15/02/2009

...cá dentro...


"Estou à espera do último pôr do sol, prefiro o silêncio a todas as palavras do mundo, não sei o que se passa mas não suporto a ferida que as tuas fugas me provocam..."

"O amor de que fugi existiu. Pode parecer-te, às vezes, pouco recordado, destruído pelo meu medo e pela sucessão dos dias..., indiferença, nunca terás. Vazio, solidão, lágrimas, abandono, posso agora compreender um pouco tudo aquilo que sentiste, mas se algum resto de amor permanece em ti, peço que me deixes voltar a não ter dor."

"...não andarei em busca da razão do teu suicídio, morreste porque já não aguentavas mais a pressão da vida, vais aparecer outra vez nos sonhos a ensinar-me a esconder, a fugir de dentro de mim e a encontrar alguém."

"...não aguentaste o peso da noite e te deixaste também invadir pelas sombras da madrugada, quiseste morrer sem doenças e sem explicar porquê..."

"... devem saber que ela viveu em mim mas partiu, não me quero perder no passado, não desejo que regresses nunca, preciso esquecer os teus olhos, e a tua boca, procurar o fim das palavras..."

"Se ainda me amas liberta-me,..., perdoa ter fugido, esclarece os meus pais que ao menos uma noite te fiz feliz."

"Não, não podia ter evitado a tua morte. Havia um inferno dentro de ti que me assustava, nunca o quiseste partilhar comigo, como era possível abraçar-te se sufocava, perigos, outro alguém que gostaria de ter amado e esqueci, desespero, escuridão, a imagem do teu corpo na escada interior da casa..."

"Quis guardar-te junto a tudo o que tenho cá dentro, bem perto do mais íntimo que possuo. Sei que não vou voltar a ouvir os teus passos de amor no silêncio da noite, a vida agora tão inquieta pesa nos meus ombros, estou cansado de chorar a raiva de teres partido, mas quero que saibas que não te esquecerei."


alguns excertos do livro "Tudo o que temos cá dentro" de Daniel Sampaio

“... é sobre o suicídio mas não só. É também sobre o amor ou a falta ou medo dele, sobre a família e a impossibilidade de comunicar, sobre a forma como as vivências de e com os nossos avós nos podem marcar a ferro e fogo, de como é vital ter sempre um amigo..."

2 comentários:

Anónimo disse...

sim, no pouco que partilhamos senti-me muito feliz sim...mas como dizem alguns...isso foi só um aperitvo...o prato de resistencia virá um dia pra nos deiciarmos com ele...
Adoro-te sabes?

Malu disse...

um dia sim

outro dia não