31/01/2009

...preguiça...

A leitura após certa idade
distrai excessivamente o espírito humano
das suas reflexões criadoras.

Todo o homem que lê demais
e usa o cérebro de menos
adquire a preguiça de pensar.



e eu...
estou deveras preguiçosa
tento distrair-me por estes dias
de outra forma nem conseguiria estar...

mas não... não se iludam
a preguiça dá muito trabalho...!
principalmente a recuperar, tudo o que nos faz perder...
se é que é possivel entre perder e ganhar
balancear...

30/01/2009

...na boca do mundo...

Se a chama chega,
E ninguém chega à chama
De que vale arder?

Se o barco parte sem velas,
De que serve a maré?

Não se mostra o trajecto
A quem parte para se perder

Não se dá boleia
A quem precisa de ir a pé

E é como quando pensas que estás a chegar
E não deste um passo

Onde estou, nada mais pode crescer
Eu sou assim, uma Fénix a arder
São só os meus erros, é toda a minha culpa

Hoje até o ar anda cansado
Preciso de um enigma
Para pôr fim ao propor

Não sei o que me deu, não costumo estar assim
Desço a rua que passa, rente à boca do mundo

Sinto a vida que passa
E os rumores que circulam na boca do mundo

Onde estou, nada mais pode crescer
Eu sou assim, uma Fénix a arder
São só os meus erros, é toda a minha culpa
E é tudo o que faço
E é todo o meu cansaço
Por fim, por fim…

Onde estou, nada mais pode crescer
Eu sou assim, uma Fénix a arder
São só os meus erros, é toda a minha culpa
É tudo o que faço
E é todo o meu cansaço

E é tudo o que faço
E é todo o meu cansaço
Por fim, por fim…

Sinto a vida que passa
Na boca do mundo,
não se sabe quem é quem…


(Mesa - Para todo o Mal)

...chuva...


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

29/01/2009

...vigora...


Eu não estou preparada para a solidão.
Esta solidão constante para mim, é como uma falta de ar...

Hoje li algures que,
num relacionamento há dois tipos de silêncio:
O primeiro é o silêncio de comunhão,
que representa o encontro do essencial,
onde o dois se torna um.
Um silêncio que dispensa e transcende as palavras.
E existe um segundo silêncio,
que é o silêncio das palavras não ditas.
O silêncio onde cada parte habita uma ilha própria, isolada.
Um silêncio onde nem os suaves movimentos da alma são partilhados.

Como partilhar contigo o meu amor, se não o posso gritar...?
Mal vai o amor se não se diz tudo ... também li,
nesta mesma mensagem que circula mundo a fora,
e da qual retive este silêncio...

Mais: Também li, por aí que,
quem lê muito,
é porque não consegue pensar
pela sua própria cabeça...

Será que estou a ficar limitada?!

27/01/2009

...conversa entre mudos...

estou cansada do silêncio
quantas vezes é preciso gritar pra me ouvires...?!

"...quando um dia falarmos deste amor que pairou sobre as mãos entrelaçadas, ninguém entenderá este silêncio que se sobrepôs ao grito do teu peito, ninguém entenderá este poema que narra o desespero de não te ter aqui, neste instante em que te amo, mais e mais, clandestinamente, e em silêncio..."


(in A Linguagem do Silêncio)
Postado por Mitsotaki em Outubro

...pirete...

Anónimo disse...

"sem ti não existirei mais...nem quero!"
Se não fosse anónimo, responderia, nem eu meu amor, fica!!!
se anda por aí uma carapuça...?!... enfia-la !!!
Não quero mais anónimos identificados na minha vida:
Se são anónimos, nada têm a ver com ela...
Se não são anónimos, não têm a coragem de a ela pertencer...
E depois acusam-me a mim de falta de coragem ?
Daaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh

...presunção de amar...

Contesto a presunção de amar.
Entenderás algum dia porque sou agnóstico?

Tomam-me por descrente, desapaixonado, céptico, eu próprio não me sinto a transbordar de vida. Mas que não haja revolta no sentido para a pacificação.

Admitir que foram as desilusões que me trouxeram em braços seria aceitar que me deixei trazer. E sei que assim não o foi.

Não invejo os que dizem amar, nem alimento a arrogância de mestre.
Não tenho ensinamentos nem palestro. E ainda assim, que se confunda introjecção por apatia estanque traz-me o lívido sabor de injustiça.
Não é uma justificação. É um testemunho. Não serei outro depois dele.

O querer não deixará jamais de se fazer sentir profundo.

Debato-me entre a comiseração e o orgulho do só.
O olhar tem vida própria, remete-me aos espaços questionados.
E o que me segreda sabe da arte do quebranto.
Cínico, não se inibe de se fazer ouvir pela voz que não é sua.
À noite, especialmente.
Há noites não tão escuras, sossegos não tão solitários.
Há tempo que se condensa neste que aparentemente vês.

Mas não. Este que vês não é o que Sou.
Milhares de mim, se havendo quantificação, permeiam-se em múltiplas e simultâneas direcções. Em cada acto, sublima-se o mais exposto.

Sou um espectro.

by creux ame

26/01/2009

...sózinho...



Hoje e agora, é esta, que não me sai da cabeça...

Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Sozinho
Caetano Veloso
Composição: Peninha

...Amália...

O filme...
Sim estreou em Novembro, mas só ontem fui ver...

Sim gostei, aliás, gostei muito apesar das falhas técnicas, e de estarem mais séniores e veteranos do que gente jovem, ou crianças como eu, e houve uma cena entre outras que me identificou com a verdade da sua história de vida, nesta primeira vez que vi, porque sei que vou repetir...

Neste filme, outro filme baseado na vida da Amália que encantou o mundo com a sua voz, vi o que já sabia, como era obcecada pela morte, e como superou ou não, ou melhor ou pior, uma desiquilibrada passagem por este mundo, que não era o seu...

Uma diva, sim, daquelas que diziam que, "a mim, ninguém me diz o que eu devo fazer da minha vida"... como algumas pessoas que tão bem conheço, e reconheço que uma delas até vive em mim...

O filme começa com a cena em que vai matar-se... mais uma vez... Na varanda da suite, depois de tudo... o que depois é semi-mostrado...

A reter... aquele diálogo em que deprimida pergunta uma vez mais :
_ Porque é que eu não posso ter uma vida normal, como a das outras pessoas ?!
E a resposta é dada, como que nos é dada a nós, que nos sentimos iguais:
_ Você não pode ter uma vida como as outras pessoas, porque você não é, como as outras pessoas Amália...!

Pois bem... assim seja, com toda a dor e alegria que isso acarreta.
Devo sentir-me feliz, por ser diferente... devo sentir-me especial....!?

É mais normal, do que julgamos, esse sentimento...
Obrigado por existires Amália, apraz-me dizer-te agora, se é que me podes ouvir.

Ao menos, já não me sinto tão só, neste mundo...!
Acredito que, quando está acordado realmente, Deus, só leva, os que ama!

Malu

25/01/2009

... Inútil...


A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais do que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer, como de resto a maior parte dos seres humanos. Porém, para esta gaivota, o mais importante não era comer, mas sim voar, saber mais, conhecer mais 'alto'.

Mais que tudo, Fernão Capelo Gaivota adorava voar. Mas, como veio a descobrir, esta maneira de pensar e de ser diferente não o fazia muito popular entre as outras aves, em especial dos 'chefes do bando' que o observavam desconfiados. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinho, a experimentar, a cogitar, fazendo centenas de voos...

Não sabia porquê, mas, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior ao comprimento das suas asas abertas, conseguia manter-se no ar durante mais tempo e com menos esforço. Os seus voos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a praia e depois a medir o comprimento da aterragem, os pais ficaram deveras preocupados.

-Porquê? Fernão, porquê? - Perguntava-lhe a mãe - Por que não podes ser como o resto do bando? Por que não deixas os voos rasos para os pelicanos e para o albatroz? Porque não comes? Filho, és só penas e osso!

-Não me importa de ser só penas e ossos, mãe. Só quero saber aquilo que consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber.

-Ouve lá, Fernão - disse-lhe o pai com bondade - O Inverno aproxima-se, haverá poucos barcos e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos voos está muito bem, mas sabes que não te podes alimentar só disso. Se tens mesmo de estudar, então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não te esqueças que a razão por que voas é comer.

Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se como todas as outras gaivotas, tentou mesmo a sério, disputando com o resto do bando a comida dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixes e pão. Mas não conseguiu.

"É tão inútil", pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara bastante a apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia. Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar...
E há tanto para aprender!

(Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota)

24/01/2009

...amar é raro...

cito e subscrevo:

Amar é dar,
derramar-me num vaso que nada retém
e sou um fio de cana por onde circulam ventos e marés.

Amar é aspirar as forças generosas que me rodeiam,
o sol e os lumes,
as fontes ubérrimas que vêm do fundo e do alto, água e ar,
e derramá-las no corpo irmão,
no cadinho que tudo guarda e transforma
para que nada se perca e haja um equilíbrio perfeito
entre o mesmo e o outro que tu iluminas.

Dar tudo ao outro,
dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar,
e mais e mais;
obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência,
fulguração,
mas não tanto que o fira ou destrua em overdose
que o leve a romper o contrato
— o difícil equilíbrio dos amantes!

Amar é raro
porque poucos somos capazes de respirar
as vastas planícies com a metade do seu pulmão;

e amar é raro
porque poucos aceitam a presença do seu gémeo,
a boca insaciável de um irmão
que todos os dias o vento esculpe e destrói.

(Casimiro de Brito, in 'Arte da Respiração')

23/01/2009

...dás-me tudo...

Hoje para mim, és o que sempre foste, desde o dia que não sei precisar, e até ao dia que não sei precisar...
Hoje continuo a sentir-me mutilada e a sofrer, e continuo ainda a querer morrer no mesmo dia que tu, na mesma hora, e de preferencia de mãos dadas...

Sabes que não sei dizer porque te amo, mas amo... não incondicionalmente mas, por tempo indeterminado...
Sabes que não sou sadomasoquista, mas que todos os dias me dilaceras com a tua ausência, e eu deixo...

Trago comigo uma dor, um vazio e um inconformado grito de socorro que abre constantemente esse fosso entre nós.
Chamo uma desilusão, ao momento que se arrasta, por ter tido em ti uma ilusão, que queria transformar em verdade e, que não consigo.
Pedes-me coragem…pedes-me alento… e eu não consigo.

Porquê tanta confusão?

Porquê tanta prova, até ao ponto de me acusares de imaturidade, ou de não saber esperar…?!

Não,.não sei mais esperar…nem quero…
Mas nada mais posso fazer …e é por isso que desespero…!!!

Por um amor daqueles que dói, mas que se querem manter, porque se acredita que sim, que os bons momentos são válidos o suficiente, para todas as dores não os apagarem, apesar da ferida, da desilusão, da espera…da cruel espera…regada com ingratidão.

Dás-me tudo.
Desde uma imensa vontade de continuar...
Até uma gritante vontade de nunca ter existido.

Tenta dar-me um pouco mais...
Daquele dar, sem ter que ser pedido…
Para que este desenho, passe além do esboço,
preciso de um pouco mais...


malu, Alcobaca 23 de Janeiro de 2009

...sem razão...


"Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."

As sem-razões do amor
(Carlos Drummond de Andrade)

...coragem, ou conformismo?!...


Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.

Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.

Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.

Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.

Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.

Faça com que a solidão não me destrua.

Faça com que minha solidão me sirva de companhia.

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

(Clarice Lispector)



Sim, Deus meu... faz com que eu aprenda a me conformar com
o nada...
hoje e ainda, eu não consigo...

...das utopias...

a nossa foto...às escuras

"Se as coisas são inatingíveis... ora!

não é motivo para não quere-las...

Que tristes os caminhos,

se não fora a magica presença das estrelas!"


(Mário Quintana)

20/01/2009

... há vida em mim...


Sim, é retirada da net esta foto

Sim, é de minha autoria a sua edição

Sim, sou mesmo eu há 4 anos atrás

Sim é a imagem do meu ventre

Sim, vivia nessa altura o Rafa dentro de mim...

Sim, são estas as minhas mãos

E foram estes os melhores dias da minha vida...

Tenho a certeza absoluta de que sim

Revelo uma vez mais, pra me não esquecer

Do meu grande, único e verdadeiro motivo de orgulho

Em pertencer a este mundo tão belo quanto cruel

Tudo o resto... é paisagem...!!!



malu

18/01/2009

...Erro meu...

Assalta-me a ideia essa tua marca
Como em relevo no meu existir
Não sei porquê, não quero que saia
Só anseio pra que não doa...

Quero-te em mim sim, mas não assim
Quero-te sem lágrimas e sem culpa
Sem isso que parece desespero
Sem isso a que chamam de medo

Não peço mais elasticidade ao meu corpo
Nem mais orientação aos meus passos
Mas falta-me esse espaço entre mim e ti
Desloca-se o meu coração entre fora e dentro

E ando e desando sem sair do mesmo
Sem poder correr sem medo de se soltar
Esse laço que deslaça sempre que te afastas
E repetes que estás mais perto que nunca

Factos reais não fazem a verdade
Amar-te... Sentir-me amada
Não chegam para fazer-me feliz
Mas descansa... ajudam muito...!!!

Meu erro é ser tão utópica...
Meu erro é querer demais...
O teu erro é gostar de mim...
O teu erro é esperar por mim...!

Malu
Alcobaça 18 de Janeiro de 2009

17/01/2009

...estática...

A estática

"A estática é a parte da mecânica que estuda as forças que atuam sobre os corpos em repouso e parte da possibilidade de se efetivar a combinação (composição) de forças, da mesma maneira que se faz com as velocidades. Sejam consideradas as forças P1 e P2 e a resultante destas R, todas elas agindo sobre um ponto material em repouso.
Para que o ponto material permaneça em equilíbrio é necessário que uma terceira força P3 aja sobre ele, possuindo o mesmo módulo e direção, mas sentido contrário a R. Esse é o procedimento básico da estática, que pode ser aplicado na análise de estruturas mais complexas. "

A Força

"Força é uma ação capaz de colocar um corpo em movimento, de modificar o movimento de um corpo e de deformar um corpo.
Uma força é formada pelos seguintes elementos (características):
- ponto de aplicação: é a parte do corpo onde a força atua diretamente.
- sentido: é a orientação que tem a força na direção (esq, dir, cima, baixo);
- direção: é a linha de atuação da força (horizontal, vertical, diagonal.);
- intensidade: é o valor da força aplicada. "


Agora...tentem transferir tudo isto da engenharia civil para um estado de espirito e, anotem como não estou...sim...também me sinto ausente...
Sem força, sem qualquer espécie de coisa no coração, na alma... um ponto, um sentido, e, a única intensidade que me pesa, é a da estática do momento que me corroi a alma, e me crema de desgosto... ou de marasmo.

beijinho da malu

14/01/2009

...relantim...


Estacionei...
Não me sinto perdida
Não me sinto apressada
Não me sinto stressada
Não vou hibernar

Mas também ainda não sei, para onde vou...
Como sempre e como todos, só sei ainda que, não vou por ai...

Lá fomos...lá fui
Lá me enchi de nada
Lá me despejei de tudo um pouco...
E estacionei como já antes disse,
A vida segue dentro de momentos!

Quando chegar à velocidade cruzeiro...
Talvez já ninguén me consiga apanhar
Mas também não sei quando parto...
Não posso marcar hora , mas também não posso adiar...

11/01/2009

...Fátima...


Quando vou a Fátima sinto uma paz desconcertante...
É como uma energia que me engole, e não sei se é boa ou má...apenas me deixa uma dor estonteante na alma!

Não sou católica...nem religiosa, mas de quando em vez preciso de ali ir... áquele santuário...
E hoje aproveito a boleia...porque tenho necessidade uma vez mais de acreditar...
Acreditar mesmo que seja mentira, que faço parte desse mundo, dessas pessoas por quem alguém melhor, ou alguma coisa vela...por nós.

A vida já me levou em alguns passos até, a descrer que exista essa força superior a quem chamamos Deus, ou criador, que deveria proteger e cuidar, e tantas provas parece que impõe, aos seus, aos que mais ama...!!!

Vou encher-me de fé hoje...
E pode ser apenas um ritual... mas não faz mal... podem até não entender, ou etiquetar bem ou mal...
Não concordo com os sacrifícios...não acho que vamos pedir nada, nem pagar nada ali...
Mas como em tudo na vida, em todas as situações, pessoas ou versões, há sempre um lado ou uma parte que nos atrai, que nos fascina, que nos ama ou amamos, que nos comove, e outra parte que nos repugna... ou com a qual discordamos de todo...
Mas, essas pessoas, essas situações, esses rituais (incluindo o ir a Fátima, mesmo sem pagar pedir ou rezar...apenas ir... que é a unica parte do ir que me leva)... fazem parte de nós e dos nossos ais e das pessoas de nós.

Mas, hoje, eu vou a Fátima...!!!
E amanhã...ohhh cada um dos meus dias amanhã...que sejam, agora e sempre...como Deus quiser...!!!
Finalmente... reconheço que não tenho mais forças pra lutar...para contrapor...para argumentar...
Baixo a crista...baixo as armas... e finalmente rendo-me sim...
Por isso...hoje ...eu vou...a Fátima...!!!
Quem sabe eu ali consiga me entregar... fazer a minha alma, o meu coração ...parar pra descansar!!!

10/01/2009

...vida...

Eis um teste

para saberes se terminaste a tua missão na Terra:

se estás vivo, não a terminaste.

(Richard Bach)

09/01/2009

...oportunamente...

"a vida não passa de uma oportunidade de encontro

só depois da morte se dá a junção

os corpos têm o abraço

as almas tem o enlace"

victor hugo


não deixes passar a vida... a nossa oportunidade

não quero ter que passar por essa fase de outra loucura

de preferir morrer a te não ter

deixa-me ser louca ... por ti

malu

...trauma...

Nos doentes traumatizados, a lesão crânio-encefálica é a principal causa de mortalidade e de morbilidade em muitos dos sobreviventes. Esta lesão é a principal causa de morte nas crianças e em adultos jovens, sendo resultante na maioria das vezes de acidentes de viação. As quedas, são outro factor etiológico importante em crianças e nos idosos.
Actualmente existem outras etiologias resultantes de um crescente aumento de actos de violência e da prática de alguns desportos mais agressivos.

O traumatismo do Rafa de ontem...não foi grave... mas poderia ter sido...
Teve alta ao fim de horas de muita confusão na sua cabecinha, acompanhada de vómitos e depois de muito tempo (para nós) de observação até o galo baixou...
E está a ser vigiado, nestas 48 horas seguintes à queda acidental na aula de Ginástica, na escolinha...

Foi mais um episódio marcante...
Andou a primeira vez de ambulância na sua pequenina vida...

Bem hajam os bombeiros de Alcobaça, sim aqueles dois em especial que tão carinhosos foram connosco (Toninho e Carina beijinho) ... conseguimos voltar a casa antes da meia noite... !!!

E apesar de tudo, e apesar do susto, e apesar do frio...o meu Rafa, foi um herói...!!!
Quase que se portou melhor que a mãe...

PS: acho que vou passar a viver nos nossos hospitais nos próximos tempos ...

08/01/2009

...eco...


Como um eco

Não tinhas nome.

Existias como um eco do silêncio.

Eras talvez uma pergunta do vento.


(Albano Martins)

06/01/2009

...à saúde...

Uma saúde aqui vai, ao términos fulminante de tudo o que está mal na saúde em Portugal, para que se resolvam os pormenores imensos e estagnantes do momento, para que os nossos doentes sejam tratados com eficácia e celeridade e, para que dias como o de ontem, não tenham que ser vividos, por mais ninguém…desmoralizado pela doença e a falta de resposta a ela, assim como as suas famílias, não menos angustiadas…

Ontem, dia 5 de Janeiro de 2009, eu, e pelo menos uma dezena de pessoas, vivemos um episódio inacreditável…mau de mais para ser verdade, na ante sala de espera, do serviço de neurocirurgia dos hospital central de Coimbra, nos Covões… Ninguém estava nada à espera… e foi desesperante…!!!

È dramático ter alguém doente entre nós, numa lista de espera, a aguardar tratamento, solução, acompanhamento, cirurgia, esperança de vida prolongada…
Mais difícil ainda, quando alguém luta por permanecer sobrevivente, numa vida muito menos fácil do que o normal, complicada, em que o mais aceitável seria, desistir logo à primeira, ir-se abaixo, deixar-se levar pela doença, e não querer saber de mais nada… mas não…
Como já anteriormente reconheci…a minha mãe, uma simples mulher da aldeia e de pouca formação, e de pobres famílias, é das pessoas mais ricas e fortes de interior que conheço… é a ancora, aquela rocha firme, sempre a remar e a lutar contra a mais brava de qualquer maré…

Não tem vida… mas luta por ela a cada milésimo de segundo… Não tem quem a mime, apenas quem a desgaste e a use, mas dá sempre o tudo e o melhor de si, a qualquer um, que lhe apareça à frente, mesmo aos que a maltratam e a espezinham constantemente, dentro da sua própria casa…
Está à espera de uma operação à cabeça, que na sua cabeça, poderá aliviar-lhe o que sente, por mais uns tempos, porque se sente obrigada a continuar…a dar… porque sabe que todos ali precisamos dela, para continuar…

Mas apesar de não sabermos os pós, está muito complicada…essa cirurgia…complicada de resolver, para ver o assunto arrumado, em todas as nossas cabeças.
E… ainda não foi desta…!!!

Depois de mais de um ano com quedas aleatórias, com dores de cabeça intrigantes, com zumbidos desconcertantes e desequilíbrios vertiginosos, veio a confirmação por Ressonância Magnética em 2008, que fui fazer com a minha mãe a Leiria, a 15 de Maio.
Tem um Schwanoma instalado atrás do ouvido direito, e tem que ser removido porque, com o crescimento, pode provocar outras disfunções no cérebro e afectar outros órgãos. Como todos os neurinomas, também se sabe que o seu crescimento é lento e a cura é habitual após exérese completa…
Não é um caso de vida ou de morte, mas incomoda, arrelia, e quer-se tratado o quanto antes… e, nesta altura do campeonato:
A minha mãe já não ouve…
A minha mãe já não anda bem com zumbidos constantes e mal-estar associado ao tumor, há mais de um ano…
A minha mãe desequilibra-se e cai quando menos espera e, tem já medo de andar sozinha na rua, ou de tomar conta a sós do seu neto…
A minha mãe não pode tomar nada que alivie…
A minha mãe já teve dois ameaços de paralisia facial…
A minha mãe corre mesmo o risco de com esta operação ficar com paralisia facial irreversível, e nunca mais voltará a ouvir, e mesmo removendo o tumor, porque tem que ser, ele pode voltar a crescer, ou outros, e o que houver vai sempre soltar umas segregações esponjosas que lhe incham a face e os olhos e o contorno no ouvido e maxilar e incomodam constantemente, pelo que anda sempre em massagens de fisioterapia para promover o alívio possível…
A minha mãe sofre muito mais, e de mais do que aquilo que eu sei, ou que me conta…

E não dá mais para esperar…!!!

No mês de Maio fez a RM pedida pelo Otorrinolaringologista do Sto André em Leiria, o Dr. Paulo Enes, com resultado confirmador, que chegou ao médico de família no centro de saúde em Alcobaça, ao Dr. João Melo, em Junho de 2008.
Indicou um neurocirurgião à minha mãe, numa consulta onde também estive presente, numa clínica perto, na Marinha Grande, e disse logo e apenas: vai para boas mãos, que tudo corra bem…isso agora é para tirar…

Fomos à consulta com o Dr. Lozano Lopes. Só conseguimos quase pró final de Junho.
Viu o exame e disse: Isto é para operar, não é urgente para hoje, mas tem que ser removido, assim que possível.
Também fui… e esclareci que em Leiria, o Dr. P. Enes, já tinha pedido consulta de Neurocirurgia com Urgência, para a minha mãe, no sistema nacional de saúde, para darem desenvolvimento ao que havia para fazer. (não é assim tão cru e nem tão linear…primeiro que consigamos digerir e falar a linguagem do que é prático com os médicos, há muito medo, muitos fantasmas, muita emoção gritante que nos atinge, mas que com uma força vinda não sei de onde, nestas alturas, conseguimos pôr sempre de lado…e sei que os médicos não são imunes ao drama, à emoção, mas não é para um abraço amigo que ali estão, é para uma conversa clara, esclarecedora e para ajudarem profissionalmente como puderem que os procuramos)
O Dr. LL esclareceu que opera em Coimbra, nos Covões, mas só vasculares, e este não era caso para ele… há que passar ao colega…o Dr. Peliz…

Aguardamos o contacto telefónico, que aconteceu pouco mais de uma semana depois.
Recebo uma chamada de Coimbra, onde o Dr. Lozano pede, para eu estar com a minha mãe no dia seguinte nos covões, no serviço de neurocirurgia às 8 e meia da manhã com a minha mãe, para falar deste caso com o Dr. António Peliz.

Assim fomos… no dia seguinte… e quando o Dr. chamou pela dona Gracinda de Alcobaça… perguntou pelos exames para ver…
Não há exames, também é assim… na semana anterior tínhamos o exame, mas apenas o temos por 10 dias, depois de outros 10 anteriores os solicitarmos ao hospital de Sto André em Leiria, a quem eles pertencem e não a nós… e depois da consulta da semana anterior, tiveram que ser devolvidos… como manda o Sistema.
Vamos fazer de outra forma, sugeriu: … estamos em Julho… metem-se as férias de Verão em Agosto: Vocês vão pedir o exame ao hospital de Leiria, e na primeira semana de Setembro, na primeira quinta-feira do mês telefonam-me, para marcarmos para virem cá…

Assim foi…
Em Setembro, assim que tivemos os exames da mãe e conseguimos marcar com o Dr. Peliz, voltamos aos covões a neurocirurgia, e finalmente a 18-9-2008, a minha mãe entrava oficialmente no sistema e na lista de espera para cirurgia no Hospital Central, e trazia uma data já com a operação marcada à cabeça, e na cabeça; 5 de Novembro, com internamento dois dias antes, a 3 de Novembro.
Em Outubro já não seria possível, disse o Dr. que já havia muitas marcações, e, o tempo de espera permissível para a urgência da situação era de 2 meses, pelo que…estava tudo dentro dos limites… e programado dentro dos conformes.
Preparámos tudo, no regresso a Alcobaça…tudo desde organizar a ausência da minha mãe, que é o pilar e todas as sapatas lá de casa, até preparar mentalmente a nossa e a sua alma e pessoa, para a dita operação… que ela queria na altura como disse a todos prescindir de, mas que era inevitável.

Estava difícil, mas tudo preparado quando na sexta feira anterior, a 28 de Setembro, recebo uma chamada de um número que não conhecia, não de Coimbra mas da Figueira, da clínica onde está o Dr. Peliz, a deixar-me o recado, para não aparecer com a minha mãe nos Covões a dia 3 seguinte, porque a operação prevista para dia 5 tinha sido adiada, para 10 de Dezembro.
Mais nada…

Foi mais uma estalada na minha ateia cara…perante uma situação já de si, difícil de gerir, de entender, ou de aceitar e manter.
Se bem que o Dr. tinha dito, que se não dissessem nada em contrário a avisar, que seria a 5 de Novembro, o aviso veio quando já não se esperava por ele… e ligando para o serviço nos Covões, já em Novembro… no secretariado de apoio, ninguém sabia dizer-me se sim, se a minha mãe iria ser operada ou não a 10 de Dezembro, porque, só semana após semana, são informadas pelos cirurgiões, das pessoas que vão entrar para internamento e intervenção…

Falei então para o número que me ligara, isto na primeira sexta-feira de Novembro, porque na quinta não consegui apanhar o Dr. Peliz em Coimbra, e não estava a entender nada deste adiamento, nem qual era o dia agora do novo internamento, se seria no feriado, dia 8, segunda anterior à nova data prevista para operar, ou não.
Logo neste primeiro adiamento a situação da minha mãe tremeu, não sei se por efeito psicológico ou não…adiar, provocava ainda mais dor, ainda mais mal-estar, e ainda mais desequilíbrio quer físico, quer emocional…
Falei com o Dr. Peliz… Expliquei como pude o que se estava a passar na minha cabeça e na dela, e ele disse para tomar a medicação que suspendera, e que ligasse uma semana depois para fazermos o balanço…

A meio de Novembro, já a minha mãe estava conformada… em esperar pelo 10 de Dezembro, quando voltei a falar na sexta-feira seguinte com o Dr. Peliz, veio a sugestão, de mais um adiamento…
Não acredito…não me está a acontecer isto… pensei logo…e como vou eu dizer isto à minha mãe…!?
A conversa foi mais ou menos assim…
Olhe, a situação da sua mãe até está mais ou menos estável… e eu acho que operar a 10 de Dezembro, não é uma boa data… porque apanharia a época festiva do Natal, longe da Família e tal … (o internamento neste caso é de na melhor das hipóteses 12 a 15 dias) …
E conforme sugeriu o Dr., e para não contrariar, e para não pensar mais nisso e tal, e para facilitar ou não… aceitámos que a mãe ia passar connosco o Natal, em Alcobaça, e que a 5 de Janeiro seria internada, para finalmente operar a 7, … e que aqui e agora, não mais se mexia, para não mais destabilizar…
Depois de mais alguns telefonemas, ficámos com a garantia do Dr. Peliz, de que nada mais era preciso tratar…
Era apenas apresentarmo-nos ontem no serviço de neurocirurgia para internar a minha mãe… e amanhã, ela seria operada, e este pesadelo pelo menos terminava…

Mas não… Ainda não foi desta!!!

Entretanto, e porque tinham passado os tais dois meses de lista de espera aceitável para a intervenção marcada e não conseguida… o próprio serviço, emitiu como é de sistema, um vale, que recebemos na primeira semana de Dezembro, com prazo de 3 semanas, para que a minha mãe fosse operada numa clínica particular, sem qualquer custo adicional…
Vale esse que, sendo recusado embora com a devida justificação, manteria a minha mãe no seu lugar da lista de espera… e não sendo recusado, seria ainda pior… teria que ser operada, nas mesmas semanas que em Coimbra se tinha acordado que não fosse, para não passar pelo Natal… e em vez de Alcobaça – Coimbra, a distancia geográfica e familiar seria ainda maior, porque a minha mãe iria passar essas pelo menos duas semanas internada na tal clínica, em que a escolhida era no Porto….e nós vivemos em Alcobaça.
Enviei a justificação de recusa do Vale, a 10 de Dezembro, assim que o recebemos onde sublinhei que, já tínhamos agendamento da cirurgia pelo Dr. Peliz, e que decidíramos continuar a aguardar no nosso lugar, na lista de espera… era só até ontem…

Mas, ainda não foi desta!!!
Nem à terceira foi de vez…!!!

Em Jejum…saímos de casa às 6 e meia da manhã… e às oito, conforme o estabelecido, estávamos lá, no serviço de neurocirurgia dos Covões, em Coimbra…
Dos 5 que iriam ficar internados ontem, a minha mãe, foi a primeira doente a chegar…
A funcionária, que a recebeu no secretariado, chegou ao posto, perto das nove, e não era a que ali costuma estar, não sabia de nada…. E mandou esperar…esperar…
Os médicos neurocirurgiões, estagiários, membros da equipa, operadores, e entre eles o Dr. Clínico do serviço, que é nem mais que o nosso consultado anteriormente Dr. Lozano Lopes, por ali andavam, na sua rotina do costume… na salinha envidraçada de reunião e, entre uma sala e outra dos doentes da enfermaria, e pelos corredores se manifestavam presentes, mas com cara de caso… e perto das 10, ouvimo-lo dizer para a colega… temos que ir ver as vagas que ai temos… porque não há camas e está aqui esta gente toda para internamento à espera…
Eram 9 e meia, e todos ali esperavam naquela sala… pela chamada ainda, todos pensavam que iriam ser internados para ficar… mas entretanto…pelo palmilhar os corredores de um lado ao outro, e pelo corrupio que se verificava, tanto eu como a tia Paula, que me foi acompanhar no levar a minha mãe íamos perguntando e íamos ouvindo… A esta hora, já sabíamos, por esta e por aquele e por mais o outro, que não havia camas… e que não sabiam se daqueles, alguém iria ficar neste dia ali internado…
Mas alguém nos disse?! …Não!!! … A nós, ou aos doentes?! … Até aqui, não…!!!

Ainda não foi desta…!!!

A esta hora, já o Dr. Lozano e o Dr. Ricardo tinham adiantado que, ali, não havia condições de internamento, e que a assistente de secretaria não deveria ter aceite ninguém esta manhã… e, foi-me sugerido para falar com o Dr. Peliz, que estava a dar consulta, no edifício em frente…
Lá fui eu, e a minha mãe… e explicamos assim que houve um intervalito nas consultas ao Dr. que estava uma confusão enorme na enfermaria, que não havia camas, mas que estávamos ali todos, para internar…
Ele apenas confirmou que, era para operar amanhã, quarta-feira, mas se ontem, não havia camas, era para quem estava na enfermaria, um problema a por si resolver… e voltámos… e aguardámos, conforme nos foram sempre pedir…aguardámos…

Os médicos reuniram de novo no envidraçado, e toda esta gente ali, numa espera desesperante, no hall ao lado…
Víamos as suas caras de caso, uns sorrisos e uns olhares e uns silêncios em nada esclarecedores ou animadores vindos de todos os lados… e passámos horas inacreditáveis de incerteza, com a vida a passar-nos em filme a andar para trás, á frente dos olhos, e uma angustia e aperto inaceitáveis no sistema de saúde nacional… Um desconsolo, por estarmos ali, sem uma palavra…sem uma satisfação… sem uma certeza de ir ou ficar, que minimizasse o nosso drama…
Os processos individuais de cada um foram estudados bem vimos… foram decidir quais os casos mais urgentes entre os presentes… e teriam que escolher entre mandar já todos embora, ou pedir a um ou dois para ficarem, no tentarem arranjar cama… mas não… a todos continuavam sem dizer nada… a não ser nada…
Às 11 da manhã mais coisa menos coisa, o Dr. Lozano por nós questionado lá explicou ao fundo do corredor à minha tia acelerada com a situação e a mim que, iria colocar o problema á administração, e que eles resolvessem, e que havíamos de aguardar mais um pouco, e por essa resposta que não vinha…
Também explicou qual era para si, o problema: A enfermaria, a meio gás, porque o outro meio está em obras, foi ocupada na ultima semana de 2008, por pessoas que ali estavam, e os lugares vagos, por outras, e que em situações extremas e pelas urgências entraram naquele serviço e enfermaria, por no hospital já não haver mais camas, em mais lado algum onde os pôr…alguns com situações infecto-contagiosas, onde ninguém poderia ficar mais… e então, esse era o problema de não se poder internar ninguém hoje…não haver camas… pelo que tinha colocado a questão à administração, se seria possível arranjar após alguma alta, uma cama noutras enfermarias, em quaisquer outros serviços do hospital para pelo menos um caso mais urgente…e gritante, por ser já a terceira vez que se adiava, e por ser de longe e tal… que era a minha mãe…!!!
Mais angustiante ainda: estávamos ali há horas, era então quase meio dia…toda a gente… num impasse intolerável, sabendo eu, sem poder dizer, que, estava o hospital inteiro à procura de uma única cama, onde deixar de todas aquelas pessoas apenas uma única, a minha mãe…!!!

E as horas iam passando e iam dizendo que deveríamos ir esperando…

À uma e meia da tarde, vieram perguntar à minha mãe e á dona Hermínia (uma sofrida mulher-bomba com um aneurisma na cabeça a rebentar a qualquer instante, que só não foi considerada a mais grave a última a mandar embora, porque ali vive a 3 km de distancia do hospital e, a qualquer meia hora assim que houvesse cama poderiam chamá-la para operar), se queriam que mandassem vir almoço para elas… mas que teriam que continuar e esperar…
Não!!! … Era demais!!! … Todos em jejum…fomos todos ao bar… e…
Voltámos…duas da tarde, e sem novidades…

Minutos depois vejo vir ao fundo do corredor o Dr. Lozano que ao passar nos continua a mandar esperar… e esperar que mais um pouquinho e já fala connosco, para mim, para minha mãe e para a minha tia…
Entretanto o Dr. Armando Lopes e o Dr. Armando Rocha chamam os seus doentes ou dos colegas que não estão, desses outros 4, e dizem finalmente que não há vaga…terão que ir embora, mas pelo sim pelo não…esperem mais meia hora, se quiserem… e lá ficamos…

Uns queriam chamar a televisão, para denunciar este triste episodio, outros diziam que iam escrever tudo no jornal…
Outros diziam que assim não tinham condições para trabalhar e ainda ter que dar a cara, e que iriam suspender todas as cirurgias…
Foram-se todos os outros embora…
A minha mãe desesperada, queria mandar-se ao chão e entrar pelas urgências…queria ficar…queria livrar-se deste problema agora…não mais adiar…
A minha tia agitava-se e dizia que isto não é normal, que estão a gozar com o povo em Portugal… que este hospital é uma vergonha… e sim, a minha tia também bem disse ao director clínico lá, ao fundo do corredor: O Problema Dr., não é a falta de camas… o problema é a falta de sensibilidade de todos vós… que se já estavam assim, a abarrotar, a ultima semana, poderiam ter avisado estes doentes para não virem para cá… para não terem que passar por isto… este “fica - não fica” cruel para todos nós, que ali estivemos todo o dia de ontem, naquela ante sala de espera do seu desorganizadamente dirigido serviço de neurocirurgia, do Hospital dos Covões.

O próprio chamou-nos à salinha do médico, eram perto de 3 da tarde… a explicar, que ir embora, até era o melhor para minha mãe…para depois, e assim que possível e assim que vagar cama, a poderem assistir e tratar, nas melhores condições…sim, concordamos com tudo isso, mas não eram precisas 7 horas, a fazer-nos esperar e desesperar…para ter essa conversa connosco… ou eram?!

Não quero ser injusta, porque sei que das 8 ás 15, fizeram todos o que podiam, para arranjar pelo menos uma cama, para pelo menos a minha mãe ficar… mas nem sequer seria num serviço acostumado a tão delicadas situações, e assim foi melhor vir embora…mas custou muito…voltar atrás…mais uma vez.
Tem razão quando nos diz Dr., que é dar um passo atrás para depois dar dois em frente, tem razão… mas, bastava um telefonema, e não teríamos todos ido, todos vivido, e todos sofrido, o dia de ontem… que já ninguém nos tira, nem a si, ninguém lho tira…

Não estou aqui a dizer, nem bem nem mal, nem a falar nem a mencionar nomes, só porque sim… aqui, venho apenas e sempre pelo que sinto… e ontem, foi um dia muito, muito mesmo carregado, de maus sentimentos…que é disso que aqui falo, que poderiam a bem da saúde de todos nós, ser evitados.

Uma saúde, à vossa organização (de), e à de todo esse Hospital…
Um abraço, e votos de um bom ano… e de que num amanhã muito breve, tudo corra agora e assim que possível, menos-mal.


Alcobaça, 6 de Janeiro de 2009
Marta Luis

04/01/2009

...covões...


Vou ali a Coímbra...

Já volto...

Pensem positivo...
Vai mesmo correr tudo bem...




... mamã ...

Sim... acredito que seja a única palavra que seja exclusivamente de meu direito... do meu tesouro... a única que nunca será dita de forma tão carinhosa, a mais ninguém...porque tudo o resto já me está a doer demasiado pro meu gosto... A inevitável e cruel partilha, aos poucos...

E... não é que a primeira grande novidade de 2009, veio mesmo do mais pequenino...!?

Sim, tinha passado a véspera de Natal com a mamã, e como é da praxe e é justo, foi passar a véspera de ano novo com o papá...

Voltou, pra almoçar, no dia de ano novo, e vinha a arrebentar pelas costuras, ansioso por contar das novidades...

Nunca foi de contar nada do que se passa nos fins de semana que vai ao pai... Ninguém o espreme, ninguém lhe pergunta e de quando em vez, lá deixa escapar, que ficou com a avó, que foi aqui ou ali com o papá, e com a avó, mas...desta vez, foi diferente:

Assim que chegou com o pai, largou-se como sempre, nos braços da mamã...sabe sempre melhor a chegada que a despedida...!

E foi um corre corre, a voltar pro carro, pra irmos almoçar, onde tinha sido a passagem de ano entre a família e amigos, mas sem o Rafa, pela primeira vez... e... sem ninguém lhe perguntar nada... até porque já tinha ido ao pai ao Natal,e já tinha passado a euforia das prendas e de tudo isso... sai-se com a boa nova, do bom ano novo...

_ Mamã...! A Tatiana mora em casa do papá... e eu gosto muito dela!

Assim...de chofre e sem qualquer anestesia prévia...

_ Sim amor... então e quem é a Tatiana, é tua amiga filho...?

_ Sim, é minha amiga, e amiga do pai... e é grande ... e agora mora lá, em casa do pai... e é minha amiga, e deu-me uma prenda embrulhada!

Daaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh

Não é que não se esperasse... ! Mais dia menos dia, o papá iria mostrar a sua amiga, ao mundo, ao filhote... a todos menos à mamã... Mas o Rafa nada esconde... e anuncia com toda a alegria, que o papá tem uma namorada nova.

E a mamã:

_ Sim filho, então e gostas da Tatiana?! Ainda bem que ela é tua amiga. Vá agora vamos papar a casa do Ricardo da Madrinha tá bem?!

_Sim , mamã... mas eu gosto muito da Tatiana. Ela deu-me um jogo de carros, e estava embrulhado...

_ A Tatiana estava a tomar banho...

_A Tatiana dormiu comigo e com o pai...

_ A Tatiana daaaaaaaahhh...

Passa a sexta, passa o sábado, e lá escapa mais uma vez, a tatiana isto, a Tatiana aquilo... não incomoda por ciume, incomoda por não interessar, e ter que se acenar que sim, e que está bem filho e, que ainda bem, e tal... É a novidade tanto pro pai como pro filho, como prá mãe...

Mas .... Sim... prefiro que ele venha entusiasmado com a Tatiana e tudo queira contar, e revele que o tratam bem, que me venha a chorar, chocado ou enciumado como o faz comigo, que não me deixa falar nem aproximar de ninguém...

Sim, também sem saber bem porquê, mas reconheço que deve ser natural confesso; fez-me uma certa confusão inicial... mas já digeri, já encaixei.

Espero sinceramente que a Tatiana, e o pai, sejam amigos do meu filho e que o deixem sempre entusiasmado de partilhar os fins de semana com eles, quando larga a mamã... e que se não a Tatiana pelo menos o pai, estejam sempre lá, quando ele precisar...!

Espero também que, todos nós inclusivé eles, sejamos felizes.

Acho que sim...que já está na altura, e que ambos merecemos!!!

E espero que um dia o Rafa entenda, que o meu único medo perante tal novidade, é o de perder o seu "mamã" carinhoso que me mantém viva...

E espero ainda que um ano destes, um dia destes, também ele, o meu Rafinha, possa dizer... a mamã tem um namorado... que mora em casa com ela... e eu estou feliz...

E aí, a mamã já não vai chorar...

E aí, ele não vai ter que me abraçar e dizer...

_ Mamã, não fiques assim.... porquê estás assim?...

_ Eu também gosto de ti !

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Ai ai... como os nossos filhos crescem.... como a vida passa, com os anos...não é ?!

O assunto "Tatiana" não merece a minha atenção ao ponto de o publicar aqui... até porque, mais tati menos ana, alguém iria aparecer, pois o papá tem direito de refazer a sua vida, assim como a mamã...

O papá e a mamã, tiveram muitos bons e muitos maus momentos, e ambos já passaram.

Foi difícil, aceitar que o meu marido, agora e desde há um tempo significativo ex, nunca tinha gostado de mim o suficiente, pra me dizer que me amava quando as coisas correram mal, ou que queria lutar por mim, o que também não sei se teria sido possivel na altura, nem quero remoer no que já lá vai...

Foi difícil ver um lar desfeito, uma casa linda abandonada e um filhote pequeno que será sempre dividido, atingido, pelos nossos erros... Falhei na altura, por não ter conseguido ser melhor...por não ter feito eu, o papá feliz...mas estou feliz agora, por ele ter encontrado alguém, que finalmente, o possa fazer...

Agora falto eu... continuas a faltar tu... pra que o Rafa também possa ver, a mamã sorrir...!!!

E o que merece a minha atenção, nesta mensagem, é o "mamã" delicioso do meu filhote, que não quero nunca esquecer de como sabe bem... pra me aguentar... no meio de tanta felicidade geral e tanta tristeza em particular...

...momentos...

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Há anos bons... há dias bons, há momentos bons...

Começamos bem... pra captar o melhor pro resto de 2009...

Há-de ser positivo o somatório... o tal balanço prometido pra daqui a uns tempos...

Vejamos só...

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Conseguimos no meio de muitas renitencias, e muita apreensão, e muita dificuldade emocional e material, ter largos sorrisos, novidades anunciadas e banhos de esperança...

IMGP0330

Ora quantos são...

Vamos a eles !!!

Havemos de superar tudo...

E quanto mais difícil, mais valioso...!

IMGP0328

Obrigado aos que estão sempre comigo...

02/01/2009

...hás-de chegar ...


Hás-de chegar com o corpo
Encostado ao rosto
Da cidade.

Com teus olhos
Decididamente tristes
Vens tomar a minha mão
Dar-lhe o gosto das cerejas
E levá-la ao teu
Mais secreto descaminho.

Hás-de chegar
Nas asas do silêncio
Tão mansa como a tarde
Que se esvai
Entornando sobre o chão
O perfil agudo das paredes.

Chegas hoje ou amanhã
Quem sabe?

Hás-de chegar de surpresa
Como sempre
Desviando o sentido dos relógios
E pedindo que o desejo
Se vista de veludo.


José Fanha,
Elogio dos Peixes,
das Pedras e dos Simples

...Só por isso mãe...


Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes,
Vale a pena!

Lopes Morgado

Nos próximos dias, vou estar ausente....mais presente na vida dos que mais amo, porque, são dias difíceis... e hoje, só quero vir aqui, dizer à minha mãe, que Nunca...mas NUNCA mesmo, a vou perder... muito menos agora !!!

Mãe... acredita... vai tudo correr bem !!!

...este ano...


Se fores... vai mais longe!
Se fizeres... faz diferente!
Se rires... ri até chorar!
Se sonhares... sonha mais alto!
Se arriscares... arrisca tudo!
Se pensares... pensa por ti!
Se saíres... sai da rotina!
Se mudares... muda tudo!

Se contares... CONTA COMIGO!!!

Bom Ano Novo!!

(a todos os que contam)