16/06/2009

...assalto à correspondência...


Caro Sebastião…

Não sei qual foi o mal que me bateu a porta nem de onde vem ele, mas é um tanto sinistro…
A uns dias para cá, a melancolia tem me trancado no quarto, não tenho saído dele, estou como doente mas para a minha doença também não a remédio…
Diria que tudo perdeu a cor e o encanto, é o tédio que me consome neste momento.
Ate escrevo no escuro para não ver mais palavras…
Nunca mais vi Raquel…e o tempo ficou mais frio, sabes o quanto sou fraquinho!
As cores tornavam-se monótonas, os sons tornavam-me aos poucos surdos. E a minha animação desfalecia...
Desculpa-me meu amigo, por não te dar novidades a longos dias, mas acredita não me sinto bem…
A dona Lurdes já não sabe o que fazer, é uma mulher incrível preocupada e muito dedicada, ate tem trazido o seu violino, e todos os dias depois de servir o pequeno-almoço no condomínio tenho direito a uma hora de doce música.
Fico com o coração entorpecido, ai Raquel…será que lhe aconteceu alguma coisa?
Espero que por ai as coisas estejam melhores.
Se Maria voltou a andar é de certo porque o sol e a tua companhia aquecem mais…
Obrigado meu amigo, obrigado por todas as cartas e todos os momentos passados são a única luz neste meu espírito desarrumado.
Cada noticia tua soa-me como um novo recomeço…

Um abraço
Leonardo Constantinoviche
citado por

7 de junho 1918


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