22/06/2010

...do nada...


Todos os dias me é tirado o que um dia me foi dado. Todos os dias transpiro para me descobrir e nunca chego a tempo de partir. Cria abandonada, antes mesmo de nascer. O ninho caído, desfeito num anoitecer que a luz foi sempre miragem. Só a noite, toda a noite minha imagem, reflectida numa qualquer ausência. Noite após noite, sem clemência a apontar-me o dedo, a alimentar-me o medo. E eu que chorei para não ser eu, vi as minhas lágrimas tão perto do céu. Caí junto com a chuva, encoberto de mim, nunca estive tão longe… nunca estive tão perto... Todos os dias me é dado algo, que um dia me foi tirado. Todos os dias respiro a minha alma e nunca chego a tempo de nada…

jorge antunes

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