06/07/2009

...os sinos...

os sinos do mosteiro de alcobaça
de regresso após recuperação
imagem de 2004 no fotolog de jhricardo
Num domingo manso à hora mate do lanche venho a este bazar para decorar a nostalgia. Para te encontrar por acaso, no acaso onde ambos sabemos que nada acontece por acaso. E neste instante não penso em nada, penso em nós.
Choveu esta manhã e parece que se me lavou a memória. Mas não...
Tocam os sinos do mosteiro e, de cada vez que os ouço, é meio dia. É como se me beliscasses e me dissesses que afinal foste real. O tocar dos sinos materializa-se num vestigio mais da tua passagem pela minha vida, em que sempre recordo o início daquela tarde glaciar debaixo de um calor abrasador, pois tremo não sei se de frio ou pavor, sempre que me dizes adeus.
Como me custou que descolasses os teus lábios dos meus. Amarga-me engolir em seco a tua ausência, seca-me a boca e o sangue ao evocar o beijo perdido.
Também seria bom, se me aparecesses agora, com a saudade pronta a morrer numa mão, e o desejo que tenho de te ver na outra, e me puchasses para o teu abraço. Tanto como custa que não estejas aqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aos domingos, quando os sinos tocam
de manhã, o que neles se toca é a manhã, e todas as manhãs que nessa manhã se juntam, com os dias da infância que nunca mais acabavam, as casas da aldeia de portas abertas para quem passava, as ruas de terra batida onde as carroças
traziam as coisas do campo, os cães que corriam atrás delas, uma crença no sol que parecia ter expulso todas as nuvens do céu, e a eternidade desses domingos que ficaram na memória, com o ressoar dos sinos pelos campos para que todos soubessem que era domingo, e não havia domingo sem os sinos tocarem a lembrar, a cada badalada, que os domingos não são eternos, e que é preciso viver cada domingo como se fosse o primeiro, para que o toque dos sinos não dobre por quem não sabe que é domingo.

Nuno Júdice