23/05/2010

... até sempre amigo ...

1967 - 2010

Quando a noite cai, e tu nao estás mais uma vez,
O mundo para nesse instante, chegou a hora dos porquês,
Tento resistir, a dor que aperta o coracão,
Mas nem mesmo assim, me convenco da razao...

A noite ja la vai e a dor nao terminou,
E até a lua que era amiga se mudou,
Só ficou aquela estrela que estará sempre comigo,
Sei que quando todos fogem tenho sempre este porto de abrigo...

Porto de abrigo, onde sempre quero estar,
Sei que contigo ninguem me vai magoar,
Só tu sabes criar, toda esta ilusão,
Por ti terei o mundo na minha mão...

Agora quando a noite cai, ja nao importa onde estás,
A minha estrela ilumiou-me, fez-me sentir que não mudarás,
Já não há dor para resistir, história de amor ou ilusão,
Esta farsa terminou, já sou dono da razão...

21/05/2010

... A paisagem ...


Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.

fernando pessoa
in, 'Cancioneiro'
Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas

19/05/2010

...luz...

...vem, porque eu ainda vivo à espera que chegue mais um dia...

"...Abre-me o sonho.
Para a loucura a tenebrosa porta,
que a treva é menos negra que esta luz."

fernando pessoa

10/05/2010

... sempre a inconstância ...


Os que se exercitam a prescrutar as acções humanas, em coisa alguma se acham tão embaraçados como em conjugar umas com as outras e mostrá-las à mesma luz, pois comummente elas se contradizem entre si de modo tão estranho que parece impossível terem todas saído da mesma loja.

(...) Alguma razão parece haver no julgar um homem pelas mais comuns acções da sua vida, mas, atendendo à natural instabilidade dos nossos costumes e opiniões, amiúde se me tem afigurado que mesmo os bons autores erram ao obstinarem-se a conceberem-nos como um todo coerente e constante. Escolhem uma imagem global, segundo a qual classificam e interpretam todas as acções da personagem, e quando não as conseguem conformar a ela, atribuem-nas à dissimulação.

(...) O nosso procedimento habitual é seguir as inclinações do nosso desejo, para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo, para onde quer que nos empurrem os ventos das circunstâncias. Não pensamos no que queremos senão no instante em que o queremos, e mudamos como o animal que adquire a cor do local onde o pousam. O que agora mesmo acabámos de projectar, em breve o viremos a alterar, e, pouco mais tarde, voltaremos sobre os nossos passos: tudo não é senão oscilação e inconstância.


Michel de Montaigne,
in 'Ensaios - Da Inconstância das Nossas Acções'

01/05/2010

...tudo é fugaz...


Considera com frequência a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substância, como um rio, está em perpétuo fluir, as forças em perpétuas mudanças, as cuasas a modificarem-se de mil maneiras; apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some. Como não há-de ser louco o homem que, neste meio, se incha ou se encrespa ou se lamenta, como se qualquer coisa o tivesse perturbado durante um tempo que se visse, um tempo considerável?

Marco Aurélio
(Imperador Romano),
in "Pensamentos"