizendo que eu sou o causador da tua insônia... Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você, com qualquer humor, com qualquer sorriso...
Hoje só tua presença vai me deixar feliz...
Só hoje...

(Jota Quest)

...fragilidade...

Talvez pudesse o tempo parar quando tudo em nós se precipita quando a vida nos desgarra os sentidos e não espera...

Ai quem dera houvesse um canto para se ficar , longe da guerra feroz que nos domina. Se o amor fosse como um lugar a salvo, sem medos, sem fragilidade ...

Tão bom pudesse o tempo parar e voltar-se a preencher o vazio ... É tão duro aprender que na vida nada se repete, nada se promete ... e é tudo tão fugaz e tão breve ...

Tão bom pudesse o tempo parar e encharcar-me de azul e de longe. Acalmar a raiva aflita da vertigem ... Sentir o teu braço e poder ficar ...e é tudo tão fugaz e tão breve

Como os reflexos da lua no rio ... tudo aquilo que se agarra e já fugiu .. É tudo tão fugaz e tão breve ...


(M.Veiga)

...me interessa (só o que) ...


Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem

A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem

Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou

Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa...

Lenine


...desencontros ...


Hoje...quase consegui sorrir...

Tinha tanto pra te dar... !!!

Que desperdício !

Mas olha, sabes que mais... ?!

Talvez seja o dia certo,

para parar de chorar...

... sem sentido ...

... minha razão já nada compreende
tudo se esquece e nada se sente.
Almas giram na insatisfação da mente,
não vale a pena...


Thereza Green in

http://www.luso-poemas.net/

22/03/2009

...Primavera...

moment in the net

"Quero apenas cinco coisas...

Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão

A quinta coisa são teus olhos

Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.

Abro mão da Primavera para que continues me olhando."

Pablo Neruda

...dói...

"Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no olhar da tua imagem, e um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a realidade aproxima-me de ti, agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder-te uma coisa simples, como dizer que a tua ausência me dói."

Nuno Júdice

...Pedaço de ti ...


Tenho um pedaço de ti aqui.
E aponto para dentro do meu peito, Amor.
Escrevo aqui nestas linhas nostálgicas o lugar no meu corpo onde mais te guardo em mim.
Porque te guardo em todo o lado, em mim.
Em mim, em mim.
Tenho um pedacinho de ti aqui.
E aponto para o lado direito da minha testa, Amor.
Porque te guardo também em memórias.
Ainda que partidas. Por metades.
Porque sem ti vejo as coisas assim e sinto só uma parte.
Uma parte dos teus cabelos na almofada que divides comigo sem te separares de mim.
Ou um fragmento de um sentimento que deixo correr solto no campo confiando que corra para ti.
Um segmento apenas das curvas do teu corpo e do suor que vejo escorrer em nós quando casamos as nossas metades.
Um bocado de saliva tua dentro da minha boca.
Uma metade do teu olhar quando olhas para mim a rir.
Uma parcela de desassossego meu.
Um trecho de um atrevimento teu.
Um estilhaço de uma paixão nossa.
Um excerto de uma intuição minha.
Um recorte de um pressentimento meu.
Um corte de um movimento teu.
Um retalho de mim sem ti.
Porque canto metade das melodias que me entoaste.
E vou só até a meio do caminho.
Lembro-me de metade das nossas conversas.
De metade das flores dos lugares.
De metade dos cheiros e das cores e dos sons de todas as metades dos lugares.
Recordo-me de metade da minha vida.
Relembro-me de metade de mim.
Porque só tenho um pedaço de ti.
E sou só um pedaço de mim.


Publicado por Sofia Vila Nova em
http://descontroladoaltodeleite.blogspot.com/

...de saída ?!...

foto retirada da net em www.bemhaja.com



''Deixa a porta aberta quando saires

Pra que eu veja que alguém cuidou de mim..."

19/03/2009

...Sagitariana...

salvador dalí - the archer



A mulher Sagitário é reconhecida como esbelta e distinta.
A forma como anda chama a atenção.
Quando fala gosta de olhar directamente nos olhos da outra pessoa.
Do riso pode passar facilmente às lágrimas.
Tal como o Homem Sagitário tem alterações súbitas de humor.
Demora algum tempo para encontrar o seu equilíbrio.
Gosta da sua independência, de provar que consegue o que quer, e tem a esperança de viver num mundo justo em que haja condições iguais para toda a gente.
Agarra a vida com muito entusiasmo.
É demasiado convicta nos seus ideais, defendendo-os arduamente.
Ceder é raro para uma Sagitariana.
No geral, interessa-se por tudo.
É inteligente e isto faz com que seja persistente em tudo o que acredita.

(...)

Para conquistar o coração de uma nativa de signo Sagitário demonstre-lhe que é uma pessoa honesta e que tem uma mente aberta, nada conservadora. É muito aventureira e procura ter a seu lado alguém com quem possa correr mundo ou andar de festa em festa, por isso mostre que tem um grande sentido de humor, seja alegre e dinâmico. Terá de saber estar sempre à altura dos acontecimentos e trazer novidades à relação, pois a monotonia afugenta-a.

(gostei do andar de festa em festa...obrigado)

«És Linda»


Eu era pessoa para te dar o pequeno-almoço à cama,
Era capaz de seguir-te os passos, sem embaraços de patriarca.
Ser o teu maior confidente far-me-ia contente.
Presente. Pudesse eu ser o teu presente,
Abraçar-te, tornar quentes as tuas mãos,
Sentir os teus olhos sãos, sem reservas nem senãos.
Sou, por ora, aquele que te ignora,
E que te envia mensagens com emissor não identificado.
Só quero que assim me aceites,
Pois só eu sei como és linda.
«És linda».
Só quero que tenhas fé naquilo em que não acreditas.
«És linda».
Pudesse eu ser dizer-te,
Com um prato e uma bebida entre nós,
Que és bem mais do que aquilo que vês em ti,
Que o rigor com que te controlas não tem tanto valor como tu,
Que a perda de gramas enfraquece as tuas chamas,
E que com esse sorriso de plástico não me enganas.
Quando por mim passas,
Às pressas, à saída do refeitório.

Sim, escolhi aquela mesa, junto à entrada,
Para quando levas, embrulhada, a sobremesa,
Deixando o prato quase cheio.
Assim tens que passar por mim,
E sentir que alguém te sente e observa.
Pudesse eu ser o cabelo que enrolas entre os dedos,
E amaciar os teus medos,
Sem julgar os teus segredos.
«És linda».
E sempre que por mim passares,
Podes trocar olhares e, até, esgares,
Porque mesmo sem falares,
Lembrar-te-ás de que és linda.
Porque alguém te viu.
E te deu prazer (de comer), sem nada fazer.
Sem crer que «crescer é sofrer», em silêncio.

Vidas Privadas - Crónicas de Clara Soares
A todas as jovens que sofrem de distúrbios alimentares (anorexia)
e perturbações da imagem corporal.

...favorito...


Sendo um dos meus livros preferidos, mal posso esperar pelo filme...

Tenho saudades de ir ao cinema!

queres vir comigo?

vê aqui :


http://www.youtube.com/watch?v=YtcZhIrhAaY

18/03/2009

...por outras palavras...

Foto retirada da net : sentidos mudos

Ninguém disse que os dias eram nossos

Ninguém prometeu nada

Fui eu que julguei que podia arrancar sempre

Mais uma madrugada

Ninguém disse que o riso nos pertence

Ninguém prometeu nada

Fui eu que julguei que podia arrancar sempre

Mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos

E rasgar-me do mais fundo que há em mim

Emaranhar-me no mundo

E morrer por ser preciso

Nunca por chegar ao fim

Ninguém disse que os dias eram nossos

(Mafalda Veiga - album cantar de 1988)


... momentos...


"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Nao perdi nada, apenas a ilusao de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares

(a propósito de sua mãe, Sophia de Mello Breyner)


...Pai...

Escrevi-te hoje pai...
já seguiu em correio azul,
para poderes ler, amanhã,
ai
nesse quarto piso do Stº André,
onde ontem te fui ver...
e onde não quero mais voltar...:

Pai…
Hoje é dia do PAI, assinalado no calendário.
E não deve ser o único dia, em que saibas que te trago, no coração. Todos os dias, para mim, são dia do pai, são dias de querer ver, o meu pai bem.
Mas hoje é dia do pai, e mais uma vez, foste levado para longe de nós, que te amamos, por esse ódio imenso que trazes no coração, e que espalhas, por todos à tua volta.

È desse ódio que tenho ódio. È essa tua fraqueza de cobrar e culpar aos outros, o que corre mal na tua vida, que transtorna toda a gente que te quer bem. È essa incapacidade de tolerar, e de suportar a dor, que carregas contigo, que te torna tão frágil, e tão violento em simultâneo. Mas nunca deixas de ser o meu PAI, que eu adoro.

Custa muito, de cada vez que não estás bem, deixares ainda pior, a nós, que também não estamos bem, nem podemos ajudar-te de outra forma, senão tentar sobreviver ás injustiças deste mundo a teu lado. Mas tu pai, com esse inferno que vives dentro de ti, arrastas para o fundo contigo toda a gente, e afastas todos de ti.

Isso deixa-me muito triste. Principalmente no dia do PAI. Porque me lembro que o meu PAI não está bem.
Não és feliz?! Claro que não….eu sei, mas eu também não…ninguém é feliz neste mundo, principalmente nos dias que correm. Mas isso não te dá o direito de culpar os outros, e de maltratar os outros, ou de desejar tanto mal aos outros.

Já viste há quantos anos, tantos dias consecutivos, desejas a morte, aos que sempre estiveram do teu lado, só porque estás zangado… só porque estás desesperado, só porque tens que arranjar um culpado para a tua dor…? Já viste como temos todos vivido… dias e dias, oprimidos, ameaçados, constrangidos… porque dizes a alta voz, que nos queres mal…e que todos nós, os mais chegados a ti, somos acusados, da tua ira, da tua infelicidade…? Já imaginas-te o quanto isso pode doer-nos, e transtornas-nos, e afectar-nos a todos?

Não é normal PAI, uma pessoa pensar só em si, e estar-se marimbando para o que faz aos outros. Costumas dizer que; primeiro tu, depois os outros, mas ninguém quer acabar sozinho neste mundo… nem tu, nem eu.
Não tens que carregar tudo sozinho…mas também não tens que empurrar tudo para quem nunca te desejou mal, nunca te abandonou, nunca te roubou, nunca te desejou a morte, nunca te quis ver sofrer… e a quem tanto fazes sofrer…só porque sim… e sem merecer.

Toda a gente pode hoje dizer…” eu não sou feliz…a vida corre-me mal…” Mas nem toda a gente diz; a culpa da minha desgraça é do meu filho, da minha filha, da minha mulher… Isso não se faz… e isso marca… a nós que consecutivamente vamos sendo massacrados com essa tua teoria, que na prática é apenas a tua escapatória, por não conseguires ter uma vida diferente…

Mas a ti, ninguém te culpa pai…ninguém te julga… apenas queríamos que deixasses de nos culpar, de nos castigar, e entendesses, que podem haver em harmonia momentos felizes… pode haver paz, entre uma família que perdoa a guerra pelo passado, perdoa os ódios e intolerâncias alimentados por anos e anos de discussões sem nexo, que cultivaram ideias fixas na tua cabeça, que tanto mal te fazem, e não te libertas delas, nem a ti, nem a nós.

Não está fácil a vida… nem para ti, nem para ninguém.
Até concordo contigo, se me disseres, que a nossa vida, não é vida para ninguém… mas é o que temos no momento, e não é andando sempre á zaragata e a distribuir ódios uns pelos outros, que vamos conseguir ter paz, ou ultrapassar esta fase, que já vai longa demais…para todos nós.

Gostava de poder dizer-te, que ainda te vou ver feliz… que ainda vais ter orgulho em estar neste mundo…ainda vais agradecer á vida por te deixar ver os teus netos crescer…ainda vais arrepender-te de todas as vezes que disseste á tua mulher, ao teu filho, ou á tua filha, que os querias ver morrer, ou apodrecer… Isso não pode ser verdade… nós não merecemos isso…!!!

Mas não sei prever o futuro:
Não sei dizer-te se eu própria vou aguentar muito mais tempo nesta vida. Há anos, que todos os dias desisto, e todos os dias resisto. Porque, como sabes, também eu, nunca fui feliz, mas existo… e entre os dias, em que vou morrendo, e outros em que vou agradecendo estar viva, nem tudo está perdido.

Não sei dizer-te se a minha mãe, vai sobreviver muito mais tempo nesta vida. Há anos que não tem vida, e agora muito menos.

Não sei dizer-te, se a tua neta vai querer continuar a pertencer á nossa vida, ou se vai conseguir viver a sua vida, depois de tanta confusão instalada nestes seus tão conturbados primeiros anos de vida

Não sei se o teu neto, não vai um dia destes dizer-me que prefere estar com o pai, onde pode ter outra vida.

Não sei se o meu irmão, vai resistir, a tanta cacetada, que também a vida lhe tem dado…

Todos nós já errámos, e todos nós já nos perdoámos, e decidimos sempre dar mais uma oportunidade á vida… e seguir em frente, na esperança de que outro dia, a seguir seja diferente, e possamos dizer mais tarde que valeu a pena lutar, contra tão malfadada vida…
E valeu a pena levantar-mos a cabeça, contra a dor, e insistir nesta vida.

Mas não sei, se tu continuas a querer bem, a todos nós, a toda a vida que te rodeia, e que precisa de ti, para ser vida. Tu fazes parte da nossa vida, e nós queríamos ver-te bem. Controlado, e com vontade de estar, e ajudar esta vida a ser vivida.
Mas não sei, se tens coragem de viver bem entre nós.
Viver mal…tem sido toda a nossa trajectória até aqui.

Para viver-mos melhor… não podemos pensar só que não há trabalho, que não há dinheiro, que isto que aquilo…temos que pensar que, vale a pena acordar, todos os dias, para dizer bons dias, a quem nos olha nos olhos. È preciso então valer a pena quer com mais ou menos dificuldades, quer com mais ou menos desvios do que seria ideal para o que corra menos bem ou mal, querermos continuar… e tentar fazer de cada dia, um pedacinho de vida, para chegar-mos ao fim de mais um dia e dizermos, obrigado á vida.

Desejo-te de coração, um feliz dia do pai… Mais um dia, para te orgulhares ainda por muitos anos, e a nosso lado, menos transtornado, para bem de todos nós.

Beijinho e Xi – coração
Ao meu pai

Marta Luis

16/03/2009

... janelas ...

Ana Lee - Ou Isto ou Aquilo

Fecha-se uma porta ...abre-se uma janela... lá diz a Romana na sua lindíssima e nova canção...
E é... deve ser...assim:
Não tenho tido realmente pachorra... não tenho tido tempo ou vontade... se calhar estou a crescer, a aprender a viver, a digerir, a ultrapassar, a purificar...
Tou naquela do, não dever explicações, apenas e também e por si só, por as não ter... nem pra mim... Mas novidades... claro... há sempre novidades, queres saber ?!

Consegui por estes dias:

- Curar o meu filho de uma semana podre de febres inexplicáveis pela ciência...
- Falar com o meu ex marido mais de 4 dias seguidos, sem discutir... mesmo que só por dois minutos de cada vez...
- Recolher mais uns quantos amigos/ouvintes no meu armazém de vontade de me dar sem pedir nada em troca..
- Passar mais uma temporada no stress do trabalho que é fiscalizar obras publicas em ano de eleições, sem me apetecer matar ninguém, nem ao chefe...
- Sobreviver a mais uma cena triste cá em casa, com o meu pai, a ser levado uma vez mais pelo ódio que carrega no coração, para uma unidade psiquiátrica, depois de mais uma vez, desejar a morte e tentá-la, aos que o mais amam...
- Sobreviver a mais uma semana de espera e ainda, pela operação da minha mãe à cabeça...
- Arrebitar dos amuos impróprios a minha sobrinha difícil...

- Consegui passar pelo menos já duas semanas, sem ver televisão.
- Consegui beber uns copos, falar com amigos, rir-me brincar...cantar dançar, cantar cantar... ( só tenho pena de não conseguir encantar)

- Consegui, penso eu de que, despistar um desenganado que não me largava
- Falar com pessoas que há bué não davam notícias.
- Consegui recusar dar a minha casa de mão beijada, com todo o sangue frio e sem remorsos.
- Consegui borrifar-me para tudo o resto, por um dia, pelo menos...

- Olhar com olhos de ver para um pirata que me interessava apenas por saber que debaixo da máscara, também tem o ser... que respeito... não vou estragar, não vou tocar... mas agrada-me saber que existe...

- Consegui ficar calada, porque sim, e não reclamar, porque se calam pra mim, ou porque quando preciso de gritar não estão nem ai pra me ouvir...pra me abraçar....

- Consegui não levantar-me, mas pelo menos mexer-me... e lembrar-me muito mais docemente do que amo, e do que quero, e do que não tão urgentemente chamo... Consegui acalmar e deixar que quem queira, que se aproxime de mim...

- Posso estar a ceder, a vergar a envelhecer... quero lá saber... mas agora entendo que é preciso calma, até no mais fundo acto do desespero, embora ainda não o tenha aprendido a controlar ou a eliminar, ele resiste...mas está como eu...anestesiado....
- Não sei por quanto tempo com esse efeito...mas até esse desespero está do meu lado...

- Consegui deixar que me cantem a cantiga do bandido como se tivesse agora 18 anos, e sorrir... e descobrir que ás vezes, também é preciso deixar os outros sonhar... ou brincar connosco e deixar pensar que estamos a acreditar...
- Consegui cortar o cabelo que estava quase pelo cú, e ficar pelo pescoço (o que para uma gaija como eu, é uma grande aventura)

Pior que o que estava...não podia ficar e ... Apesar de tudo:
- Consegui animar-me....ver que mesmo sem ti, a minha vida é cheia.... cheia de coisas boas, e de coisas más... mas é a minha vida... e cá continuo, sim, sem ti... como sempre estive...(E se me quiseres, terás que ser tu, a querer entrar ou fazer parte desta minha vida...que eu cansei-me de pedir-te que me incluísses na tua, e de me manter ausente de toda ou qualquer outra espécie de "vida")
- Consegui achar que, nada mais tenho pra te dizer, e enquanto isso te magoar, porque a mim, doi demasiado, poderás pensar que realmente, alguma coisa, terás que fazer....

- Consegui deixar que me surpreendessem com um convite completamente inesperado, mas que me fez feliz, mesmo que nunca venha a efectivar-se.(Poesia e Música, sempre fizeram parte da minha vida... e se puder ajudar alguém que me admira, com isso... melhor... talvez peça ajuda ao chá de cebola... )

Hoje apetece-me apenas, antes de ir dormir... ouvir...
aqui:



14/03/2009

...recipiente....

Imagem retirada da net - bruxas !!!



"Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele,
pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo."

Pitágoras

11/03/2009

...Insisto...

foto de manuela alves em www.wordpress.com

A persistência em amar:

Não sei por que eu ainda insisto em ser romântico, enquanto o mundo prega relacionamentos abertos, trocas constantes, beijos sem compromisso.

Não sei por que eu ainda insisto nessa de haver um grande amor, se só vejo alguns pequenos incapazes de amar.

Não sei por que eu ainda insisto em te esperar, se todos os caminhos te conduzem ao não chegar.

Não sei por que eu ainda insisto em sorrir mesmo com tanta dor, se a vida me dá motivos para a lágrima não cessar.

Não sei por que eu ainda insisto em amar, se retribuem com muito pouco o que eu tenho para dar.

Acho que é porque eu sempre sei que o verdadeiro amor é raro, difícil e valioso.

Uma recompensa, para quem acredita e não cansa de esperar.

E esperar amando é um jeito doce de se iludir que não há solidão e que a caminhada não é vã.
Peço que o amor venha me encontrar, porque perdido eu já estou.


Cena de Johnny & June (2006)
para o dia que o amor chegar

...Lua...

A noite é nua na noite de lua cheia
O céu flutua na noite de lua cheia
O amor atua na noite de lua cheia
Ocupa a rua na noite de lua cheia


Calma, queda a alma
Clara a emoção
Branca e branda a chama
Tão morna a paixão


Longe leva a vista
Leve leva o ar
Luva veste a terra
Leite lava o mar


Love, love quase se vê
Move, move em mim, em você
Chove, chove prata sobre nós
Ouve, ouve, deve ser a lua, sua voz


É quando quero, quando espero um grande amigo
É quando vivo por um bom motivo - a lua
É quando sinto que não minto quando digo:
Não há perigo, tenho um grande abrigo - a rua

Noite de lua cheia - de gilberto gil

...amai...

Audrey Kawasaki - Amai


Vós,
que sofreis,
porque amais,
amai ainda mais.
Morrer de amor é viver dele.

...entendimento...

"Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo entendimento.
Renda-se como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Eu sou uma pergunta."

Clarice Lispector

... Aprendendo ...

foto retirada da net


Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é...Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama... Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a... Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.

Tudo isso é... Saber viver!!!

09/03/2009

...armadilha do silêncio...


Agora é a minha vez.

De agarrar as tuas mãos, de puxar as tua mãos, de ficar perdido às tuas mãos.
De viver o tempo que se perdeu, que na distração dos dias fingiu não ver-nos.

É a minha voz a dizer-te de repente, uma frase qualquer muito parecida com um estou aqui, e nesse repente tu também saberes que eu daqui nunca tinha saido e tinha sido os olhos das letras por onde te guiava.

É como tu sabes,
o silêncio é a maior das armadilhas,
porque esconde todas as palavras.


publicado por broken inside em http://madrugadacruel.blogspot.com/

...idioma...


Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua. O sangue sabe-o.

Uma inteligência esparsa aprende esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida inteira essa música incessante.
Morte, morte.

Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente
nos consuma sem a consumir.

Cecília Meireles

...temos pena...

foto retirada da net

O nosso crescimento pessoal, faz-se das experiencias que vivemos e nem sempre o mundo nos poupará, a vivermos só as mais agradáveis...

Crescer... é seguir....
Seguir, é ultrapassar...
Ultrapassar é partir pra outra, sem culpar....
Falhar, é não querer crescer...depois de errar...

Falar é fácil... e a publicidade também engana...mesmo a que é só escrita...

Temos pena... mas por mais que quisessemos, nunca iriamos ver, o passado, o presente ou o futuro com os mesmos olhos, os mesmos julgamentos, os mesmos sentimentos...

Temos pena, mas não podemos concordar em tudo...
E enquanto há duas pessoas, há sempre duas versões, de um mesmo acontecimento.

Não falhes... e se falhares não deixes de o assumir...
As desculpas, sempre o soubemos, não deveriam ser pedidas, antes evitadas...
Mas quando não evitáveis.... temos pena... apenas quando não desculpáveis!

( para o que me fizes-te, não há desculpa...mas, eu já te desculpei ...
Temos pena, que não sejamos inteligentes ou irracionais o suficientemente, para ambos o termos feito )



PS :
Sotão arrumado...
aqui não vivem fantasmas, nem arrependimentos!!!

06/03/2009

...Incroiable...

Folha a folha vai,
o Outono a caír
Letra a letra escrevo,
o que hás-de ouvir
Longe de ti
só posso inventar
Olhando as nuvens
sempre a rodar
Sentindo o vento,
chuva no ar
Gota a gota cai,
a chuva no mar
Passo a passo vou,
para onde quero estar
Olhos nos olhos,
a mão na mão
Sentindo o vento,
sentindo o chão
Se gosto de ti,
porque não?
(xutos - longe de ti)

...coincidencias ...

Que realmente existem coincidencias, existem...

Andava eu aqui, ontem a divagar pelo que se perde ou não perde quando se nega um passado, seja ele feliz ou infeliz, eis que não me calhava mais nada... a curiosidade levou-me hoje ali, e hoje li, num balanço pessoal de alguém que amei, e nunca esquecerei, que, não tinha mais nada a perder, quando me decidiu "perder"...

Trata-se de alguém a desvalorizar outro alguém, para mostrar a outro alguém, que hoje é outra pessoa...
Impressionante! O "nada", é a negação de tudo!

Curioso; como as pessoas quando se tentam justificar se contradizem
(logo a seguir, diz que, só agora aprendeu a amar) pelas suas palavras, que sempre gostei de ler, mas lamentávelmente, as que foram escritas para mim, foram-lhe também apagadas...

Sim, admito, que é preciso ultrapassar.... eu também ultrapassei... mas, nunca apelidei de "nada" ao que tive, e nunca perdi.

Já era tempo de seres feliz sim... já que comigo, parece que nunca tal aconteceu.

mais uma vez concluo...

nunca me amou
nunca me teve
nunca me perdeu

Mas, ainda bem, que finalmente, está bem... e que houve alguém que não eu, que o encantou!

As melhoras (o teu filho, precisa de ti Bem!)

PS: (eu também estou bem....como sempre, obrigado!)

05/03/2009

... lugares...


Nunca deveriam as pessoas (normais, mesmo que disturbadas) negar o que um dia viveram...

Quando se nega que se amou, que se foi amado...nega-se a si próprio...

Nunca disse que nunca tinha amado ninguém na vida...
Sempre amei...todos menos a mim... e não sou de todo uma pessoa normal... nem tão pouco racional, ou levada pelo que os outros pensam...

Deixar de amar, ou voltar a amar, é o mais frequente entre os sobreviventes dos relacionamentos a dois.

Deixar acontecer, perdoar, respeitar, desdramatizar, tudo isso, acho tragável, no dia a dia, entre amigos, colegas, conhecidos, desconhecidos, mundanos, galácticos ou não, Ets e outros... sendo que admito que é sempre mais fácil falar do que agir...

Mas o mundo gira, e nós também...
Os nossos estado, comportamento e capacidade de surpreendermos a nós próprios com forças ou fraquezas que até um dado momento desconhecíamos em nós, circulam por todos nossos dias, em que vamos vivendo, ou deixando de viver.... e não tem rota fixa nem apeadeiro onde saibamos que vão voltar a passar.
Só o que se deita fora...nunca se consegue recuperar.

É normal qualquer um, mesmo o maior inadaptado deste mundo, seguir, ou recuar, pra depois voltar a emergir...

Sempre separo, embora não com intenção de magoar (apenas para arrumar as coisas, em mim, de alma e cabeça), os que fizeram dos que ainda fazem parte da minha vida... mas nunca apaguei nem da memória nem do coração os ficheiros, os lugares, os traços e os laços ou deslaços, daqueles com que em algum lugar anterior me fundi...

Não me é normal, negar... por isso embora o aceite, com tristeza, não o consigo entender nos outros.
Prefiro...ultrapassar, assumir, e registar, com todos os sentimentos que o arquivo das pessoas, ou momentos em nós possa implicar... mas nunca negar... ou de todo esquecer, ou fingir que nada houve ali atrás... muito menos, quando deixa algo, para sempre, de nós, e para nós...

É avançar para a mentira viva, esse ter que se negar, para seguir em frente em qualquer ponto que esteja o nosso caminho...
E é por ter sido sempre verdadeira, em toda a minha vida, primeiro comigo e depois com os outros, e por a mim ter sido unicamente fiel, desde bem novinha... que sempre pelos outros fui acusada de infidelidade...
Mas não aceito esse rótulo... não se encaixa em mim.

Não sou de todo...mas, sou muito mais transparente com os que me tocam, do que com os que dizem, que me conhecem, e apenas o dizem...

Não nego, as lágrimas, não nego os sorrisos, não nego os ódios, não nego os amores, nem os que tive, nem os que não tive...

Talvez seja por isso, que continuo sempre... parada... nesta estrada.
Mas prefiro assim...

Eu sou mais eu...
E todos os seres queridos, ou lugares...que fizeram parte do meu passado, fizeram também de mim, aquilo que sou hoje.
Quem me nega é quem fica a perder, porque logicamente, embora não perceptível por toda a boa gente, essa pessoa que hoje sou, só posso partilhar, com os que no presente, estão comigo... o que poderá ser bom para mim, menos bom para outros...mas pelo menos, seja verdade...

Os que negam um dia ter-me amado...escolheram...
E sendo assim, que assim seja...
Nunca me amaram!?... O futuro... o dirá...! (algures)

04/03/2009

...de novo...

Mulher mascarada - quadro de Reynaldo Fonseca

Aqui estou eu de novo
Dentro do mesmo caos que criei
Tentando arrombar as portas
Quebrar as algemas
Da vida que sabotei

Aqui estou eu de novo
Me sentindo só, esquecida
Correndo milhões de riscos
Pra manter acesa
Aquela mesma ferida

Aqui estou eu de novo
Cercada das mesmas dores
Chocando quem me conhece
Nessa doce brincadeira
De inventar milhões de amores

Aqui estou eu de novo
Me traindo de novo
Esquecendo de novo
Lembrando de novo

De novo


rosele em http://www.escrevo.org/

...mais do mesmo...

Flutuo...

Continuo...

Fico...

Arrasto-me ...

A matutar ...

A lutar,


contra essa maior agora vontade do que medo, de partir...

Perpétua-se essa frase em mim...

..."Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem..."

o teu olhar,
o teu cobrar...
a minha culpa por ir e não te levar...

E não sei mais, como fazer...
como sobreviver...
como ajudar-me, como te ajudar...!

Falta-me tanto...esse "tanto"
... pra te poder dar...


E de que adianta ?!...


Nunca entendem os que mais amo,
e que insistem que precisam de mim e que me cobram a força de
continuar...continuar...

que eu não tenho essa força sozinha,
que sou eu, quem mais deles preciso,
sempre quando mais me abandonam...!!!

a mim, e aos demais...!!!

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Devinho tinto de sangue


Cálice
letra e música: Gilberto Gil, Chico Buarque
1973

03/03/2009

...os degraus...


Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

(Mário Quintana)


...just when i needed u most...

Eh Pah...não sei porquê, ou sei mas não consigo ir dormir... e esta canção está-me aqui petrificada esta noite... não consigo evitá-la...parece que me persegue, tal como sempre acaba por me acontecer, não só nas canções... Randy Vanwarmer tinha apenas 18 anos quando compôs aquele que é hoje um dos grandes clássicos românticos "YOU LEFT ME JUST WHEN I NEEDED YOU MOST." e gravou este tema em 1979, uma canção que eu com 11 ou 12 já adorava cantar, e que se manteve no top 30, durante vários anos... Randy nasceu em Indian Hills no Colorado a 30 de Março de 1955, onde cresceu.Continuou a escrever grandes canções, nomeadamente para os Oakridge Boys.Vanwarmer morreu a 12 de Janeiro de 2004, num hospital de Seattle com 48 anos.Sofreu de leucemia quase toda a sua vida.


You packed in the morning, I stared out the window
And I struggled for something to say
You left in the rain without closing the door
I didn't stand in your way.

But I miss you more than I missed you before
And now where I'll find comfort, God knows
'Cause you left me just when I needed you most
Left me just when I needed you most.

Now most every morning, I stare out the window
And I think about where you might be
I've written you letters that I'd like to send
If you would just send one to me.

'Cause I need you more than I needed before
And now where I'll find comfort, God knows
'Cause you left me just when I needed you most
Left me just when I needed you most.

You packed in the morning, I stared out the window
And I struggled for something to say
You left in the rain without closing the door
I didn't stand in your way.

Now I love you more than I loved you before
And now where I'll find comfort, God knows
'Cause you left me just when I needed you most
Oh yeah, you left me just when I needed you most
You left me just when I needed you most.


para ver com Tim McGraw em

http://www.youtube.com/watch?v=22CrTnzFrak


...I have to...


It's not time to make a change
Just relax, take it easy
You're still young, that's your fault
There's so much you have to know
Find a girl, settle down
If you want, you can marry
Look at me, I am old
But I'm happy

I was once like you are now
And I know that it's not easy
To be calm when you've found
Something going on
But take your time, think a lot
I think of everything you've got
For you will still be here tomorrow
But your dreams may not

How can I try to explain
When I do he turns away again
And it's always been the same
Same old story
From the moment I could talk
I was ordered to listen
Now there's a way and I know
That I have to go away
I know I have to go

It's not time to make a change
Just sit down and take it slowly
You're still young that's your fault
There's so much you have to go through
Find a girl, settle down
If you want, you can marry
Look at me, I am old
But I'm happy

All the times that I've cried
Keeping all the things I knew inside
And it's hard, but it's harder
To ignore it
If they were right I'd agree
But it's them they know, not me
Now there's a way and I know
That i have to go away
I know I have to go


Cat Stevens "father and son" para ver em :
http://www.youtube.com/watch?v=VlGLuRlhW3c&feature=related

02/03/2009

...Fica comigo...

De Tudo ficam 3 coisas:
A certeza de que estamos sempre começando,
A certeza de que precisamos continuar,
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto, façamos:
- Da interrupção, um novo caminho.
- Da queda, um passo de dança.
- Do sonho, uma ponte.
- Da procura, um encontro...

(F. Pessoa)

Porquê não me pedes pra ficar contigo,

e preferes dizer-me adeus?

Porquê? Tens a mania que sabes o que é melhor,

pra mim, ou pra ti?

Estás feliz, por dizer-me que o tempo tudo cura?

Isso cura ou alivia por acaso a minha dor ?


...Devias...

Bocas que já não desesperam...nem esperam!!!
foto de marta luis em www.olhares.com/maluvik
Devias estar aqui
rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um...
(Eugénio de Andrade)

01/03/2009

...passado...

A 1 de Março de 1996 faleceu, em Lisboa, o escritor Vergílio Ferrreira... Faz este domingo 13 anos... que nos deixou, entre outras, as obras: Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Nítido Nulo (1971) e Conta-Corrente (1980-1988)... Foi sepultado em Melo, “virado para a serra” como sempre desejou. (foi ele quem me disse um dia que : "Há tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz.") censura em oficio enviado a Vergílio Ferreira

"Há vária gente que não gosta de evocar o passado.
Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro.

Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação.

Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser.

O presente é cheio de urgências mas ele que espere.
Há tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz.
Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão.
Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem..."

(Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 5' )