Mais do que ficar à espera que me escrevas, ou que me repreendas com os teus intermináveis silêncios, procuro palavras, para me ligar a ti. Não sei ficar simplesmente desligada de nós e, onde quer que eu pare os meus olhos, há sempre algo, de nós, por toda a parte.
Posso passar um dia inteiro e apenas proferir o indispensável e, viver como muda durante muitos outros dias, pois ninguém mais deverá saber como tu arrancar-me as palavras. Porque aos outros tenho que falar, pra me ouvirem, mas a ti sei que não, sei que tens o coração fora do peito neste preciso momento em que tas digo, em que te escrevo, porque ambos sabemos que meio coração que temos, é do outro.
Sei que estás enclausurado neste silencio manso, tal como eu.
Sei também que te magoo com as palavras, e tu sabes que nada podemos fazer, nem eu nem tu, para o impedir.
Porque as palavras que te digo, rasgam-me o pensamento. Saem de mim, tantas vezes abruptamente, sem querer, que até me assustam, nesta surdez que interrompem sem pedir licença. Assaltam-me, como que gritam dentro de mim, e escrevo-tas, onde nunca as lês, onde não basta, onde não vens, onde não estás...
Onde não te tenho, sinto-te tanto amor!
Onde não quiseste mais ficar, tenho daquelas tão longas conversas contigo...
Perco-me em tantos doces sorrisos, pautados pela musica desse nosso outrora prazer de estar-mos entre um e outro, mesmo que com tudo o resto presente, daquela forma que não incomodava, nada, nem a nós.
Sim, tenho vivido calada, apenas com as nossas palavras, as não ditas, a bailar na minha cabeça, no meu pensamento.
Nunca me recusei verbalmente a amar-te, não o poderia ter feito, embora devesse.
Mas também nunca verbalizei o ultimato que, hoje te traria aqui, ou não, mas pelo menos hoje sabia... e não sei, porque nunca te direi, por mais que te diga, como dói, nunca saberás, por mais que digas como dói, o meu coração.
Acredito que se soubesses, já terias feito uma escolha, daquelas que se tornam físicas não só das intencionais, porque essa fizemos os dois em simultâneo, quando nos entregámos sem palavras.
E é sem palavras, que te vou tendo, que te vou ouvindo, que te vou amando, com respostas em branco inalcançáveis para essas perguntas e medos intransponíveis, que vão sempre existir, mesmo depois de ditas todas as palavras.
Não preciso das palavras pra sentir-te. Em silencio ou não e quer queiramos quer não, estamos em toda a parte por onde ande.
O sabor amargo e doce das descobertas mutuas anda sempre na minha boca.
Os beijos que me fizeram sentir mulher como nunca, estão vivos, estão ansiosos, como as palavras.
Os planos suspendidos, continuam guardados numa caixa metálica em forma de coração, vermelha, aquela que abris-te comigo e, nela deixas-te que te fechasse, pra te abrir todos os momentos, em que não estás comigo.
As tuas mãos que desviam dos meus lábios os meus cabelos, estão sempre aqui, ora apenas me seguram a almofada, me aconchegam o edredom, me passam o guardanapo, me estendem um bombom, ora mergulham suavemente no meu corpo liquido de tanto esperar que descongela, e volta a aquecer, num estado morno, quente, a escaldar, em que me percorres todos os sentidos, só de nos lembrar.
Os teus olhos, aquele claro azul claro translucido dos teus olhos, está sempre a olhar pra mim, ora no mais profundo da minha alma, sem palavras como sempre, ora de pálpebras revestido, a pedir-me que te cubra de beijos e carinhos.
Os teus mimos, a tua saudade, estão sempre em mim, pesem embora as palavras, as ditas e as não ditas, as que nunca te disse, e as que nunca me dirás.
Mas, não preciso das palavras para amar-te, valha-nos isso.
E não serão palavras, que poderão mudar isso, ou isto.
O mar quando me obrigo a ficar frente-a-frente com ele, tráz-me todos os teus recados.
O sol, o luar, o pão e o queijo que substituem a refeição, o corpo do vinho que me ensinaste a saborear, repetem-me todos os teus segredos.
O vento numa noite escura e o frio que me range os dentes, o calor abrasador embora à sombra dentro de um carro fechado, os caminhos de areia e mato para todo-o-terreno percorridos em loucas tardes num ligeiro alugado, as baladas que nos encantaram e que sentimos nossas, as promessas em que nos relemos nas cartas de amor que todos os apaixonados se escrevem, trazem-te de volta, de cada vez que andas afastado.
Onde quer que eu pare o meu coração por milésimos de segundo para descansar, mesmo que apeteça às vezes não voltar a deixá-lo bater sem ti, estás tu em mim com a metade de teu coração que bate no meu e me pertence, pra me dar força pra suspirar, em vez de parar no tempo, e mesmo sem palavras, continuar a respirar o nosso amor, e mesmo sem ele, e com o coração inteiro a sangrar, continuar a viver.
"Espera por mim, amo-te e quero-te só pra mim!"... Pode ser só impressão, pode ser só desejo, saudade, mas acho que foram essas palavras de coragem, que acabaste agora de me sussurrar ao ouvido!
Malu
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