30/04/2009

... adoro...

"...É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo...

imagem retirada da net

Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre...

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.

Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:

- E daí? ... Eu adoro voar...!"

(Clarice Lispector)

29/04/2009

...Só tu não vês...


Só tu não vês como sou
Só tu não vês como estou...

Que muro ergueste entre nós,
Que mar trouxeste na voz?

De que pedras te serviste
De que calma te vestiste?

Não das mesmas que te dei
Não da mesma que soprei...

Porque estas, são um castelo
Feito de brilho e desvelo...

Rimam carinho c`o amor
Versam em força e calor...

As tuas, silêncios sós
E esquinas, cunhais e nós

Verbos gastos desdobrados...
Falsos focos desfocados...

Muros que me calam...
Muros que te cegam...

Conceição Roque Silveira

...Surdo...


Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;

amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar

surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?

Eugénio de Andrade

...Para que eu saiba...


"...Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer..."

Mia Couto

...Tortura...

foto na net em afprsantos.blogspot.com/

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!


Florbela Espanca

28/04/2009

...fora de combate...

O guerreiro da luz se permite viver um dia diferente do outro. Ele não tem medo de chorar mágoas antigas ou alegrar-se com novas descobertas. Quando sente que chegou a hora, larga tudo e parte para sua aventura tão sonhada. Quando entende que está no limite de sua resistência, sai do combate, sem culpar-se por ter feito uma ou duas loucuras inesperadas.
Paulo Coelho é o mago, que dá o mote para o meu pensamento mais imediato... mas que perpetua no meu coração...

só sei responder-te :

...não sou da luz...

...!?! Aprendo !?!...


"Faz da tua ausência o bastante para que alguém sinta tua falta, mas não a prolongues demais para que esse alguém não aprenda a viver sem ti."

(autor desconhecido)





...a saudade também se desaprende...

26/04/2009

...enigma (x) amor...


Optar é renunciar.
Entregar-se, por exemplo, a um amor é abandonar outros.
E, do que se renuncia e abandona, pode provir, depois arrependimento.
Afastar-se de um amor, ainda que, opção feita por lúcidas razões, pode gerar, adiante, a frustração pelo que se deixou de viver.
Os casos de amor vivem rondados por frustração ou arrependimento.
Não o amor, que é íntegro, irrefutável, cristalino e indubitável: mas os amantes seus portadores. Quase sempre o tamanho do amor é maior que o dos amantes.
O que cerca as pessoas que se amam é sempre uma teia de limitações que o leva à disjuntiva: frustração ou arrependimento.
Ou quem ama se entrega ao sentimento e se atira nos braços do outro para, depois, se arrepender do que abandonou para entregar-se ao amor, ou se afasta, cheio de lucidez, para, adiante, sentir frustração pelo que deixou de viver.
Estes estão na categoria assim definida de modo cruel mas lúcido por Goethe: "no amor, ganha quem foge"...Ou como disse o grande Orizon Carneiro Muniz: "no amor, é mais forte quem cede".
Na juventude tudo isso fica confuso porque esta é uma etapa da vida envolta em uma névoa amorosa que a torna radical na busca da felicidade. O jovem ainda não se defrontou com as terríveis e dilacerantes divisões internas de que é feita a tarefa de viver e amar, aceitando as próprias limitações, confusões, os caminhos paralelos e contraditórios das escolhas, dentro de um todo que, para se harmonizar, precisa viver as divisões, os sofrimentos e os açoites das mentiras e enganos que conduzem as nossas verdades mais profundas.
Séculos de repressão do corpo e de identificação do prazer com o pecado ou o proibido fizeram uma espécie de cárie na alma. É um buraco, um vazio, uma impossibilidade viver o que se quer, uma certeza antecipada de que o amor verdadeiro gera ou arrependimento ou frustração.
Viver implica, pois, aceitar essa dolorosa e desafiante tarefa: a de enfrentar o amor como a maior das maravilhas e que se nos apresenta sob a forma de enigma.
Tudo o que se move dentro do amor está carregado de enigmas.
E com o enigma dá-se o seguinte: enfrentá-lo não é resolvê-lo.
Mas quando não se o enfrenta, ele (enigma) nos devora.
Enfrentar o enigma mesmo sem o deslindar, é aquecer e encantar a vida, é aprender a viver; é amadurecer.
Exige trabalho interior penoso, grandeza, equilíbrio e auto-conhecimento.
O contrário não é viver: é durar.

(Arthur da Távola)

Insisto em A. T. porque realmente a leitura me identifica com, e, me faz parecer pertencer a este mundo...Se alguém escreveu coisas um dia, como eu as penso, é porque não estou sózinha de todo, e releio e reconvenço-me disso... Insisto em mais: em pedir-te que me deixes viver... e não apenas existir, tal como o nosso amor...

24/04/2009

...até que...


Alguma vez questionaste o verdadeiro sentido da expressão:
"Até que a morte nos separe"

???

Não morre o amor...

Morremos nós...!!!

...

Não é o estar sem ti
É o como estou sem ti
que me mata...

23/04/2009

...Esfera...

Há algum tempo atrás...tempo demais lembras-te?... Passava no rádio, chorámos juntos e chamámos-lhe: `a nossa canção´... Tempo demais passou, e continua a fazer-me chorar... sozinha, desde sempre... e ainda... e também agora!
Consegues entender-lhe o sentido?!
Até hoje...não tenho mais, esse mais que quero, que só assim dá para mim conseguir que não doa mais...que me faça existir...por isso... não me escondo mais... Escondeste o meu sorriso... Já não posso lutar por mais...!

Por sinal,
essa esfera que me tentava sem me olhar,
Nada mais era do que um som
Que me levava a tentar
fugir de ti...sair de ti...

Uma vez mais, sem saber porquê,

Desistira de dizer:

Nao dá mais, quero mais... Se não for assim,

Esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais!
Mais, mais...Quero mais...Mais, mais...

Por isso esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais...

Só assim dá para mim conseguir que não doa mais,
Que me deixes ir, que me libertes de ti, que não me faças sentir...
E eu não quero cair, não me posso entregar
Sem que percebas que não podes julgar,
E eu quero tentar, poder acreditar
Que o aperto cá dentro um dia vai acabar
O monstro em mim não irá sucumbir,
Não desfalece por não conseguir
Que olhes p'ra mim, que me faças existir,
Por isso esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais...


Mais, mais...Quero mais...Mais, mais...

Por isso esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais...

( Pedro Khima )

22/04/2009

...afinidades...

Hoje reli, porque estava a precisar muito....muito mesmo...
É um dos textos meus favoritos, que me faz acreditar que:"se as coisas ainda não acabaram, é porque ainda não chegou o fim"...

Arthur da Távola escreveu um dia sobre `Afinidade´ e, desde que li, nunca mais esqueci de de vez em quando lembrar, tudo isto que já não fui...

manta de retalhos em www.saloia.com


Afinidade não é o mais brilhante, mas é o mais subtil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto onde foi interrompido. Afinidade é não haver tempo medindo a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial (da esperança sobre a experiência).

Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.

Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar de longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.

Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar.

Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
A afinidade não precisa de amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas (não seria com pessoas ?) a quem apenas vemos passar, por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidade com pessoas de outros continentess a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.

A afinidade é singular, discreta e independente, porque não precisa de tempo para existir. Afinidade é adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as têm.

Afinidade é retomar a relação do ponto onde parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado...

...caminhos...

caminhos - na net em www.starbuck.blogger.com


"Talvez eu nunca volte a caminhar...
por ruas que nao me levam a nenhum lugar..."



Cris Rostheuser

21/04/2009

...Inveja...


Esta é a cache do Google de

É um instantâneo da página, tal como surgiu no dia 30 Mar 2009 06:08:22 GMT.

Entretanto, a página actual poderá ter sofrido algumas alterações.


"Venho informar de a funcionária da Câmara Municipal de Alcobaça,de nome MARTA LUIS , com morada na rua Costa Veiga em Alcobaça, está de baixa médica devido a uma intervenção cirurgica e continua a trabalhar na Rádio Cister de Alcobaça.

Inclusivamente tenho gravações dos programas e a recber á hora "

`Elvira Moreira da Costa´


*****
este foi um... depois o outro
"È uma pouca vergonha meus senhores.
Então a Srª Marta Luis empregada da Câmara Municipal de Alcobaça,está de baixa médica e está a fazer programa de rádio na rádio local "Rádio Cister" ao domingo das 11/13 e agora das 15 ás 18 durante a semana.
Pouca VERGONHA -VALE A PENA SER FUNCIONÁRIO "
`Adelino Moreira´
*****

Eu nunca tinha reparado que existia tanta inveja à minha volta, apesar de saber no íntímo que há muita gente que não gosta mesmo nada da minha pessoa, ao ponto de me querer mal, e de ser capaz disto. É incrível, mas existe gentinha assim...

Vi isto hoje, e porque alguém que procurava por mim, em qualquer uma estonteante pesquisa na net, deu com isto, e me enviou...

Vem de muito baixo... e não me atinge...

Não tenho que me defender sequer, nem comentar...
Apenas registo, com um ponto final, e esclareco esta e outras senhoras ou senhores interessadas(os) de que:
Faz agora mais de um ano que fui submetida a uma intervenção cirurgica delicada.
Não foi em 2009, em que estive no pós operatório de atestado médico por 2 meses e meio, mas sim entre Abril e Junho de 2008 e porque a lei do trabalho assim mo permite.

Estive de atestado, não obrigada ao domícilio por não poder fazer esforços ou andar nas obras, situação a que sou submetida ao cumprir a minha função de fiscal municipal, agora assistente técnica, ao serviço do Municipio de Alcobaça. Não por não poder estar sentada numa cadeira e abrir a boca e falar a um microfone em animação de rádio como hobbie e, fora do meu horário de expediente, como o continuo a fazer na Rádio Cister de Alcobaça, onde não trabalho como efectiva vai fazer já 12 anos, mas colaboro desde há 18 anos a esta parte, e continuei desde a altura em que saí do quadro e, continuarei como colaboradora, enquanto lá me sentir bem e lá me quiserem.
Quem me quiser pagar as horas... está à vontade...!!!
Mais: Em rádio, é possivel para quem não sabe, emitir programas gravados, ou em diferido. Ponto final ....exclamação...
Aliás, cheguei a fazer em 2008 também o horário 12-15h gravado, e no mesmo horário estar em simultâneo ao serviço nas obras por todo o concelho, ou no edifício da Câmara da Rua da Liberdade, e os meus superiores, estarem comigo ao lado, ou no carro, e a ouvirem-me "supostamente" a fazer o programa no ar...e a eles, não lhes fez "confusão"!
Quando em 2008, fiz o horário 15-18h, também o fiz gravado, e quando de férias, em directo.. o que para o mais comum ouvido era e é indiferenciável.
E a partir daí, o que eu faço no meu tempo livre... nomeadamente aos domingos, é da minha conta, e de mais ninguém...

Quem tiver provas de que isto é ilicito, ilegal, ou imoral, que mande mais uma pedrada...
Ah... e a minha morada é Parte Incerta ...

Já aqui o disse antes que não tenciono reconstruir um castelo... muito menos o de Alcobaça.
passar bem
Marta Luis
(Funcionária nº 442 no activo como efectiva desde 1997)
da Câmara de Alcobaça
Com todo o mérito próprio e dedicação
a Malu
(ex funcionária nº 15 efectiva até 1997, e desde 1997 colaboradora )
da Rádio Cister
Com todo o mérito próprio e dedicação
21 de Abril de 2009
A inveja, é muito feia.... mas existe, e tão próxima de nós, que a maior parte das vezes, nem a vimos...

17/04/2009

... o meu amor...

Coração de pedra - blog da rua nove

Petrificou
este outrora doce e destemido coração
amaciado em ilusões

Parou
já não pulsa nem pula de alegria
nem luta nem se cansa por
uma qualquer emoção ou esperança

Gelou
já não ri nem chora nem cresce
nem mais acorda ou adormece

Não há vida
Nessa agora cortante escuridão
gritante decomposição em

Cegueira
apagada de luz
dessa parte que era tua

Secou
nesse nascer de tempo em eternidade
nesse lodo de lágrimas em sangue
nesse poço de saudade em pavor

Calou
nesse rio de palavras em silêncio
nesse lago de gelo em ausência
nesse negro mar de amar em segredo

Ficou
nessa fé do nada ser prometido
nessa toxicidade do nunca ver seu
nessa ansiedade do nem ter existido

Morou
nessa parte que era tua
o meu amor

Morreu
no dia em que te foste
o meu amor

16/04/2009

...Não escrevo...

Há alturas, em que não escrevo: não escrevo suspensa... não escrevo ancorada...não escrevo em velocidade cruzeiro...não escrevo ao rolantim...
Escrevo quando tenho algo que se encaixou, ou questionou em mim para dizer.
Neste momento, não tenho nada, nem sequer o esquecimento de tudo...

Escrever é esquecer.

(já o escreveu Fernando Pessoa e não serei eu quem o vai "olvidar")

"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.

A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm.

A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.

Não é o caso da literatura. Essa simula a vida.

Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa.

Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

Fernando Pessoa

09/04/2009

05/04/2009

...Imortais...


Os Amantes - René Magritte


Por mais que a vida nos agarre assim

Nos troque planos sem sequer pedir

Sem perguntar a que é que tem direito

Sem lhe importar o que nos faz sentir

Eu sei que ainda somos imortais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se o meu caminho for para onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu te sei dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer

Por mais que a vida nos agarre assim

Nos dê em troca do que nos roubou

Às vezes fogo e mar, loucura e chão

Ás vezes só a cinza do que sobrou

Eu sei que ainda somos muito mais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se a minha vida for por onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu sei te dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer

(Mafalda Veiga)

...morres...

imagem retirada da net

" Para que é que inscreves nos túmulos a tua 'saudade eterna'?
Porque isso
é uma tocante forma de dizeres ao morto que não morres.
Mas morres. Garanto-te eu."

in Pensar - Vergílio Ferreira

... morrer sem ti ...

Foto de Mariah em
assim me habituei a morrer sem ti


mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia o destino deste corpo
os dedos cintilam no húmus da terra
e eu indiferente à sonolência da língua
ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz
e tudo esqueço no interior dessa ânfora alucinada
desço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul e os lugares dantes povoados

ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a morrer sem ti
com uma esferográfica cravada no coração


(Al Berto)

...Não quero mais acordar assim...


Hoje eu acordei me sentindo só
Me sentindo pó, igual a Jó
Hoje eu acordei me sentindo só
Meu Deus tenha dó de mim
Tô aqui sem saber pra onde ir
Nem tudo tá legal... aqui tá tudo dowm!
Não consigo mais te ouvir
Hoje não tô nada bem
Vejo tudo embaçado,
Tudo nebuloso ao meu redor
Vou fechar meus olhos
Me desligar de tudo pra ouvir tua voz
Me leve pra fora da aldeia
Preciso te sentir outra vez
Por favor, tenha paciência
O caminho é estreito, eu tô na contramão!
Você é a pessoa certa
Vou esvaziar o meu porão
Jogar fora tudo que não é teu!
Nada mais!
Só quero te ouvir!
Nada mais!
Preciso ouvir tua voz
Não quero mais acordar assim...
Me sentindo só, me sentindo pó,
Igual a Jó... me sentindo só!
Não quero mais acordar assim...


(fruto sagrado)

04/04/2009

...Sinceridade...


Sinceridade Proscrita


A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo; e a cerimónia, que deveria ater-se inteiramente ao exterior, introduz-se nos nossos costumes mesmos.

A ingenuidade deixa-se aos espíritos pequenos, como uma marca da sua imbecilidade. A franqueza é olhada como um vício na educação. Nada de pedir que o coração saiba manter o seu lugar; basta que façamos como os outros. É como nos retratos, aos quais não se exige mais do que parecença. Crê-se ter achado o meio de tornar a vida deliciosa, através da doçura da adulação.
Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer é olhado como o perturbador do prazer público. Evitam-no, porque não agrada; evita-se a verdade que anuncia, porque é amarga; evita-se a sinceridade que professa porque não dá frutos senão selvagens; temem-na porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais cara das paixões, porque é um pintor fiel, que faz com que nos vejamos tão disformes como somos.

Não há por que nos espantarmos, se ela é rara: é expulsa, proscrita por toda a parte. Coisa maravilhosa: só a custo encontra asilo no seio da amizade!

Seduzidos sempre pelo mesmo erro, não fazemos amigos senão para dispormos de pessoas particularmente destinadas a comprazer-nos: a nossa estima acaba com a sua complacência; o termo da amizade é o termo dos agrados.

E tais agrados que são?

Que é o que nos agrada mais nos nossos amigos?

São os contínuos louvores, que deles recolhemos como tributos.


Baron de Montesquieu, in 'Elogio da Sinceridade'

03/04/2009

...Voltar a amar ...

Há "amêndoas" que amargam tanto...tanto...

Miguel e a Teresa reconciliaram-se.
Esta era a notícia do dia que a Joana, o melhor meio de comunicação desde a portaria ao arquivo, se esforçava por dar a conhecer a todos os colegas do escritório. Baixo, muito baixinho, dizia-o entre dentes, não fossem os visados ouvir. A bombástica notícia apanhou desprevenidas todas aquelas pessoas que adoram estar a par da vida alheia. «-Como é que é possível?», «- Ela não tem vergonha nenhuma na cara», «-Ele é um grande banana», «-Só o fizeram por causa das miúdas» eram os mimos que se ouviam nos corredores. Todo aquele interesse mesquinho de opinar e participar no fórum da maledicência só se justifica pela pitada de sal que aquilo trazia às suas patéticas vidas.
Mais tarde, mumificada na IC19, o Miguel e a Teresa passearam pelo meu pensamento, tão lentamente como o trânsito naquele fim de tarde. Conheceram-se na adolescência numa daquelas festas de garagem onde às escondidas se fumava SG Ventil, bebia Super Bock e se trocavam os primeiro beijos. Sobreviveram à distância imposta pela faculdade, ela no Porto, ele em Lisboa, casaram assim que terminaram o curso, arrastaram-se pelo escritório com os sinais de desgaste com nascimento das gémeas, lutaram lado a lado com as dívidas à banca que Miguel contraiu, mas não sobreviveram ao desfalecer da paixão, à presença da rotina. Os anos que se seguiram, assistiram à batalha campal do divórcio. Se este casal pertencesse ao Jet Set teriam feito correr rios de tinta nas páginas das revistas cor-de-rosa, mas não pertenciam, situavam-se apenas num universo, que é dito como normal, e a que cada um de nós está longe de dizer que jamais irá pertencer. Como amiga do casal dei comigo no meio dos desabafos e agressões. O objectivo era ver quem é que feria mais o outro, quem é que denegria mais a imagem do ex companheiro. Ela acusava-o de ser preguiçoso e de ter arruinado o património da família com os seus gostos de novo rico, ele retribuía o galhardete dizendo que ela estoirava o dinheiro em roupa e em clínicas de estética para minimizar os estragos que fazia à mesa; ela dizia que ele passava as noites no sofá ou na cama a ressonar, ele dizia que ela passava a noite a ver telenovelas e que chegava à cama sempre com dores de cabeça; ela censurava-o por ser egoísta e não lhe dar prazer, ele desprezava-a dizendo que era frígida; ela queria o Chalé de Andorra, a casa na Quinta do Lago e o descapotável, ele respondia que a tirou da miséria e que ia sair de casa com a roupa adquirida na feira de Carcavelos que trazia no dia em que a conheceu; ela queria a custódia das filhas e uma pensão milionária, ele disse que não tinha tempo para cuidar das gémeas e dava-lhe uma pensão irrisória.
Quando finalmente declararam tréguas um ao outro ele passou a sair com todas as mulheres maduras que o fascinavam, ela fez uma ronda pelos sub 21 que encontrava nas saturday nigth fever. Afastaram-se e construíram novos caminhos para as suas vidas. Cinco anos passaram, as gémeas tornaram-se um pretexto para a aproximação. Havia sempre uma prova de natação ou um torneio de basquetebol e, primeiro com algum desconforto, depois com uma clara alegria, começaram a sentar-se lado a lado nas bancadas do clube desportivo onde gritavam e torciam pelas filhas. Pelo canto do olho, Miguel olhava Teresa e pensava que o divórcio só lhe fizera bem. Estava mais magra, mais bonita, vestia-se com maior elegância. Teresa sentia o olhar dele sobre o seu corpo e também lhe reconhecia os benefícios da separação: músculos mais firmes esculpidos pelas corridas matinais no parque da cidade, o cabelo mais curto e pincelado por uns laivos grisalhos, a roupa desportiva que lhe dava um ar menos formal.
Miguel e Teresa… sorrio. Voltam aos meus ouvidos os mexericos do escritório nesta manhã. Ao contrário do que dizem, esta relação tem tudo para dar certo. Não é só pelo facto de reconhecerem, depois de tudo o que viveram, que ainda se amam, mas é o facto do que aprenderam longe um do outro e o que cresceram como pessoas, que lhes vai permitir construir uma relação nova. Ele aprendeu a trocar o jornal pela actividade física, a substituir a vaidade e o exibicionismo de um carro novo pela tranquilidade de um fim-de-semana a dois perdidos num SPA; ela deixou a televisão e foi esculpir o corpo no ginásio, tomou aspirinas quando tinha realmente dores de cabeça e entregou-se sem pudor ao prazer na cama com o marido. Mas o que me leva a acreditar novamente naqueles dois é o facto de se conhecerem muito bem. Miguel e Teresa reconhecem no outro, os seus valores, as suas qualidades, mas melhor que isso, conhecem-se do avesso, o lado lunar, o que de pior têm para oferecer.
O ódio e o amor são sentimentos próximos, um casal que já se amou e que se odiou de seguida, tem fortes probabilidades de ser feliz, quando se voltar a amar.


...Fugiste...

Viva cada história até o último detalhe, tome até a última gota de todos seus momentos porque não há nada mais reles do que abandonar a vida por covardia, esconder-se dela detrás de falsos motivos.
Não há nada mais deprimente do que alguém que finge partir quando, na verdade, está fugindo.
Furtar-se a viver plenamente com toda a dor, alegria, tristeza, desamores e paixões é o mesmo que não ter nascido.
Mas vá, se sentir que precisa ir.
Vá, se o que o move é impossível de domar.
Não deixe o medo paralisá-lo.
Ignore os que não entendem, criticam, alertam, amedrontam porque esses, enquanto você segue seu faro, escrutina o desconhecido, permanecerão no mesmíssimo lugar. Criarão musgo, não sairão do decadente quarteirão da resignação—e isso sim é assustador."


Escrito por Ailin Aleixo
Postado por Mitsotaki

01/04/2009

...Vai...

vento - micabral

"...não somos seres suspensos em bolas de sabão, que vagueiam felizes pelos ares; nas nossas vidas há um antes e um depois, e esse antes e esse depois são uma ratoeira para os nossos destinos, pousam-se sobre nós como uma rede se pousa sobre a presa.
(...)
O destino possui todo o poder e o esforço da vontade não passa de um pretexto.
(...)
...quando o caminho atrás de ti é mais comprido do que o que tens à tua frente, vês uma coisa que nunca tinhas visto antes: o caminho que percorreste não era a direito mas cheio de encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para uma direcção diferente; dali partia um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se perdia nos bosques. Alguns desses desvios fizeste-os sem te aperceberes, outros nem sequer os viste; não sabes se os que não fizeste te levariam a um lugar melhor ou pior; não sabes, mas sentes pena. Podias fazer uma coisa e não fizeste, voltaste para trás em vez de seguir em frente.
(...)
Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar.
Fica quieta, em silêncio e ouve o teu coração.
Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar."
Susana Tamaro
(vai... aonde te leva o coração )

"...a principal qualidade do amor é a força..."

...Partir...

Fuseli - silêncio
Estou a tentar partir ficando onde estou
já deixei para trás muito do que ainda transporto
no entendimento do que me rodeia
o sentir que me animou
os gestos que me tornavam vida
desaparece na consciência do vazio
do que com eles imaginava agarrar

as palavras
com que procurava encher o silêncio
e tomava por existência
morrem agora no momento em que são ditas
morrendo com elas a existência
que lhes julgava dar vida...

deixo de tentar ressuscitá-las...
procuro apenas fazer-lhes um enterro bonito
partindo e ficando de vez onde estou
o mundo termina... e com ele termina
aquele que quem me rodeia insiste em ver
no lugar que ocupo

deixo de dizer a liberdade e danço-a
nos braços do ar que respiro

deixo de fazer amor
nos gestos em que cumpria o desejo e canto-o
na voz com que toco a existência
longe de qualquer sentido ou propósito
partindo...
só me resta invadir o mundo na forma de um sorriso
fazendo da felicidade a flor
que só cada um de nós pode
trocando a esperança
pela vida

publicado em http://caminhosdosilencio.blogspot.com/

...Fiz...

"Vencer não é nada
se não se teve muito trabalho.

Fracassar não é nada
se se fez o melhor possível."



Eu não vou mais chorar
Fiz o que pude
Não paro de pensar
É a tua ausência que me ilude

Não posso acreditar
Que eu não pude
Parar para te esperar
Essa distância me ilude

Não dá mais pra continuar assim
Eu quero que você me ajude
Eu quero que você volte a acreditar em mim
Mas para isso é preciso que eu mude

Eu acho que eu ainda sou moço
Eu acho ainda que eu não morro

Eu acho que ainda é possível
Que eu consiga viver em paz


Fiz o que pude

Nando Reis / Cássia Eller