22/06/2006

...Solidão...

Há conjuntos, arranjos, cordilheiras soltas de palavras, saídas de pensamentos de outrém, que nos intimidam...a mim pelo menos...Faz-me espécie como há coisas, que ao ler, me parecem tão familiares, como que se escritas por mim... Não serão afinidades, não serão coincidências, serão realmente palavras que sairam de nós, e algures num ponto incerto alguém as escreveu, para nos dar a ler, nesta altura, nesse momento em que as lemos de nós, para nós...só pode !

Descubro cada coisa, que não me espanta, não me arrepia, não me assusta por tanto me parecer minha...apenas me consola...porque se há alguém capaz de sentir tão próximo ao que eu sinto, então, a palavra solidão, para mim, deixa de fazer sentido.

Nunca estamos sós, hoje e depois de pensar que tanta solidão já senti, tenho a certeza disso.

Este pensamento, este poema que aqui transcrevo, é um dos exemplos desta minha constatação de hoje:

"Solidão"

"...
Estou só Senhor
Estou sempre só de tudo o que me rodeia.

Só no meio da multidão
Mas sobretudo estou só do Mar
Que me dá vida e do
Sol que me dá calor
Só! só da família que me criou
Só! só do cheiro dos pinheiros e
Dos eucaliptos
Da maresia e
Da terra lavrada

Estou só Senhor
Mas sobretudo estou sempre só
Quando algo me faz o
Coração chorar e a
Alma se escurece

Só! quando de pés e mãos atado
Não consigo dar um passo
Só! só nas grandes e pequenas caminhadas
Nas grandes e pequenas decisões

E até só! nas grandes e pequenas encruzilhadas

Onde a vida e a morte se espreitam
E onde tudo oque sou
Está fente a frente
Com aquilo que eu não sou.

Onde o que eu posso ser
O que eu sou realmente
O que eu julgo ser
O que eu sou visto ser
Se encontram num só ser
Dando-me este sentir
De imensa solidão
Que até julgo sentir que
De ti Senhor tambem

ESTOU SÓ
..."

O autor poderia ter sido eu aqui e agora, mas não,

estas palavras foram escritas por
Afonso Almondino da Silva,
em Toronto a 12 Maio 1986

Marta Luis