13/12/2010

...mentira...

detalhe - mentira - alexandre wagner

«Nós tendemos a acreditar que aquilo de que nos recordamos realmente aconteceu e não pomos em causa e somos, em grande medida, aquilo de que nos lembramos. E a verdade é que muitas coisas de que nos lembramos na realidade não aconteceram ou não aconteceram exactamente assim. Portanto, até certo ponto, nós próprios somos uma ficção, um...a mentira.»
José Eduardo Agualusa

08/12/2010

...nem tudo é dias de sol...


Se eu pudesse trincar a terra toda

E sentir-lhe um paladar,

E se a terra fosse uma cousa para trincar

Seria mais feliz um momento...


Mas eu nem sempre quero ser feliz.

É preciso ser de vez em quando infeliz

Para se poder ser natural...

 
Nem tudo é dias de sol,

E a chuva, quando falta muito, pede-se,

Por isso tomo a infelicidade com a felicidade

Naturalmente, como quem não estranha

Que haja montanhas e planícies

E que haja rochedos e erva...


O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,

Sentir como quem olha,

pensar como quem anda,

E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,

E que o poente é belo e é bela a noite que fica...

Assim é e assim seja...

alberto caeiro (F.P.)

24/11/2010

...as minhas saudades tuas...


tenho saudades tuas
isso eu sei
porque eu sinto no meu peito
essas ruas

nunca imaginei um amor assim
e agora até ficou real
mas isso trouxe coisas atrás

no momento de uma decisão
percebes tudo o que o presente faz
mesmo querendo ter alguém
eu quero ter-me a mim

mas meu amor
nenhum de nós deixará de ser real

passo por essas ruas
isso eu sei
porque eu sinto ter ainda no meu peito
coisas tuas

Foge Foge Bandido

09/11/2010

...sincero...


“Lembro dos sorrisos, das conversas, dos divãs, dor hormônios, de tudo… e me dá uma saudade irracional de você. Uma vontade de chegar perto, de só chegar perto, te olhar sem dizer nada, talvez recitar livros, quem sabe só olhar estrelas… dizer que te considero - pode ser por mais um mês, por mais um ano, ou quem sabe por uma vida - e que hoje, só por hoje ou a partir de hoje (de ontem, de sempre e de nunca), é sincero.”
Caio Fernando Abreu

... uma andorinha só ...

Não faz, mas pode começar a fazer a Primavera:

Não espere o chamado de outras “andorinhas”.
Desperte a que há dentro de você
e comece um verão interno
mesmo que em meio da tempestade.


Andréa Oliveira in

08/11/2010

...o distorcido...


As observações e as vivências do solitário que só fala consigo próprio são simultaneamente mais indistintas e intensas do que as do homem social e os seus pensamentos são mais graves, mais fantasiosos e nunca sem uma coloração de melancolia. Imagens e impressões que outros poriam naturalmente de lado após um olhar, um sorriso, um comentário, ocupam-no mais do que é devido, tornam-se profundas no silêncio, ganham significado, transformam-se em acontecimento, aventura, emoção. A solidão cria o original, o belo ousado e estranho cria a poesia. Mas cria também o distorcido, o desproporcionado, o absurdo e o proibido.

Thomas Mann, in
"Morte em Veneza"

...Absurdo, Liberdade e Projecto...


Uma vez admitidos dois factos: que o devir não tem fim e que não é dirigido por qualquer grande unidade na qual o indivíduo possa mergulhar totalmente como num elemento de valor supremo, resta só uma escapatória possível: condenar todo esse mundo do devir como ilusório e inventar um mundo situado no além, que seria o mundo verdadeiro. Mas, logo que o homem descobre que este mundo não é senão construído sobre as suas próprias necessidades psicológicas e que ele não é de nenhum modo obrigado a acreditar nele, vemos aparecer a última forma do niilismo, que implica a negação do mundo metafísico e que a si mesma se proíbe de crer num mundo verdadeiro. Alcançado este estado, reconhecemos que a realidade do devir é a única realidade e abstemo-nos de todos os caminhos afastados que conduziriam à crença em outros mundos e em falsos deuses - mas não suportamos este mundo que não temos já a vontade de negar.
(...)
Que se passou portanto? Chegámos ao sentimento do não valor da existência quando compreendemos que ela não pode interpretar-se, no seu conjunto, nem com a ajuda do conceito de fim, nem com a do conceito de unidade, nem com a do conceito de verdade. Não chegamos a nada, não logramos coisa nenhuma dessa espécie; a unidade global não aparece na pluralidade do devir: o carácter da existência não é o de ser verdadeira, mas o de ser falsa (...) não há razão alguma para nos persuadirmos de que existe um mundo verdadeiro. (...) Em suma, as categorias de fim, de unidade, de ser, graças às quais demos um valor ao mundo, retiramos-lhas e o mundo parece ter perdido todo o valor.
Friedrich Nietzsche, in
'A Vontade de Poder'

25/10/2010

... não tens vergonha?! ...


«Ser feliz por momentos é algo de que não se deve ter vergonha. Momentos que o fim torna ridículos.

A felicidade, como o amor, é um sentimento ridículo. Mas a felicidade, como o amor, só é ridícula quando vista de fora. A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria. A felicidade, são momentos que, no seu presente fugaz, são mais fortes do que todas as sombras, todos os lugares frios, todos os arrependimentos. Ser feliz em palavras que, durante essa respiração breve, mudam de sentido.

E nem a forma do mundo é igual: o sangue tem a forma de luz, as pedras têm de nuvens, os olhos têm a forma de rios, as mãos têm a forma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar com toda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança.

Momentos que o fim torna ridículos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependimentos e fracassos, em que se possa viver de novo, para de novo chegar o fim e de novo a esperança e de novo o fim.

Não se deve ter vergonha de se ser feliz por momentos. Não se deve ter vergonha da memória de se ter sido feliz por momentos.»

in, "Uma Casa Na Escuridão"
José Luís Peixoto

15/10/2010

...ousa...

"Odeio essas almas pulsilânimes que,
por muito preverem consequências,
nada ousam empreender. "
(Moliere)

12/10/2010

...procuro...


Procuro alguém
que me salve de mim mesma,
do abismo que crio

(...)

insanidade dos meus pensamentos.

Procuro por ti,
à espera que em mim vejas
a tua salvação,
como eu vejo em ti a minha.

pensamentos incertos
da praia secreta

10/10/2010

...não me perguntes...

Eu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei.

Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Ou quando se contorce em espiral com beijos nas costas? Eu não sei por que a amo. Será que pela sua preguiça, que se enrola em mim de manhãzinha? Ou pela sua disposição de dar a volta por cima? Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo umbigo que inicia a mão. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir? Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer.


Será que é pelo amor aos filhos, excessivo, que sempre me inclui? Ou pela sua vontade de fazer mercado depois do almoço para gastar menos? Será que é pelo modo como canta, o modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Pela sua respiração suspensa na penumbra? Ou pelas nossas saídas de madrugada para encontrar sorvete em botecos? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone mesmo com as chaves? Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando pede que eu fique em casa mordendo o lábio de cima? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Ou quando fica bêbada e declara que está bêbada para eu me aproveitar? Será que é pelo sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos? Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo?

Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores, da segunda aliança que é um par de palavras. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações.

Será que é pelo seu medo de sangue? Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pela seus amores frustrados? Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair? Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo?
Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixo de amar.

Fabrício Carpinejar

07/10/2010

... caderno ...

«Eu, segurando o caderno e anotando frases,
limitei-me a registar as mudanças.

Fui uma sombra ocupada a registar sombras.

Mas como conseguir agora,
sem um eu,
sem peso e sem ilusões,
num mundo sem ilusões e sem peso?»
Palavras de Bernard
in As Ondas de
Virginia Woolf

... inspiração ...




... sinto, por vezes,
um temor espantado das minhas inspirações,
dos meus pensamentos,
compreendendo quão pouco de mim é meu...

fernando pessoa

28/09/2010

... alcance ...



“De todas as coisas que existem, algumas estão ao nosso alcance, e outras não. Estão ao nosso alcance: o pensamento, os impulsos, o querer e o não querer – em uma palavra, tudo aquilo cujo resultado são nossas próprias ações”.
“Mas existem coisas que surgem sem que possamos interferir. Neste caso, é preciso saber olhar – com sabedoria – o que se passa. O que perturba o espírito do homem não são os fatos, mas o julgamento que fazem a respeito dos mesmos”.
“Não peça que tudo na sua vida siga o caminho de sua vontade”.
“Reze para que as coisas aconteçam como elas precisam acontecer – e verá que tudo é muito melhor do que você estava esperando”.



( Epicteto )

10/09/2010

... conseguiremos ? ...


"Para entender o coração e a mente de uma pessoa,
não olhe para o que ela já conseguiu,
mas para o que ela aspira."
(Khalil Gibran)

08/09/2010

... a vida real de um pensamento ...

(sim... penso em ti)
A vida real de um pensamento dura apenas até ele chegar ao limite das palavras: nesse ponto, ele lapidifica-se, morre, portanto, mas continua indestrutível, tal como os animais e as plantas fósseis dos tempos pré-históricos. Essa realidade momentânea da sua vida também pode ser comparada ao cristal, no instante da cristalização.

Pois, assim que o nosso pensamento encontra as palavras, ele já não é interno, nem está realmente no âmago da sua essência. Quando começa a existir para os outros, ele deixa de viver em nós, como o filho que se desliga da mãe ao iniciar a própria existência. Mas diz também o poeta:
Não me confundais com contradições!
Tão logo se fala, já se começa a errar.
Arthur Schopenhauer,
in 'Sobre o Ofício do Escritor

04/09/2010

...Tenta esquecer-me...


Tenta esquecer-me...


Ser lembrado é como evocar
Um fantasma... Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!


Mário Quintana

27/08/2010

... Deus é do Contra ...

Deus costuma usar a solidão
para nos ensinar sobre a convivência.

Às vezes, usa a raiva para que possamos
compreender o infinito valor da paz.

Outras vezes usa o tédio, quando quer
nos mostrar a importância da aventura e do abandono.

Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.

Às vezes usa o cansaço, para que possamos
compreender o valor do despertar.

Outras vezes usa a doença, quando quer
nos mostrar a importância da saúde.

Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar a andar sobre a água.

Às vezes, usa a terra, para que possamos
compreender o valor do ar.

Outras vezes usa a morte, quando quer
nos mostrar a importância da vida.
Fernando Pessoa

16/08/2010

... se me pudesses ver ...

hoje descobri que mais algém sente como eu e sendo assim, concordo cada vez mais com a inexistencia das verdades absolutas, e consequentemente discordo cada vez mais, com a existencia das mentiras absolutas

"nós" existimos - pode ser passado / pode ser presente - mas não é mentira 

je

se me pudesses ver
aqui sentada defronte da noite
dobrada sobre a música
roendo as unhas
sussurrando palavras ocas

tão infantil
sisuda
crescida
miuda
adolescente
vingativa
puta
sereia
serpente
rente ao chão
ferida
altiva

mulher de ninguém
pradaria
espiga
minha
mulher de todos os que nunca serão demais
para apagar o horror de pensar
infinita
seca
farta
cheia de memórias cruéis
faca
se me pudesses ver agora
ou mudarias tudo ou tudo era mentira.
isabel mendes ferreira
in, canto chão

29/07/2010

... É possível ...



É possível falar sem um nó na garganta, é possível amar sem que venham proibir, é possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão, é possível viver sem que seja de rastos.Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece dizer não, grita comigo: não.
É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor. É possível o pão. É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre,
O Canto e as Armas

12/07/2010

... o poço...

Neruda faria hoje anos...


Cais, às vezes, afundas em teu fosso de silêncio, em teu abismo de orgulhosa cólera, e mal consegues voltar, trazendo restos do que achaste pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras em teu poço fechado? Algas, pântanos, rochas? O que vês, de olhos cegos, rancorosa e ferida?

Não acharás, amor, no poço em que cais o que na altura guardo para ti: um ramo de jasmins todo orvalhado, um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias de novo em teu rancor. Sacode a minha palavra que te veio ferir e deixa que ela voe pela janela aberta. Ela voltará a ferir-me sem que tu a dirijas, porque foi carregada com um instante duro e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri se minha boca fere. Não sou um pastor doce como em contos de fadas, mas um lenhador que comparte contigo terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri e me ajuda a ser bom. Não te firas em mim, seria inútil, não me firas a mim porque te feres.

Pablo Neruda,
O poço

06/07/2010

...identidade...

"O sofrimento é o nosso meio de vida porque é o único meio através do qual temos consciência de existir, a lembrança dos sofrimentos passados nos é necessária como um testemunho, uma prova de que continuamos a manter a nossa identidade." 
Oscar Wilde

22/06/2010

...do nada...


Todos os dias me é tirado o que um dia me foi dado. Todos os dias transpiro para me descobrir e nunca chego a tempo de partir. Cria abandonada, antes mesmo de nascer. O ninho caído, desfeito num anoitecer que a luz foi sempre miragem. Só a noite, toda a noite minha imagem, reflectida numa qualquer ausência. Noite após noite, sem clemência a apontar-me o dedo, a alimentar-me o medo. E eu que chorei para não ser eu, vi as minhas lágrimas tão perto do céu. Caí junto com a chuva, encoberto de mim, nunca estive tão longe… nunca estive tão perto... Todos os dias me é dado algo, que um dia me foi tirado. Todos os dias respiro a minha alma e nunca chego a tempo de nada…

jorge antunes

21/06/2010

... meu rico amor ...




... O mais seguro crédito de quem ama, é a confissão da dívida no amado; mas como há-de confessar a dívida, quem a não conhece? Mais lhe importa logo ao amor o conhecimento que a paga; porque a sua maior riqueza é ter sempre individado a quem ama. Quando o amor deixa de ser credor, só então é pobre. Finalmente, ser tão grande o amor que se não possa pagar, é a maior glória de quem ama ...

antónio vieira

... O sentido ...

... a propósito dos pormenores que interpretamos, nao serem a maior parte das vezes coincidentes, entre o que tu e eu vivemos, vimos, lemos, escrevemos, dizemos, observamos, em cada situação e/ou alguém observou disse, escreveu, leu, viu ou viveu, sobre a mesma matéria, o mesmo acontecimento, a mesma circunstãncia, mesmo que noutro espaço, noutro tempo, ou ali mesmo a nosso lado... 
malu


Não há verdadeiro sentido de um texto. Não há autoridade do autor. Quisesse dizer o que quisesse, escreveu o que escreveu. Uma vez publicado, um texto é como um aparelho de que cada um se pode servir à sua maneira e segundo os seus meios: não é certo que o construtor o use melhor do que outro qualquer.

Paul Valéry,
in 'A Propósito do Cemitério Marinho'

16/06/2010

... cura ...


"As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz."


(Machado de Assis)

15/06/2010

... sina ...


...Vas a vivir dos vidas, no una sola. Te vas a casar, harás hijos... pêro distintos. Vas a viajar... muy lejos. Vas a amar, muchísimo, vas a sufrir y harás sufrir. Al final, te perderás, te encontrarás, no sabría decirlo, pêro la decisión será tuya. El camino lo harás tú...

la ciganita

08/06/2010

... fazes-me bem ...

"Faz-me bem apanhar vez ou outra a chuva da vida."

(Henry Longfellow)

Chovia miudinho... um frio de cortar e o mar ali, sózinho... no meio das flores, da areia negra que chamam de terra de jardim... no meio do dia, no meio do trabalho de contar e verificar espécies  e mais espécies de plantas, arbustos, e herbácias tão pouco  de diferenças identificáveis que, até parecia uma missão impossivel... e, o vento parou a minha atenção... o cheiro da natureza nas minhas mãos levou o meu pensamento até ti... e confirmei que estás em mim ...

(Marta Luis ) 
Hoje na Praia de Paredes de Vitória

23/05/2010

... até sempre amigo ...

1967 - 2010

Quando a noite cai, e tu nao estás mais uma vez,
O mundo para nesse instante, chegou a hora dos porquês,
Tento resistir, a dor que aperta o coracão,
Mas nem mesmo assim, me convenco da razao...

A noite ja la vai e a dor nao terminou,
E até a lua que era amiga se mudou,
Só ficou aquela estrela que estará sempre comigo,
Sei que quando todos fogem tenho sempre este porto de abrigo...

Porto de abrigo, onde sempre quero estar,
Sei que contigo ninguem me vai magoar,
Só tu sabes criar, toda esta ilusão,
Por ti terei o mundo na minha mão...

Agora quando a noite cai, ja nao importa onde estás,
A minha estrela ilumiou-me, fez-me sentir que não mudarás,
Já não há dor para resistir, história de amor ou ilusão,
Esta farsa terminou, já sou dono da razão...

21/05/2010

... A paisagem ...


Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.

fernando pessoa
in, 'Cancioneiro'
Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas

19/05/2010

...luz...

...vem, porque eu ainda vivo à espera que chegue mais um dia...

"...Abre-me o sonho.
Para a loucura a tenebrosa porta,
que a treva é menos negra que esta luz."

fernando pessoa

10/05/2010

... sempre a inconstância ...


Os que se exercitam a prescrutar as acções humanas, em coisa alguma se acham tão embaraçados como em conjugar umas com as outras e mostrá-las à mesma luz, pois comummente elas se contradizem entre si de modo tão estranho que parece impossível terem todas saído da mesma loja.

(...) Alguma razão parece haver no julgar um homem pelas mais comuns acções da sua vida, mas, atendendo à natural instabilidade dos nossos costumes e opiniões, amiúde se me tem afigurado que mesmo os bons autores erram ao obstinarem-se a conceberem-nos como um todo coerente e constante. Escolhem uma imagem global, segundo a qual classificam e interpretam todas as acções da personagem, e quando não as conseguem conformar a ela, atribuem-nas à dissimulação.

(...) O nosso procedimento habitual é seguir as inclinações do nosso desejo, para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo, para onde quer que nos empurrem os ventos das circunstâncias. Não pensamos no que queremos senão no instante em que o queremos, e mudamos como o animal que adquire a cor do local onde o pousam. O que agora mesmo acabámos de projectar, em breve o viremos a alterar, e, pouco mais tarde, voltaremos sobre os nossos passos: tudo não é senão oscilação e inconstância.


Michel de Montaigne,
in 'Ensaios - Da Inconstância das Nossas Acções'

01/05/2010

...tudo é fugaz...


Considera com frequência a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substância, como um rio, está em perpétuo fluir, as forças em perpétuas mudanças, as cuasas a modificarem-se de mil maneiras; apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some. Como não há-de ser louco o homem que, neste meio, se incha ou se encrespa ou se lamenta, como se qualquer coisa o tivesse perturbado durante um tempo que se visse, um tempo considerável?

Marco Aurélio
(Imperador Romano),
in "Pensamentos"

29/04/2010

...certo...


"Sua jornada moldou você para seu bem maior, e foi exatamente o que precisava ser. Não pense que você perdeu tempo. Não existem atalhos para a vida. Foi necessária cada e toda situação que você encontrou para trazê-lo para o agora. E agora é o momento certo."

(Asha Tyson)

27/04/2010

...sentidos...

quero você
Não quero seu sorriso
Quero sua boca
No meu rosto
Sorrindo pra mim

Não quero seus olhares
Quero seus cílios
Nos meus olhos
Piscando pra mim

Transfere pro meu corpo
Seus sentidos
Pra eu sentir
A sua dor, os seus gemidos
E entender porque
Quero você !

Não quero seu suor
Quero seus poros
Na minha pele
Explodindo de calor.

(zélia duncan)

23/04/2010

...andorinha ferida...


Porque andas tu tão alegre quando eu me sinto triste, desesperadamente triste? Custa tanto ser desprezada quando se tem a consciência imaculada, como um arminho que coisa alguma fosse capaz de manchar! Custa tanto! Passo as noites e os dias na mesma ânsia febril, na mesma indecisão de farrapo ao vento, no mesmo não saber o que quero, o que hei-de pensar, o que hei-de, o que devo fazer. Tenho um culto pela minha dignidade de mulher, tenho o orgulho, o santo orgulho de ser sempre a mesma criatura que a vida, tão cheia de lama, não conseguiu salpicar. E assim, tudo em mim são sombras, indecisões, murmúrios, coisas que não entendo bem, que não distingo bem. Amigo, compreende-me e sente que eu não estou, que eu não posso estar alegre. Olha a minh'alma como se ela fosse uma pobre andorinha ferida que batesse as asas desesperadamente. Tenho medo, medo do futuro, medo do mundo, medo da vida que foi sempre má para mim. Tenho visto sempre a felicidade correr-me por entre os dedos como água límpida que coisa alguma sustém; tenho visto passar tudo, morrer tudo em volta de mim, como fantasmas que passassem ao longe, numa estrada cheia de sombras. E era tão bom ser feliz! Se eu pudesse algum dia ser um bocadinho feliz! Encostar a minha cabeça ao teu ombro, sorrir-te com os meus olhos que têm sido sempre tão tristes! Contar-te tudo, dizer-te tudo, mostrar-te o meu coração aberto de par em par como uma janela enorme que o luar iluminasse, que o luar vestisse de branco! Sentir-te os passos e correr para ti, com as loucas saudades dumas horas que tivessem sido anos! Tudo isto, tudo isto eu queria enfim, toda esta ternura eu queria enfim que me envolvesse como um perfume violento que me embriagasse. Tu andas contente e andas contente porquê?! Tu não vês, não sentes que não é possível a felicidade assim completa, absoluta como nós a queremos? A vida não é a imaginação, não é a fantasia, não é o sonho, a vida tem coisas a que nós temos de olhar e que são tão feias e tão más! Faz-me mal, às vezes, a tua alegria, como se ela fosse um sacrilégio. Ampara-me, ensina-me a crer, a ter confiança, diz a verdade mas a verdade que seja boa que me não faça chorar como esta verdade que eu trago dentro de mim como uma chaga a doer sempre. Entremos na vida e não sonhemos. Vamos os dois encarar de frente sem medo e sem cobardias a vida tal qual ela é para nós. Não façamos, pelo amor de Deus, castelos no ar que eles caem sempre e eu sou, infelizmente, da natureza das heras que se agarram com ânsia a todas as ruínas por tristes e escuras que sejam. Não me digas nada que não tenhas a certeza, a absoluta certeza de poder realizar, na minha, na nossa vida.

 
Florbela Espanca,
in "Correspondência (1920)"

21/04/2010

... Glória ...


O que une uma mulher a um homem não passa por nada do que aparentemente vale. Passa por onde? Não, não: pode não ser por aí, embora seja fundamentalmente por aí. Porque mesmo aí outros poderiam cumprir melhor, com o acréscimo do resto. Há uma falha (uma falta) essencial na mulher que só um certo homem pode preencher. E não é necessariamente essa. O mais misterioso no domínio das relações é o que se situa nas relações amorosas. Ou seja no que há de mais íntimo, essencial, primeiro do ser humano. Um labregório qualquer, torto, bronco, cabeçudo, pode ser amado pela mulher mais divinal e inteligente e ilustrada e refinada de figura. Haverá, pois, para o homem dois mundos que não comunicam entre si e que se separam na porta do quarto. Poucos são os que a atravessam em glória — idos da rua ou para a rua.
Vergílio Ferreira,
in 'Conta-Corrente 1'

15/04/2010

... Contrariamente ...

será que esta mensagem deve ler-se ao contrário ou conforme disposta?... será que de trás pra frente fará mais sentido ? a mim apenas ouvi dizer-me ... segue o teu coração e não julgues, apenas por tudo o que lês, tudo o que vês, tudo o que ouves, tudo o que não sabes...
Não te amo mais

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis

Tenho certeza que

Nada foi em vão

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada

Não poderia dizer mais que

Alimento um grande amor

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

Eu te amo!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais...

Clarice Lispector

06/04/2010

... gosto de te ouvir...



Gosto de saber que falas
sem ocultar as paredes rachadas da tua alma.
Quando me dizes bom dia, gosto de ti
...
Não deixes de falar.
Não cales o teu espírito.
Faz-te ser quem és.
...
E a mim... nem sei.
Perdi-me em pensamentos
enquanto te escutava.
maria josé in,

...porque amam...


"As mulheres não adoecem mais facilmente no território da emoção por serem mais frágeis do que os homens, como sempre acreditou o machismo que reinou durante milénios. Exceptuando as causas metabólicas, elas adoecem em maior número porque amam, dão-se, entregam-se e preocupam-se mais com os outros do que os homens. Além disso, frequentemente são mais éticas, sensíveis e solidárias do que eles. Elas estão na vanguarda da batalha da vida, por isso, estão mais desprotegidas. Os soldados na frente da batalha têm mais hipóteses de serem alvejados."
augusto cury in,
a saga de um pensador

27/03/2010

... deixa-me conhecer-te...


A antecipação de um lugar ou de alguém, será sempre um fenómeno efémero face à realidade encontrada desse acontecimento antecipado.

Se por um lado a nossa imaginação constrói imagens mais perfeitas que a realidade, a continuidade do tempo e espaço do real, confrontado com o que dele esperámos tornam a nossas expectativas forçosamente imperfeitas e incompletas, quando finalmente se cruzam a antecipação e o real.

Por exemplo, idealizamos mundos perfeitos, quando confrontados com um folheto turístico de um ilha paradisíaca com palmeiras sob um pôr-do-sol em águas cristalinas. Contudo, essa idealização perfeita na forma, será imperfeita comparada com a realidade. Essa ilha será real: terá certamente pobreza, esgotos, buracos nas estradas, crimes e doenças tropicais….

O processo de conhecer alguém, sofre deste mesmo confronto do real com o imaginário. Criamos bonecos ou réplicas ideais onde afinal existem seres humanos complexos, com os seus medos, complexos, sentimentos, defeitos e virtudes e tripas e dores físicas, e coração e alma.

Dependerá de nós a escolha de ver nos outros, o boneco que deles idealizámos ou por outro lado procurar o ser vivo que existe para além do que os nossos olhos conseguem ver …

Doll or a girl
publicado por MarioG

24/03/2010

...o amor é ter medo e querer morrer...




"fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer... o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos... o amor é ter medo e querer morrer."

de, José Luís Peixoto
in A Criança em Ruínas

(ainda bem que alguém consegue escrever o que eu por mais que o faça não consigo exprimir... é desconcertante, ler e identificarmo-nos tanto com o que ali está... por isso sou menos que fã, e mais que admiradora... sou peixoto inteira... obrigado josé luis por partilhares o que a tua alma tem de comum com a minha. sinto-me menos desigual quando te leio...)

23/03/2010

...no fim...


Hei de morrer em súplica, plantado a teus pés,
no fim de uma vida inteira regada com as nossas lágrimas.

...não vás...


...Vais tão depressa...
...nem vais conseguir perceber o que ficou para trás...

22/03/2010

... hoje ...

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;

Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
contrariedades
no livro de Cesário Verde