
Pois então. Estamos todos na  mesma encruzilhada e chove em todos os cantos da estrada, mesmo que se mude a  direção. Pois então, eu quero que você me deixe só, só sendo. Não tenho energia  agora para dar respiração a qualquer frase. Não é que eu esteja numa má fase,  mas me veio um choro antigo, mal digerido, uma lembrança sem cor. Estava  guardado, eu sei, num pedaço qualquer de um restinho desbotado de amor. Deixa só  eu limpar essas lágrimas, clarear minhas retinas, desengasgar essa bolha de  águas salgadas. Só estou desembaraçando os sentimentos que ficaram órfãos de  mim. Preciso explicar a eles que não sou mais parceira_sou agora herdeira da  sorte, achei o meu norte, os pontos dos sins. E por mais que eu amoleça não se  aproxime: eu não quero abraços, eu não quero conselhos. Engatinhei demais em  cima da brita durante os meus aprendizados, só eu consigo enxergar as feridas e  o cuidado que preciso dar para curar os meus dois joelhos. Vá cuidar das suas  coisas, embeleze sua rotina_ há tempos eu te digo que estar sozinha, às vezes, é  minha necessidade e minha sina. Guarde seu colo, seu consolo, suas palavras  bonitas. Me deixe só, com o meu choro.Não estou triste nem aflita. Mas preciso  descobrir como desatar isto que surgiu sem motivo,desatar este nó. Não há “nós  dois” agora, neste fim de dia. Amanhã, quem sabe, eu precise ou queira sua  companhia. E te trago de volta, te abro a porta, te abraço pra sempre, assim,de  repente. Mas hoje meu corpo clama somente por mim mesma:quero apenas o meu copo  em cima da mesa, quero somente meu fiapo de domingo adormecendo aqui.
Quero a minha cama larga só  pra mim.
 
 
Marla de Queiroz