08/06/2009

...ferida....


Da carta que não chegou às tuas mãos, ficou um passado memorável.
Nela constavam os pequenos episódios que vivemos juntos.
Rasguei-a junto ao rio, fiquei a olhar os pedaços de papel
serem absorvidos pelas águas turvas.
A tentativa de apagar finalmente o nosso passado.
Dirias que não havia necessidade, dirias que o que vivêramos
não valia assim tanto, nem mesmo três folhas escritas
com o coração nas mãos, a arder.
Eu sorriria diante de ti como alguém que morresse.
Despiria as roupas e lançar-me-ia na corrente fria.
Tentaria recuperar o que conseguisse, pedaço a pedaço, até afogar-me de vez.

Só existem duas razões para mexer numa ferida.
Curá-la, ou abri-la ainda mais.

Fernando M. Dinis

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