30/01/2011

...ignoraria tudo...


A entrada na vida é inocente, por isso então é pura a alegria; a continuação da mesma vida é vaidosa, por isso a alegria então é imperfeita. Nos primeiros anos vemos as cousas como elas são, depois vemo-las, como os homens querem, que elas sejam; em um tempo a alegria só depende de nós: depois também depende dos outros; naquela a alegria vem de uma natureza ainda ignorante, e sem vaidade; depois procede de uma natureza já instruída, e por consequência vaidosa. Que cousa é a ciência humana, senão uma humana vaidade? Quem nos dera, que assim como há arte para saber, a houvesse também para ignorar; e que assim como há estudo, que nos ensina a lembrar, o houvesse também, que nos ensinasse a esquecer.
Matias Aires,
in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'

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