27/09/2011

...aceitando...


Exatamente assim.
Pesada, sufocada. Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar.”

c.f.abreu

25/09/2011

... Exausta ...


Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado)

22/09/2011

...Chega...

Chega de desilusões: dei férias para o meu coração!!!
 
Então você quer se demitir do amor?

Isso mesmo, querido chefe coração. Eu quero desaparecer daqui. Quero que você se exploda.
Veja bem. Um dia lindo lá fora. Quinhentas coisas pra fazer. E eu presa aqui o tempo todo. Nessa salinha mofada. Trabalhando vinte e cinco horas por dia sem dormir, sem ver a luz do dia e sem ganhar nada por isso. Vivo exausta e abatida. Chega. Isso é trabalho escravo. Você me deve férias há anos. Você sempre me garante que agora, agora finalmente é a minha vez.

tati b.

21/09/2011

...deveria...



De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito.
E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida.

Caio

19/09/2011

... irá entender o meu valor!?! ...


Saímos pelo mundo em busca de nossos sonhos e ideais. Muitas vezes colocamos nos lugares inacessíveis tudo aquilo que está ao alcance das mãos.
Quando descobrimos o erro, sentimos que perdemos tempo buscando longe o que já tínhamos perto. Nos culpamos pelos passos errados, pela procura inútil, pelo desgosto que causamos.
Não é bem assim: embora o tesouro esteja enterrado na sua casa, você só irá descobri-lo quando se afastar. Se Pedro não tivesse experimentado a dor da negação, não teria sido escolhido como chefe da Igreja. Se o filho pródigo não tivesse abandonado tudo, jamais seria recebido com festa por seu pai.
Existem certas coisas em nossas vidas que tem um selo dizendo: “você só irá entender meu valor quando me perder – e me recuperar”. Não adianta querer encurtar este caminho.

Paulo C.

18/09/2011

...sabes como tenho saudades tuas?...



A saudade é medida pela força do riso que sai quando a memória solta no ar o rosto desejado. Nem é a boca que faz graça, é o coração. Não tem como medir nem calcular o tamanho do bem querer e a falta que ele já faz quando ainda nem foi embora. Dai você sente um perfume e lembra do pescoço. Ouve uma canção e lembra da boca. Cruza com uma camisa e lembra do braço, dos abraços dados. Saudade é o retorno que o coração quer fazer pras estradas que ficaram, que talvez nem existam mais. Pros planos que desistimos. Pro banco na praça onde sentaram. Pros amores que desistimos ou desistiram da gente. Saudade é uma distância entre nós e como gostaríamos de estar. Saudade hoje, é o teu nome numa placa mostrando o meu caminho.
alma

...metades...


E assim você vai vivendo, contentando-se com metades.
Já que nunca lhe restaram pessoas dispostas a serem suas inteiramente.

(Rosas de Gaveta)

16/09/2011

...o melhor...



'Peça a Deus para que aconteça o que for melhor para você,
porque Deus sempre sabe o que é melhor para nós;
agente, não.
Ana Jácomo

15/09/2011

...magia...


Quem quer aprender magia, deve começar olhando a sua volta.
Tudo que Deus quis dizer ao homem, colocou bem na frente dele.
Basta prestar atenção...

Paulo Coelho

14/09/2011

...introspecção...


Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros, in
Doidas e Santas - A tristeza permitida e
no blog let me fly

...não perdoa...


A vida não perdoa descuidos...

Guimarães Rosa, in:
Corpo de Baile
A estória de Lélio e Lina

...Efémera Espécie...


Poucos me sabem. Meus passos são tímidos e minha voz quase não diz.. Por amante das miudezas, tenho o apreço da insignificância. Complicada e solitária, eis que preservo meus detalhes, quem dirá á algum milagre, com olhos a ponderá-los. Sou duas décadas antes da que nasci e antecedo três da que vivo. Tenho sentido como é dificil se integrar ao que não me cabe. Que presente é esse que me impuseram? Em que futuro me alicerçarei? Que passado me persegue? Sou a desfiguração atual, que aguarda desesperadamente uma explicação coerente á minha efêmera espécie. Encontrarei enfim um convívio? Poderei Senhor,me reconhecer com naturalidade aonde estou? Tenho sofrido demais com essa vida, incompreendida pela percepção conservadora e anti-promiscua. Eu assim, quero ser só. Quero ser tímida. Distante da epidêmica materialista. Quero continuar sendo esse bicho, enjaulada pelos principios, mas altiva a minha exclusividade.

 
Patrícia Vicensotti

12/09/2011

...(Esboço)...


Lembro-me agora que tenho de marcar um encontro contigo, num sítio em que ambos nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma das ocorrências da vida venha interferir no que temos para nos dizer.

Muitas vezes me lembrei de que esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de café, em frente de um espelho que poderia servir de pretexto para reflectir a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.

É que o amor nem sempre é uma palavra de uso, aquela que permite a passagem à comunicação ; mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo.

Então, é natural que voltes atrás e me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem sido pensadas.

No entanto, ao escrever-te para marcar um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

03/09/2011

...voltei a fugir...


 
Há coisas minhas que você não sabe,
e que precisaria saber para compreender
todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir.

...quando...


É quando nos esquecemos de nós mesmos que fazemos coisas que jamais serão esquecidas.


Ellen G. White

02/09/2011

... resignação ...


Não sei como explicar isto. É difícil perceber esta coisa a que chamam coração e que não é mais que uma amálgama de sentimentos. Dói mais assim. Não poder rasgar o peito e agarrar qualquer coisa até que pare. Dói mais assim. Há dias que parecem demasiado longos, outros demasiado curtos e é isso que os distingue. Acordo, adormeço (quase sempre com dificuldade), e dias há em que nada acontece pelo meio.

É uma dor generalizada. Sem que consiga distinguir onde mais dói. Se é ansiedade, melancolia ou paixão, não sei. Não é fácil. Não sei como explicar. Mas começo por isto: sinto uma permanente saudade de tudo. Do que passou e do que está para vir. Foi isso que me fez voltar. Foram as saudades daquilo que sentia quando bebíamos sumo de morango, em picnics improvisados no quintal de tua casa. E tu dizias: és irremediavelmente defeituoso. E sorrias. E agarravas-me a mão e dizias: mas tens bom coração. Parecias gostar de mim.

Quando o Outono chegou deixámos de nos encontrar. Ficou a saudade. Contigo era mais fácil: entendias-me melhor. Mesmo quando eu usava quarenta palavras para explicar aquilo para que bastava apenas uma. Ficou a saudade, ficou a dor indistinguível que arrasta as horas, e apenas duas coisas para entreter o coração: a esperança de voltar ao que tive e a resignação de não o poder fazer.

pedro guerra in,