19/06/2009

...cemitério dos poetas...

















Há pessoas que põem palavras nos nossos sentimentos. Parecem-se com os poetas. Mas, depois de surpresa, abandonam os nossos sonhos pé ante pé ou de pantufas. Não sei... Na verdade, decepcionam-nos (devagarinho) e, quando damos por isso, apagam-se dentro de nós. Deixam de ser preciosas e, por tudo o que valeram, não podem voltar a ser só nossas amigas. Partem, portanto, para uma terra de ninguém, muito distante (...)

Este não sei para onde (eu sei que, dito assim, custa só de pensar) é uma espécie de cemitério de poetas dentro de nós. Um lugar de silêncio que convida a espreitar para o que sentimos. Com surpresa e com dor, ao descobrirmos que, ao contrário do que sempre desejámos, há relações - luminosas - que foram morrendo para nós.

Às vezes, assusta. Afinal, não é simpático descobrirmos que mora em nós alguém que, não sendo o Capitão Gancho, tenha ajudado a morrer (de inanição, por exemplo) quem trouxe poesia, ou luz, ou um insustentável rebuliço ao que sentimos...
Ás vezes, atormenta. Porque magoa descobrirmos que - mesmo quando nos imaginamos a dar a sala mais espaçosa do nosso coração - também nós, dentro de algumas, vivemos sem viver, errantes, nesse não sei onde de alguém, entre os seus amigos e os seus amores.
Ás vezes ainda, somos tocados pelos galenteios da vida e, levados pelo entusiasmo, imaginamos que, se desejarmos com muita força, algumas das pessoas que guardamos no nosso cemitério de poetas ressuscitam e regressam, cheias de luz (...)

Eu sei que também entre as pessoas há quem pareça mágico mas intocável. Como eles. Mas não se esqueça: esse é o cais de embarque que, de surpresa, nos pode levar (sem volta) para o cemitério dos poetas.

Sem comentários: