Era só isso. Um atrasar de passo, que os teus são mais longos que os meus, um parares ao pé de mim, exactamente ali, naquela esquina. E, sem eu te dizer, perceberes porquê. Tu saberes que eu não resisto ao apelo da terra, tu entenderes que eu preciso de parar para absorver as coisas, para as tornar minhas. Saberes que preciso de ir devagar para levar os cheiros, as cores, os gestos, os pormenores comigo. Tu saberes que me demoro a olhar a sombra do meu pé antes de o pousar no chão, a contar com os olhos os tufos de flores rebeldes no relvado cuidado do jardim, elas que se recusam a não florir ali, e que são como eu, que não me resigno. Tu saberes qual é a minha cor de céu preferida e que é aquela do fim do dia, um azul meio turquesa, meio petróleo, e Vénus a piscar para mim, às vezes a lua já a espreitar. Tu saberes que gosto do teu braço à minha volta, e de encostar a cabeça a ti enquanto caminhamos. E tu parares comigo ali, naquela esquina, de uma rua qualquer, a sentir o primeiro cheiro da primavera num fim de tarde de Março, para o levarmos connosco para casa. A nossa casa. Era só isso, era só isso que eu queria.
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