para sentir que nem só a mim me custa "respirar"
e, ao qual a minha alma tem "roubado"
uma espécie de identificação...
"... as reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho..." Quintana
30/05/2009
...Ecos...
...diz-me...
...já não há domingos...
Todas as vidas gastei
para morrer contigo.E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.Todas as mortes gastei
para viver contigo.Mia Couto
...silêncio...
29/05/2009
...Ressaca...
O amor ...
é a droga que me corre nas veias
sem alguma vez ter sido injectado!
Quero-o mais que tudo… Porque sem ele morrerei presa a este meu mundo, que só eu entendo, que ninguém vê, onde ninguém sabe estar ou ser…
Sempre foi a minha ambição, a minha luta, o meu objectivo,
a resposta a todos os “porquês” da minha vida…
Sempre foi o meu sofrimento, a minha desilusão
nunca o tive como o dei ... nunca me amaram como eu amo
Sem o amor
Não entendo este mundo que me rodeia, profundamente triste…
E este sitio horrendo, que me rouba o sorriso mais genuíno e sentido
e no seu lugar deixa lábios secos sem expressão…
Sem amor
Já nem sei o que chorar!
Catarina Rafael (babyKate)
28/05/2009
...Não quero...
...Desisto...
...Arde...
...Fogo Posto...
Quero pedir-te um favor:
recolhe as minhas palavras
e faz um monte com elas,
ateia o fogo em redor
até que brilhem estrelas.
E sem olhar para trás,
vira as costas à fogueira
e não as vejas arder.
Se disso não fores capaz,
corres risco de cegueira
e a alma vai-te doer!
Maria José Quintela
...leva-me...
Leva-me contigo
Não interessa para onde
Nem o como
Ou o porquê.
Leva-me contigo
Afasta-me de mim
Para que não me parta
Aos pedaços
Encandescente
Se não vens aqui...
não me deixes aqui...
moi
...Se...
Se não me amas...não digas a ninguém
Não digas a mim.
Se não me amas
Não digas ao sol... e nem á lua,
que eles não saibam então.
Se não me amas
não digas ao vento que passa
nem aos pássaros que voam pelo céu azul...
Que ninguém saiba que não me amas...
Que eu não tenha certeza do que já sei.
Tereza Bólico
27/05/2009
...Que o Deus Venha...
Sou inquieta, áspera
E desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto continuo inquieta
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Com toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado
Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida
(Clarice Lispector)
...Não vás...
o amor é uma coisa ... a vida é outra
26/05/2009
...Memória...
"Dividi a minha vida em partes
Construí muros altos
Paredes grossas
Selei hermeticamente portas
Para me dividir
Separar em partes
Ser só
Lembrar só
Aquilo que queria ser.
Mas a força que habita
Esses quartos
Hermeticamente fechados
Minou paredes
Construiu túneis
Invadiu os outros quartos
Que selei, para proteger.
E murmura-me ao ouvido
Ri do meu esforço inútil
E relembra-me a cada instante
Que a memória não se fecha
Não há forma de a apagar
Não há onde me esconder. "
Encandescente
...Se tu me esqueces...
Quero que saibas uma coisa.Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal,
o ramo rubro do lento Outono
em minha janela,
se toco junto ao fogo
a implacável cinza ou
o enrugado corpo da madeira,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz , metais,
fossem pequenos barcos que navegam para estas tuas ilhas que me aguardam.
Pois, ora, se pouco a pouco
deixas de me amar,
de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente me esqueces, não me procures,
já te esqueci também.
Pablo Neruda
...Esperas...
...Penso...
No amor também as palavras são necessárias.
Os gestos talvez não bastem.
Nem a chuva lá fora enquanto o amor se inflama.
Nem o sussurro nas árvores quando os corpos serenam.
Nem a melopeia das águas quando as bocas se esmagam.
Nem o fulgor dos olhos quando a paixão se impacienta.
Penso no amor e logo invento palavras
e logo as palavras se põem ébrias.
Penso no amor e logo as palavras
se soltam como fogosas aves
a que não pergunto o rumo.
Penso no amor e logo preciso
que as palavras digam
que amor é este em que penso e em que grito.
Fernando Namora
25/05/2009
...Palavras que nunca se dizem...
Ter-te comigo foi algo forte demais e eu não consigo conformar-me com a tua falta. Não quero pensar em causas, nos motivos que te levaram de mim e muito menos no tempo em que estamos separados. Pensar nisto, é talvez tentar medir a dimensão de minha saudade e isso é impossível.
Tiveste os teus motivos para ir e eu tive os meus para ficar. Penso então que temos as nossas razões para estarmos longe um do outro. Tenho tentado contabilizar as perdas, o que tiras-te de mim e levaste embora contigo? Qual a parte de mim, que escolhes-te para magoar com a saudade? Realmente não sei. O tempo talvez responda, o tempo talvez cure, o tempo talvez apague… tudo o que sei é que... sinto saudades tuas...
Quando eu não mais existir, procura-me na chuva, pois serei os pingos que molham o teu rosto, quando eu não mais existir, procura-me nas flores, pois eu serei o perfume daquela que tu tocares. Quando eu não mais existir, procura-me nas palavras, pois serei a mais pura palavra. Procura-me no mar, pois eu serei as ondas que irão ao teu encontro. Quando eu não mais existir na tua vida, lembra-te, que por algum motivo não estamos juntos, mas que durou o suficiente para ser inesquecível, e disso tudo resultou uma coisa mais valiosa do que qualquer pessoa possa imaginar: o amor que senti(o) por ti...
Mic in www.amoutela.blogs.sapo.pt/
...Porquê ?...
Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.
Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?
...se ao menos...
...Que queres tu de mim...?!...
Que queres tu de mim
Que fazes junto a mim
Se tudo está perdido, amor
Que mais me podes dar
Se nada tens a dar
Que a marca de uma nova dorLoucura reviver
Inútil se querer
O amor que não se tem
Porque voltaste aqui
Se estando junto a ti
Eu sinto que estou sem ninguémQue pensas tu que eu sou
Se julgas que ainda vou
Pedir que não me deixes mais
Não tenho o que pedir
Não sei o que pedir
Se tudo o que desejo é pazQue culpa tenho eu
Se tudo se perdeu
Se tu quiseste assimE então , que queres tu de mim
Se até o pranto que chorei
Se foi por ti , não sei(bolero, 1964) - Jair Amorim e Evaldo Gouveia
Canção originalmente gravada por Altenar Dutra, e posteriormente versada por vários outros artistas da MPB, como Fafá de Belém e Simone
22/05/2009
...Tu sais...
...Vaga...
...Memento...
Faz tudo como se alguém te contemplasse
Epicuro
...O teu sabor...
Evitei
assim como evito o chocolate Godiva
Tento não comer queijo da serra à colherada
Nem pão quente
em domingos inteiros sem sair à rua
Tento não me fechar
Não ficar só
Pra não lembrar de como é bom estar a sós contigo
Não resisti
e saboreei cada cereja
no primeiro molhe do ano nas minhas mãos
Como queria saborear todos os frutos da época,
a cada época, contigo
Como queria...
Como sabia, que me perderia
por apenas viver...a cada dia
E tudo o que toco
Tudo o que provo
Tudo o que aprecio
Morre sem gosto
Morre sem sal
Falta na minha vida
nos meus dias
nos meus ais
o teu estar
o teu sabor...
Malu
21/05/2009
...Faz-me falta...
Faz-me falta um demónio,
ao menos um demonio,
que se acomode no sótão mental
para expulsar dos versos as metáforas,
dar um jeito travesso na ternura
e um som de sacrilegio nas paixões.
Um demónio servil
para pintar de carmim os labios descorados
dos múltiplos rostos
que a verdade costuma apresentar-nos;
e que varra do chão
os vidros rotos
em que piso descalça
na minha travessia do deserto.
Tania Alegria
...Promessas...
20/05/2009
...Andas a semear pedras...
A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a dor do ser que se ausenta,
que se defende, que se fecha,
que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo,
no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar
de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar,
o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo.
Esse queima como uma lâmpada triste,
cujo reflexo entristece também tudo em torno.
Ele é a angústia do mundo que o reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção,
as que são o patrimônio de todos, e,
encerrado em seu duro privilégio,
semeia pedras
do alto de sua fria e desolada torre.
Vinicius de Moraes
...Uma vez mais...
Sonhei contigo
embora nenhum sonho possa ter habitantes
tu, a quem chamo amor,
cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção
a esta palavra.
É verdade
o sonho poderá ter feito com que,
nesta rarefacção de ambos,
a tua presença se impusesse
como se cada gesto do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus lábios
com o rebordo desta chávena de café já frio...
Então, bebo-o de um trago.
o mesmo se pode fazer ao amor,
quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço
-terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência das fontes.
É isto, porém, que faz com que a solidão
não seja mais do que um lugar comum
saber que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me responda
quando, uma vez mais te chamo.
(Nuno Júdice)
...Talvez apareça...
19/05/2009
...nuvem...
...
Se uma pausa não é fim
silêncio nâo é ausência,
se um ramo partido não mata uma árvore,
um amor que é perdido,
será acabado?
um ouvido que escuta uma alma que espera...
-uma onda desfeita
É ou já não era?
Nuvem solitária, silenciosa e breve,
nuvem transparente,
desenho etéreo de anjo distraído...
nuvem, esquecida em céu de esperança,
forma irreal de sonho interrompido...
nuvem, luz e sombra,
forma e movimento,
fantasia breve de ânsia de infinito...
nuvem que foste e já não és:
desejo formulado e incompreendido.
...adia antes a paz...
...um dia quero falar-te da espera...
de como pacificar um desejo é o
caminho mais longo para adiar um abraço...
...queria morrer contigo...
queria morrer contigo
não queria morrer de ti
prendi o amor nos meus braços
mas uma chuva de areia negra cospe o meu sangue
onde o coração queria morrer contigo
contra o corpo limite do dia
arder praias onde o tempo acabava
começar Deus onde era o fim
não queria morrer de ti
a noite toda tem a espessura da perda
a boca beija o batimento da terra
o medo abraça-me
e ainda é tão tarde para que morramos os dois
Pedro sena-lino
...nada...
... Quando nada me dizes, entro num modo vegetativo de estar, há um piloto automático que me guia o coração levando-o a lado nenhum, mas que me mexe os braços e as pernas, me articula os sons e as palavras e me forma sorrisos na cara, para que os outros não percebam que por dentro me resta apenas um sopro de vida, uma fímbria de alento e uma bola calada de gritos enrolados...
a. aqui
...Não Gosto...
Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem...
Senhas
Adriana Calcanhoto
Sempre foi uma canção
que me disse muito,
e em certos momentos,
mais ainda...
18/05/2009
...des(umano)...
12/05/2009
...Querer-te...
Querer-te é um vôo em que me lanço,
como ave de curta vida
indo de encontro ao rochedo.
Sou frágil para tanto amor e ainda assim, vou,
busco de livre vontade os tormentos,
as tormentas do amor, esse insaciável tirano.
Querer-te é um vento a que me entrego,
andando da terra para o mar, a levar
os perfumes, o pó do tempo.
E o tempo nada pode para tanto amor.
Querer-te é voltar sempre os olhos para trás
e chorar a lágrima azul
que em meus olhos deixaste.
Azul do mar que não cessa de crescer entre nós.
Querer-te é esse lamento de rio nas pedras,
esse subterrâneo do mar da realidade,
esse imaginar, como se existisse a rosa,
o arco-íris e sua promessa de felicidade.
saramar em
http://www.abrindojanelas.blogspot.com/
...Existe...
Imagem de Francine Von Hovehttp://www.youtube.com/watch?v=wRZ9HsGkyZk
O Meu Amor
O meu amor tem lábios de silêncio
O meu amor tem trinta mil cavalos
O meu amor ensinou-me a chegar
O meu amor ensinou-me a partir
Rui Malheiro e Tiago Leitão
...alienada...
com sangue irrequieto pulsando,
espiando a nudez do mundo
e esgueirando-se nos esconderijos
paralelos das sombras.
Fui a louca que viveu
amedrontada pela mágoa,
refugiada na dor do sossego
que mente às consciências
tresloucadas dos sentimentos.
Fui a louca que amou
numa overdose de quimera,
cega pela incandescência da mentira
proferida por lábios embaciados
de trevas devoradoras.
Fui a louca que morreu
esquecida num deserto qualquer,
gelada e desperta pela lâmina
com que m'amputaste a alma
apenas com um silêncio.
Vera Sousa Silva
http://prosas-e-versos.blogspot.com
10/05/2009
...Pessoas...
que, ao longo da nossa vida, passam,
como passam as paisagens pela janela de um trem.
Nada mais são, nada mais querem ser,
senão paisagem.
Bonita, às vezes; passageira sempre…
que viajam connosco no mesmo comboio,
que permanecem ao nosso lado por toda a jornada,
compartilhando tudo:
as alegrias e também os momentos difíceis.
A essas oferto minha amizade,
meu coração e minha alma."
...Inesquecível?!...
07/05/2009
...Sigo...
Sigo apertada ou aos solavancos num autocarro sem campainha, sem janelas, sem retrovisor nem laterais, sem cortinas ou luz, nem médios ou máximos, em piloto automático, os passageiros calados ou inexistentes, o assento sem cinto, um depósito roto... e nem durmo, nem aprecio a paisagem!
Um dia li algures:"sou uma nuvem perdida na solidão de um céu onde as estrelas se aborrecem"... e ali me identifiquei... Mas não fiquei... por mais que parecesse o meu lugar comum, não me segurei, bem tentei, mas não havia lugar pra mim...
Sempre que isto acontece, morro ou vivo o luto, e nunca sei, quando volto, quando ressuscito...
Ás vezes sou o sol que brilha em qualquer hemisfério...a estrela mais próxima de mim mesma, que de vida e calor faz pulsar meu próprio coração... e consigo aquecer as mãos do outro, e também o seu coração...
Ás vezes sou o gelo espesso, que não corta nem meus pés, porque não consigo patinar sobre esse chão que me foge esguio e me faz cair, mas barra, fere e esvazia tudo e todos em meu redor...
Ás vezes saio de mim, porque dói demais estar em mim assim...
Ás vezes procuro-me ou encontro-me, fora ou dentro, perto ou longe, rebusco-me, restauro-me e descanso...
Ás vezes consigo...
Outras vezes sigo...
Não é a viagem que me cansa... é apenas o facto de viajar sempre sozinha...!