29/03/2006

“Não somos máquinas”...

Podia dar-me para pior…!!!

…Mas não…dá-me para ficar a sofrer com as palavras, que os outros não sabem escolher…!!!
São sempre aqueles de quem mais esperamos, que mais nos decepcionam…é a lei da vida…mas é deveras cruel, de cada vez que acontece.

Podia dar-me para ignorar os que não me compreendem, para passar àquela fase em que, nada nem ninguém mais, vai me abalar… mas não; …dá-me sempre para tentar ainda explicar uma vez mais, de outra forma, para ver se é desta que me faço entender, e lá vem aquele efeito inverso da conversa:
Quanto mais simples o assunto, mais complicado é de explicar.
Quanto mais límpida a minha visão da “coisa”, mais distorcida parece aos olhos de quem “a” não quer ver…
É realmente difícil, falar comigo, quando não se quer falar comigo, ou ouvir também, já agora…Sou realmente uma pessoa um tanto peculiar, quando não querem que seja uma pessoa, apenas uma pessoa, igual ás outras.

Mais, para quem trabalha em comunicação, não será novidade assumir que, a falta dela, está sempre no receptor…ou seja, poderá o emissor esforçar-se exaustivamente por tentar passar uma mensagem que, ela, a mensagem, só chega, se o receptor estiver ligado, diga-se, receptivo a essa mesma mensagem, interessado, aberto…porque, se assim não for a ideia, foi para o boneco é que passou.
É como estar a olhar e não ver, estar a comer e não saborear, estar a acenar que sim com a cabeça e estar a não compreender nada de nada… acontece.
Acontece em inúmeros casos, mas só magoa, quando naqueles que menos prevíamos.

É suposto, daqueles com quem alguma afinidade encontráramos um dia, até esperarmos que esse entendimento perdure, mas também é verdade que, nada é assim tão linear, e é possível, tempos depois julgarmos que estamos a falar e, que nos estão a ouvir, e afinal, o boneco mais uma vez é que lá estava, como receptor da nossa atenção e dedicação.

“Não somos máquinas”, mas cada vez mais as reacções ao que nos é contrário são maquinais.
Eu, sim eu, não sou nenhuma tábua rasa… mas são raras as vezes em que alguém me convence, a mudar de ideia.
Sou tão ou mais exigente com os outros do que comigo própria e, saio magoada a maior parte das vezes, porque são escassas as pessoas que já encontrei capazes de uma atitude à minha altura.

Sou adepta da evolução, e da mudança, … aliás, concordo com a máxima de que, para melhor, muda-se sempre… mas, deixam-me de rasto as atitudes daqueles que, se acham muito à frente, e, acabam por ser mais conservadores e retrógrados do que imaginam.

Tudo isto para dizer que; ás vezes, mais vale estar calado do que a falar para o boneco, coisa que toda a gente sabe mas, que aqui a boneca teima em tentar inverter, e sofre, de cada vez que se cala…

Tenho dito.

03/03/2006

A Distância ... também traz felicidade.

A distância... será sinónimo óbvio de afastamento, de longevidade, de cura, de presa...dependendo do quê se dista do quê.

"O Tempo tudo apaga, tudo esquece, tudo cura" diz o povo...

Sim, a distância temporal assim funciona.


A distâcia geométrica também demora, dói, mas afasta sim, diluí...

Ainda há 3 dias, tentava eu compilar alguns pensamentos que tenho escritos, para aqui inserir neste blog, quando me dei a avaliar a distância de sentimentos que agora me provocam esses ditos...


Quando se sente é tão profundo, e quando passa o tempo, a vida, torna tudo tão mais distante, no verdadeiro sentido da palavra, tão mais afastado daquilo que era quando começou a ser. E nem por isso naquela altura em que aconteceu deixou se ser o mais importante, o de maior relevo daquela passagem da minha existência...e caminhados alguns tempos, essa distância que nos separa, torna cada palavra, cada lágrima, tão menos dolorosas, que parecem perder importância, na cascata de situações entretanto e posteriormente vividas....
Alguém já me fez acreditar nessa frase feita de que, realmente: "as coisas não são como começam, ...são como acabam!"; e é sem dúvida a distância, seja ela medida em que parâmetros for, que faz as coisas.


Há alguns anos atrás nada era mais importante do que eu, para mim, depois os outros, agora...nada mais é importante que o meu filho, que a saúde da minha mãe, do meu marido, que a paz de espírito do meu pai ou o bem estar da minha sobrinha.
Há quase uma década entrei para a função pública a pensar que iria conseguir remar contra a maré, e iria contribuir para mudar o estado das coisas menos bem...e hoje tenho a certeza que tudo está pior, e nada pude fazer para travar mais essa bola de neve, que até já nem me abala assim tanto. Não me acomodo, aprendo a filtrar e a distanciar-me, sendo uma forma de crescer com o sofrimento e, uso-o como volante.


A vida, aproxima-nos do que nos pode servir de muleta, enquanto a relatividade distancia-os das opções que fazemos. Sim ... penso que a distância faz todo o sentido como filosofia, como pauta, como conselheira.


Ainda então há dias era importante para mim, criar este espaço para depositar aqui os meus poemas, as minhas recaídas como sofredora nata, e hoje estou a divagar na distância que percorri desde então até ora, e nas voltas que esta vida dá, no buraco em que me escondi, para fugir de mais uma crueldade deste mundo, que é muito mais importante de reflectir do que esses sentimentos só meus.
Dia 1, duas e meia da tarde, uma mãe vai ao café com sua filha, e brinca com as amigas na conversa...ás 3 da tarde desse mesmo dia, estava morta...foi um ataque de coração. Um marido despedaçado, e 3 filhas ainda nem acreditam no que aconteceu. De noite vou ao velório, apresentar as minhas condolências à familia.
Dia 2, 3 e meia da tarde, o enterro que acompanhei com minha mãe ao lado, e com o coração apertado, destroça.me e sinto-me pequenina pondo-me no lugar daquelas filhas agora orfãs, posição que sei que não iria aguentar. E tudo isto acontece mais ou menos distante de mim agora, ou depois, e na brevidade de um instante muda sem eu querer, as prioridades do meu coração, roubando-me a liberdade de escolher, com o quê sofrer...e transforma um dia pleno de felicidade numa angustia maior.
Dia 3, são 23 e 40, e vejo-me distante...já não sei o que é importante ou não.


Sendo este um blog pessoal, assumo que é dos meus sentimentos que escrevo, e não do mundo ou da comunidade, ou para o mundo, ou para a comunidade.
Sendo que o mundo chora e ri, com males e bençãos bem mais significativas para a grande esfera... não sei chorar ou rir com o resto do mundo, quando o meu pequeno e insignificante perímetro sentimental está desnorteado.


Estou longe, transtornada, e realmente espero que a distância me devolva a alegria, depois de mais um dia, em que sobrevivo, e me regalo por saber que quando sofro sou a pessoa mais infeliz à face da terra, mas há tão próximo de mim sofrimentos tão mais válidos que o meu, que acabo por me sentir incomodamente feliz.